segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Porto Feliz – 1860-1861



Porto Feliz – 1860-1861 (*)




"A cidade está edificada à margem esquerda do rio Tietê e tem a forma de uma guitarra. A sua rua principal é chamada de SOROCABA, por se entroncar com a estrada que vem deste município, e as outras, além de pequenas, são pouca importantes pelas suas construções, e ainda menos pelo seu tráfego.
Aqui existiu primitivamente uma aldeia de indíos Guaianazes, a que davam o nome de Araritaguaba, que significa ARARA QUE COME PEDRA, em virtude de um singular paredão que existe à beira do rio.
Foi elevada a vila esta povoação em 1797, sendo governador de S. Paulo Antonio Manuel de Melo Castro e Mendonça, segundo afirma Milliet: e, há pouco, por uma lei provincial foram concedidos os privilégios de cidade.
O seu comércio é muito insignificante, pois apenas existem aqui algumas tabernas, e poucas lojas de fazendas e armazéns.
A população deste distrito, que já foi de 10 a 11.000 almas, está hoje reduzida a 7.000, sendo 5.000 livres e 2.000 escravos.
A matriz, com a invocação de Nossa Senhora Mãe dos Homens, é um templo superior ao estado de decadência do lugar; mas parece que vai sofrendo da mesma doença, pois as suas torres ameaçam ruína. A capela‑mor, no entanto, foi pintada e dourada há poucos anos pelo Sr. Miguel Arcanjo Benício Dutra, notável artista ituano. A casa da Câmara e cadeia é um edifício pouco importante.
A colocação pitoresca da cidade, o ameno e sadio clima do lugar, o caráter bondoso e hospitaleiro de seus habitantes, a fertilidade dos terrenos, que produzem café, cana, aguardente, algum chá e fumo, parece um conjunto de circunstancias favoráveis para o estabelecimento e progresso de um núcleo de população interior. Não tem, todavia, acontecido assim.
Acreditamos, por consequência, que, entre as causas do seu atraso, além da primeira, que é a falta de braços, se deve assinalar, como uma das mais dignas de atenção, a nova direção que tomaram às monções para Cuiabá e Mato Grosso, que dantes se faziam por este porto e seguiam pelo rio Tietê''.

(*) Auguste Emílio Zaluar ‑ PERIGRINAÇÃO PELA PROVÍNCIA DE SÃO PAULO (1860‑1861), São Paulo, Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1944 ‑Biblioteca Histórica Paulista, II)

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