sexta-feira, 22 de abril de 2016

Rua Newton Prado inicio do século 20...era conhecida como rua Sorocaba

Estadão -Fóssil à deriva ....Christian Carvalho Cruz, de PORTO FELIZ

18 Setembro 2010 | 16h 00 - Atualizado: 18 Setembro 2010 | 11h 26
Fantasmas, diamantes e borrachudos no resgate de um batelão em Porto Feliz

Entretanto, foi assim que sucedeu. Vinha o Pantaneiro por aquele sertaozão de Deus-abençoe, mato fechado e fresco, depois de desbarrancar do calor da estrada de terra para a beira do riacho. Vinha de sola nua, porque é assim que desde criança ele gosta de andar. Andar para nada, só andar. A água dava no joelho, e o Pantaneiro pôde entrar e ficar de pé lá no meio, só de calção, lançando a linhada aos lambaris. Em estreiteza, o ribeirão que chamam de Engenho D’Água, faz tempo assedentado por causa da estiagem, media uns cinco metros. Adiante e às costas, o leito cuspia as pedras lisas para os raios do sol alumiar. Seu menino de 16 anos nadava ali longinho, num pedaço mais fundo. E Nina, a mestiça de pastor belga com qualquer coisa, descansava na margem. Saíram de casa às 6 horas e ainda não passava das 9.
Nos antigamentes bem que o Pantaneiro respirou o ar do pantanal. Vinte anos atrás, quando contava 18, quis experimentar coisa outra que não fosse a fumaça do corte da cana, onde estreou os 9. Foi cheirar bosta de vaca em latifúndio. Mas o apelido veio mesmo da mania de se meter no mato e andar, andar, andar até cansar. E então voltar para casa, satisfeito com o corpo doído e varado por borrachudo. "Borrachudo é bom. Sacudo a árvore onde eles ficam só para levar picada. Porque depois tenho no que pensar - a coceira - enquanto não chega o dia de ir andar no mato outra vez." Na certidão esse é o Sidnei Aparecido de Souza. Mas ele tem pouco de Sidnei e muito menos de Aparecido. Cabra silencioso, pele e compleição de touro baio, na sua Porto Feliz (SP) natal ele é o Pantaneiro do posto de gasolina. Por R$ 1.000 e mais uma cesta básica por mês ele abastece, lava, alinha, balanceia, troca óleo e o que mais vier. "Sou que nem Bom Bril." Fez até a quarta série ali mesmo em Porto Feliz. Tivesse feito noutro canto essa história talvez não estivesse sendo contada.
Há mais de três séculos trepada numa colina na margem esquerda do Rio Tietê, a 117 km da capital, Porto Feliz era de onde partiam os bandeirantes atrás do ouro de Cuiabá, no século 18. Viagem de semestre inteiro, Brasil adentro, feita em canoas imensas cavadas em tronco único de peroba ou ximbaúva: eram os batelões, com seus mais de 10 metros de comprimento, 1,5 de largura, 1 de profundidade e 0,70 de espessura. Chamadas monções, as expedições fluviais com 300 batelões e 3 mil homens deixavam felicidade avantajada na partida e maior ainda na chegada, daí o Porto ser Feliz. Primeiro, gritava a festiva esperança de voltar rico. Depois, o contentamento de ter voltado é vivo, apesar das corredeiras e dos ataques de índios ao longo dos 3.500 quilômetros de rios. Todo porto-felicense, até os da 4ª série, conhece e tem orgulho danado de passado tão grande que ajudou a empurrar as fronteiras do País. O desenho do batelão está no brasão do município e na logomarca da prefeitura, na qual se lê: "Nossa gente faz história".
Naquele domingo no Engenho D'Água, porém, foi outra coisa que primeiro estalou na mente do Pantaneiro quando ele avistou metro e meio de tora perto de onde caiu a linhada. "Um cocho! Vou levar para a patroa plantar as plantas dela." A certeza se desmanchou assim que o Pantaneiro se aproximou e viu que, além do metro e meio aparente, tinha outro tanto dentro do barranco e mais um naco afundado no lodo do riacho. Pensou em batelão. Ele conhecia um, de ver nos livros, de tanto ouvir falar e, ora, de apreciar ao vivo e em cores. Afinal, o outro exemplar de batelão encontrado no Estado passou anos exposto no antigo porto, hoje Parque das Monções, a oito quilômetros dali. Batelão de respeito: 18 metros de comprimento, achado numa fazenda da região nos anos 30. Forte que só vendo, o bicho aguentou muitas outras décadas ao relento, com criancinhas dentro posando para foto e namorados canivetando corações. Parte dele chegou a ser exposta no Museu Paulista, da capital. E hoje, embora partido em dois, ele descansa no Museu das Monções, em Porto Feliz. Tem para lá de 200 anos.
Pois aquele pedaço de madeira velha deitado na margem bem que parecia um batelão, pensou o Pantaneiro. "Aí não sei o que me deu. Me deu um negócio que me puxou três noites seguidas para lá. Eu ia de farolete, sozinho, escavar para tirar ele dali. Usava uma enxadinha de pegar minhoca. Não conseguia pensar noutra coisa, aquilo não saía de mim. Parecia um chamado." Regina, a patroa que por pouco não ganhou um cocho histórico, ficava fula toda vez que via o marido chegar em casa imundo de terra. "Deixa disso, homem. Batelão é coisa de livro de escola. Não existe mais, não. Você está endoidando com essa história." Os companheiros de truco e fritada de lambari (ele pescou 125 no domingo) diziam o mesmo. "Pirou." Nos dias seguintes, no posto de gasolina, o Pantaneiro só queria que desse o fim do expediente para tocar pro ribeirão. Mas a força do "chamado" aumentava na mesma medida que a dos braços do Pantaneiro minguava. Sozinho ele jamais daria conta de exumar o tronco. Contou ao patrão, que avisou à Prefeitura e deu no que deu. O Pantaneiro pode ser o descobridor do segundo batelão oficial.
Pode, porque ainda não está confirmado que seja um batelão. Para Jonas Soares de Souza, historiador da região e sabido dos assuntos das monções, tem tudo para ser. "Ele possui todas as características de uma embarcação do período das monções, mas é preciso uma análise de especialistas para confirmar a antiguidade." Quiçá 300 anos. O prefeito de Porto Feliz, Cláudio Maffei, professor de história, diz que pediu os devidos estudos a arqueólogos da USP. E, enquanto os técnicos não vêm, ele mesmo vai se arriscando nas contas. "Uma das partes estava enterrada a mais de 2 metros de profundidade no barranco. Se pensarmos em 1 centímetro de sedimentos depositados por ano ali, temos mais de 200 anos." O que dá para saber com exatidão é o tamanho (8,40 metros de comprimento), o peso ( 2 toneladas) e, botando fé no Osmar da Silva - grande conhecedor de árvores e funcionário da prefeitura que cuida das 53 pontes de pau da cidade -, o tipo da madeira. Durante os trabalhos de resgate da embarcação, que consumiram três dias do empenho de 13 homens, um guindaste e uma bomba de sucção, fora as cordas e os cabos de aço, Silva arrancou uma lasca do barco, mastigou e vaticinou: "Peroba". Segundo ele, o amarguinho casado com a dureza é característica perobana. "Cambará e aroeira também são amargas, mas não viram ferro infinito quando são molhadas. Isso é coisa da peroba."
Mas se não for um batelão, o que pode ser? Talvez uma piroga, a canoa indígena também cavada em tronco só que serviu de inspiração aos antigos monçoeiros. Só que a piroga é mais rasa e mais estreita que um batelão. De modo que, sem o laudo dos arqueólogos, a peça encontrada pelo Pantaneiro pode ser tudo - um cocho descomunal, um batelinho ou até um pirogão. Cético de carteira assinada, o antiquário local, Rubens Castellucci, conta que só viu dois batelões em 82 anos de vida em Porto Feliz. E olha que ele rodou tudo por ali, fazenda por fazenda, atrás de antiguidades. "Tem o que está no museu e tinha um nas terras de papai, servindo a ração dos cavalos. Vendemos o lugar, não sei o que virou." O prefeito Maffei, que é do PT, prefere crer em luta de classes entre os viajantes do passado. "Vai ver os monçoeiros ricos tinham um batelão grande igual ao nosso primeiro, e os pobres tinham um batelão menor como esse do Pantaneiro."
Maffei abaixa a voz, olha de lado, se achega, e do bolso da camisa saca uma pedra. Translúcida, tem uns 2 centrímetros. "Não quero afirmar nada, mas isso aqui nós tiramos de dentro do batelão. Estava na parte da frente, a enterrada no barranco." Sério, o prefeito arranha o tampo de vidro da mesa com a pedra. "Está vendo? Ela risca o vidro. Não dizem que diamante risca o vidro?" Na falta de um joalheiro na cidade, a pedra é imediatamente levada ao Jânio Teixeira, relojoeiro. Ele põe a pedra sobre a bancada de luz, examina com a lente e, à la Osmar das pontes, vaticina: "Nada". Ele também não quer afirmar, mas, olhando assim de repente, parece nada. Não tem importância. Para muitos na prefeitura, juntando batelão e pedra, se tudo for somente um sinal de bom agouro já está de bom tamanho. Porto Feliz é candidata a cidade-base para a Copa do Mundo de 2014. Concorre com outros 50 municípios para hospedar uma das seleções que virão para o torneio. Quem sabe os espíritos dos bandeirantes estejam querendo dizer alguma coisa?
Assombração.
Ao Pantaneiro nada disseram, dois meses antes de ele encarar o batelão enterrado no riacho. Em verdade, era um só. O Pantaneiro estava a andar de novo com seu menino e a Nina, dessa vez ladeando um canavial pertinho de um braço do Tietê. Quando subiu a encosta e alcançou a picada, deu de cara com ele, a 20 metros de distância: um homem de 1,80 m, barba longa e escura, chapéu, bota, bacamarte e gibão. Se olharam por não mais que dez segundos. "Até que ele pinchou assim para as esquerdas e desapareceu no meio da cana." Foi até lá com a cachorra, que não farejou nada nem encontrou pegadas. O Pantaneiro desgosta de detalhar o causo, mas acha que há de ter união entre os dois acontecimentos - o batelão que ele viu primeiro e o bandeirante que ele viu sozinho.
Agora menos angustiado, o Pantaneiro ainda não reencontrou com o batelão desde o dia em que o tiraram do Engenho D’Água e o mergulharam no Rio Avecuia, dentro do Centro de Educação Ambiental da prefeitura. Foi recomendação de um restaurador, para não se correr o risco de o barco ressecar e esfarelar que nem paçoca. A zeladora do lugar, Lúcia Ferraz, deu para conversar com a embarcação. "Eu ficava sozinha o dia todo aqui. Depois que o batelão chegou sempre tem gente. Por isso vou lá, falamos, o chamo de Vossa Excelência." Submerso, amarrado em um mourão e cercado de curimbatás graúdos, o batelão não parece triste nem cansado. Diria o Pantaneiro que encontrou nova função. Sendo o Avecuia o manancial-mór da cidade, a gente de Porto Feliz, não bastasse fazer história, passou a bebê-la também.
Maestro Romário, figura humana e excelente músico tendo formado centenas de músicos e era operário da fábrica de tecidos.

Praça Lauro Maurino, praça da Câmara Municipal numa das festas das Monções nos anos 70.

Primeiro táxi de Porto Feliz, de Zé de Lúcia, em 1933, segundo foto de Emílio Coli

Porto Feliz crônica de uma época 1957

Relembrando o passado (*)


Porto Feliz, município rico e próspero em passadas eras, nos primórdios da sua fundação, isso devido ao intercâmbio comercial que então mantinha com a longiqua Cuíaba, por íntermédio das famosas monções reiunas que singrando o outrora caudaloso Anhemby, enveredando para o sertão desconhecido, os componentes destas após enfrentar grandes perigos, atingiam a cobiçada Meca de ouro, cujo metal, segundo consta, afluía a flor da terra.
Essa a razão pela qual foi tido como o ninho dos bandeirantes e, dêsse sequito de desbravadores descende a famllia paulista hoje dispersa por todos os recantos do Estado, cujos ancestrais teem o nome ligado com a história da lendária Araritaguaba.
Fonsecas, Fernandes, Portelas, Carvalhos, Arrudas, Florianos, Correas, Sampaios, Paula Leite, Goés e muitas outras foram as famílias que cooperaram para o engrandecimento de Porto Feliz, nos idos tempos em que a cidade chegou possuir perto de dois mil prédios, alguns de construção avantajada, como esse onde funciona o atual Grupo Escolar Coronel Esmédio.
Seu território, que abrangia até o sopé da serra de Botucatu, foi povoado por grande número de latifundiários, formando grandes fazendas onde predominou a cultura de cana de açucar da qual se utilizavam como matéria prima para a fabricação desse produto, com os antigos engenhos rudimentares, hoje completamente extintos, pois os atuais se dedicam exclusivamente no fabrico da aguardente.
Além da cana de açucar também foi cultivado em larga escala o algodão, fumo e cereais, cuja produção superava as necessidades do municipio, sendo o excedente exportado para os demais centros, utilizando como meio de transporte as célebres tropas de muares.
Esse progresso teve larga expansão até a extinção das monções segundo consta no ano de 1828, fato esse que contribuiu para que a cidade ficasse privada dos proventos que auferia como entreposto comercial utilizado pelos antigos bandeirantes.
Foi justamente nessa época que a cultura do café teve grande incremento no solo paulista, embora sua introdução no Brasil datasse do século anterior, sendo certo que enquanto outras cidades surgiam, Porto Feliz ficou apático a essa nova riqueza que contribuiu para o progresso desses centros, alguns formados do seu próprio território, do qual eram desmembrados, como sejam Tiete e Capivari.
Enquanto o silvo da locomotiva ia acordando os mais afastados rincões onde predominava a cultura do café, a outrora progressista Araritaguaba definhava; comércio exíguo, sem industria, pois está era apenas representada pelos engenhos rudimentares onde se fabricava o açúcar de baixa categoria (mascavo) e aguardente.
A lavoura encontrava maior desenvolvimento entre os pequenos sitiantes, que não possuindo engenhos, limitavam-se a cultura do algodão, fumo e cereais.
Pode-se afirmar que Porto Feliz ficou esquecido das demais comunicações do Estado pelo espaço de um século, e ainda na atualidade, para vergonha nossa, encontramos individuos que desconhecem a existência deste lendário torrão e, várias vezes já fui interpelado por interessados em conhecer nossa história, procurando saber: onde fica Porto Feliz?
Durante esse longo período permaneceu o município esquecido do Estado e da União inclusive o regime imperial, fato esse que contribuiu para mudança de muitas famílias, afim de em outras localidades irem desenvolver suas atividades e chegando mesmo, algumas dentre essas, abandonar os imóveis que aqui possuiam, relegando-os ao esquecimento.
Sem meios de transporte, pois que para estes predominava o antiquado carro de bois, em péssimas estradas, quase que intransitáveis em épocas de chuva, tanto assim que um dêsses veículos lotado com uma carga que não ia além de 1.000 a 1.200 quilos, fazia o percurso entre esta cidade e Itu, com a qual mantinha transação comercial, em oito e mesmo dez dias, para vencer os 24 quilometros que separam as duas cidades, o que nos dias de hoje é feito apenas em uma ou duas horas, com os modernos meios de transporte.
Mesmo com todas essas dificuldades não faltou ânimo a um grupo de abnegados portofelicenses que em 1.877 fundaram o atual Engenho Central, importando da França todo maquinário que naqueles tempos era considerado moderno, mas presentemente seriam considerados obsoletos.
Durante três lustros permaneceu em funcionamento essa industria, que depois foi forçada cerrar suas portas por falta de meios para movimentá-la, pois a produção não compensava os gastos necessários a sua manutenção.
Esse fato veio contribuir para que a cidade caisse ainda mais no abandono que já vinha suportando desde longos anos, conforme menção já feita que dos 2.000 prédios antes existentes, estavam reduzidos a uma quarta parte.
Ainda no tempo do Brasil Império, foi adquirida pelo Estado a grande área formada por mais de mil alqueires e que pertenceu aos Irmãos Rodrigues Paes, sendo a mesma dividida em lotes que formaram a antiga Colônia Rodrigo Silva, nesta se estabelecendo os primeiros povoadores vindos da Bélgica por intermédio do Padre Vanezio que por sua vez adquiriu a conhecida chácara denominada Canguera.
Já que foi abordado nesta crônica o nome desse virtuoso sacerdote, torna-se justo que ao mesmo tempo sejam feitas as referências que seguem: aqui não encontrou ele o merecido apoio dos homens da época, embora a missão da qual se achava incumbido revertesse em proveito do município.
Como recompensa recebeu a ingratidão, pois não lhe sendo possivel solver no prazo determinado os compromissos assumidos teve os seus bens penhorados, bens estes que saíram em hasta pública, inclusive o próprio Missal do bom sacerdote: êsse sacrilégio teve por teatro o antigo sobrado, hoje demolido, localizado na rua Aubertin.
Do sacrificio dispendido pelo Padre Vanezio, ai temos como testemunhas sobreviventes do fato acima citado, os srs. Alfredo Despontim e Teófilo Leroy.
Junto com esses citados, outros aqui vieram e de cujas famílias descendem os Moreaus, Vayens, Wandwelds, Dumonts, Dubois e outros cujos nomes no momento me escapam a lembrança, e que aqui continuam desenvolvendo suas atividades, cooperando pelo progresso do município, donde se deduz que essa ótima semente representada por essa equipe de trabalhadores, provem do fruto aqui plantado pelo padre Vanezio, figura essa, esquecida e mesmo desconhecida dos meus próprios conterrâneos.
Resumo a presente crônica no que acima ficou dito, isto é, sobre o periodo em que nosso município, enquanto outros progrediam, este caminhava rumo ao desaparecimento, pois ainda nos primórdios da República se achava reduzida a um lugarejo amorfo, sem comércio, sem industria e com sua lavoura reduzida, diante da falta de transporte para os produtos oriundos do mesmo.
Também pudera! A renda do Município não atingia a dez contos de réis!
Não julguem os leitores que seja meu intento denegrir este torrão do qual tenho grande orgulho em ser meu berço.

(*) Sabino José de Mello – artigo escrito na Tribuna das Monções de 1957
Nilo "Aguero" em 1951.
A água era trazida dos sítios em carroças e vendidas por "lata de 18 litros". Aqui na foto no largo da Penha.

Rua André Rocha, lateral da igreja Matriz em 1951

Marcos Patuci, Mafú..fotografo, diretor da rádio porto-felicense por vários anos e pesquisador da história e de fotos antigas de nossa cidade. Agradeceremos sempre a voce, Mafú...Obrigado.
( aqui ao lado do também benemérito porto-felicense, ex-vereador e empresário Antonio Augusto Alcala, Xuxo)

Cartaz da festa de Nossa Senhora Mãe dos Homens de 1936


Porto Feliz a "estória" da Cearense

o prato típico da cidade


A cearense surgiu na década de 70, por quatro pescadores da cidade em uma de suas pescarias em Mato Grosso. Depois de alguns dias, os pescadores ja quase sem comida receberam a notícia de que mais pescadores se juntariam a eles. Um deles foi para um municipio nas proximidades para comprar mais mantimentos. Mas a caminho da cidade ele parou algumas vezes para descansar e acabou chegando tarde e por isso quase todos os estabelecimento estavam fechados. Mas acabou achando um armazém onde comprou 1 kg de cebola, 1 kg de tomate e 2 kg de carne de boi. Chegando ao acampamento resolveu cozinhar tudo que ainda tinha como feijão e acrescentou o que comprara. Saiu um prato muito saboroso que teve um comentário do porto-felicense Emilio Coli, que disse:  “ isto parece comida “de cearense”.  Voltando a Porto Feliz, os pescadores passaram as suas esposas a receita e elas acrescentaram ao prato, bacon, linguiça calabresa, louro, cheiro-verde e orégano. Assim deu-se inicio a tradição do prato típico da cidade  a Cearense. Foi muito elogiado por não ser tão forte quanto a feijoada e ainda para esquentar nos dias frios.


Porto Feliz

Porto Feliz é um município brasileiro do estado de São Paulo. Localiza-se a uma latitude 23º12’53″ sul e a uma longitude 47º31’26″ oeste, estando a uma altitude de 523 metros
História
Porto Feliz nasceu na margem esquerda do rio Tietê, em um lugar que os indígenas nativos chamavam de Araritaguaba (termo tupi que significa “lugar da pedra de arara“, através da junção dos termos arara (“arara”), itá (“pedra”) e aba (“lugar)[6]). O mais antigo registro conhecido do local é de 1693 e refere-se a uma fazenda de António Cardoso Pimentel que originou o povoado. Um decreto de 13 de outubro de 1797 elevou o povoado à categoria de vila e mudou o nome para Porto Feliz.
A cidade tem uma economia diversificada baseada na agricultura e em pequenos e médios estabelecimentos industriais. Na zona rural do municipio, observamos o predomínio da monocultura da cana-de-açúcar.

A origem do nome Porto Feliz

A Vila de Porto Feliz foi criada no reinado de Dona Maria I, rainha de Portugal. O documento de criação foi assinado pelo governador da Capitania de São Paulo, António Manuel de Melo e Castro de Mendonça, no dia 13 de outubro de 1797.
O povoado às margens do rio Tietê, chamado anteriormente Freguesia de Araritaguaba, pertencera até então ao termo da vila de Itu. Com a condição de vila, Porto Feliz alcançou a sua autonomia. A vila era uma unidade política e administrativa autônoma equivalente a município, com direito a ter Câmara e cadeia. Conquistada a condição, uma das primeiras providências deveria ser o levantamento do Pelourinho, uma coluna que simbolizava a autonomia, geralmente feita de pedra. O termo era o território da vila, dividido em freguesias. A sede do termo ficava nas respectivas vilas ou cidades.

A Igreja Matriz

O documento assinado pelo Governador concedia à freguesia de Araritaguaba a condição de vila, denominando-a Vila de Porto Feliz, e determinava a definição do território do termo, a ereção do Pelourinho, a demarcação do terreno para a construção dos Paços do Conselho e cadeia, a eleição de juízes, vereadores e demais oficiais da Câmara Municipal. O ato atendia ao pedido dos residentes da freguesia de Araritaguaba, que nesse sentido enumeravam os vários incômodos atribuídos à distância de léguas da sede do termo, a Vila de Itu. Mas, o Governador também o justificava por ser o local um porto frequentado por comerciantes das minas de Cuiabá e por expedições destinadas por Sua Majestade Fidelíssima aos vastos sertões, algumas delas chegando a alcançar a fronteira da América Espanhola. Em seguida, o governador vaticinava: por isso, Porto Feliz tem toda a capacidade e disposição para vir a ser em poucos anos uma das vilas mais opulentas desta capitania.
Centro hoje banco Santander em 1963

Bebedouro para animais na rua Newton Prado em 1962 ( hoje no local um pequeno canteiro perto do posto San Marino)

Bar São João em 1932 Benedito Stetener e Eloy Rodrigues ( de bigode ) e Narcisa  Stetener
Antigo mercado municipal e banca do Ivânio...praça Duque de Caxias...Largo da Penha


Porto Feliz: As espantosas viagens das Monções(*)



Há nos nossos fastos nacionais uma série de fatos constituidores de impar episódio na História Universal; os designados pelo nome genérico de Monções. E, com efeito, as espantosas jornadas fluviais do Paredão de Araraitaguaba a Cuyabá não encontram similares em outra região do Globo.
Mais extensas viagens fluviais se realizaram, no próprio Brasil, embora não tão seguida e regularmente, nem organizadas sob um regime ao mesmo tempo comercial e militar. Assim, na Amazônia, mas em águas inteiramente livres, desembaraçadas de impecilhos à navegação, como também se dá no Mississipi.
As monções cuiabanas, parece-nos inútil recordá-lo, tinham que superar pavorosos obstáculos, nos rios encachoeirados, atravessar, em percurso de milhares de quilômetros, terras inóspitas habitadas por nações gentias belicosíssimas como os payaguás, guaycurus e cayapós, índios que com a mais notável bravura e a mais justa das pertinácias defendiam os seus chãos. Acresce a esta circunstância que os dois extremos do enorme itinerário eram os únicos núcleos de civilização a pontuar a intérmina e aspérrima via perlustrada.
Nada mais evocativo do que o modo pelo qual os primeiros moradores de Cuyabá designaram o Tietê e S. Paulo: rio de Povoado e Povoado.
Retirar-se para Povoado; no dizer singelo dos documentos setecentistas era expressão sinônima de partir para S. Paulo. Esquadrilhas de canoas e canoões maiores e menores, sulcaram o Tietê e o Paraná no século XVII e muitas delas entraram pelos leitos de rios matogrossenses em expedições de que ficaram inapagáveis nos fastos bandeirantismo como por exemplo as de André Fernandes, Francisco Pedroso Xavier, Gaspar de Godoy Colaço, Braz Mendes Paes e tantos outros.
A seus êmulos sobreleva Pascoal Moreira Cabral, o grande fronteiro do Mboteteú e descobridor do Cuyabá, em sua longa permanência, depois de 1.680, às margens do Miranda, vedando o eventual passo dos castelhanos para o norte.
Das viagens monçoeiras seiscentistas a bibliografia é até agora muito escassa. Pensamos que o mais velho documento de relato da jornada até hoje desvendado haja sido a narrativa do Capitão General do Paraguay, Dom Luis de Céspedes Xeria (que aliás apenas navegou no Tietê e no Paraná) em 1.628. Assinalado pelo sábio Padre Pablo Pastells, como existente, no Archivo General de Indias, em Sevilha, fizemo-lo copiar e o traduzimos, assim como, em 1.922, publicamos a reprodução do curiosíssimo mapa a ele anexo.
Com todas as grosseiras inexatidões e fantasias que o caracterizam é, contudo, preciosíssimo. E constitue, provavelmente, a mais velha carta até hoje conhecida de roteiro no interior profundo do Brasil.
Descoberto o ouro cuyabano, fundado e mantido – verdadeiro prodígio de dispêndio de energia, coragem, tenacidade e espírito de sacrifício - o arraial e a Vila Real do Senhor Bom Jesus do
Cuyabá, começa realmente a surgir a literatura monçoeira, sob a forma das narrativas dessas espantosas viagens em que – Senhor - apostrofava um de tais viandantes ao Rei Dom José I, os vassalos da conquista da América, em nada ficam a dever aos da conquista do Oriente".
Destes relatos foram vários impressos como os do Conde de Azambuja, Francisco José de Lacerda e Almeida, Diogo de Toledo Lara e Ordonhes, João Antonio Cabra I Camelo, o patético relatório de Teotonio José Juzarte e alguns estrangeiros de pequeno vulto como o de D. Manuel de Flores, recolhido por Juan Francisco Aguirre.
Ao relatório de José Custodio de Sá e Faria reveste extraordinária secura, incompreensível por parte do homem superiormente dotado quanto este celebrado oficial general setecentista.
Deu-nos Sergio Buarque de Holanda em 1.945 o bello e brilhante volume Monções, estendendo a sua inspeção a todo o Brasil. Pensamos que por ordem cronológica seja, até hoje, o depoimento de Cabral Carmelo a mais antiga das narrativas vultosas de viagens monçoeiras.


(*) Monções Cuyabanas no século XVIII – Tomo 11 - Afonso E. de Taunay – capítulo V – pg 29, 30 e 31 – Imprensa Oficial do Estado – Edição do Museu Paulista – 1.950