ITU E ARARITAGUABA NA ROTA
DAS MONÇÕES (1718-1838) (*)
Resumo:
Em 1.718 foram descobertas as primeiras minas de ouro na
região Centro-Oeste
da colônia. A difusão da notícia fez com que inúmeras
pessoas para lá se dirigissem. Ao mesmo tempo em que a descoberta das minas
ampliou os horizontes dos que se lançaram à busca do precioso metal, também
ocasionou alguns problemas, sobretudo o abastecimento dos que para elas se
dirigiram. Não tardou para que esse novo mercado colonial fosse o mote para o
início das longas expedições denominadas Monções. As monções eram expedições
fluviais povoadoras e comerciais que partiam de Araritaguaba, uma freguesia de
Itu, navegando pelo Tietê e pela rede de afluentes do Paraná e do Paraguai até
ao Cuiabá. Atravessar tal percurso requeria uma base de apoio crucial para as
expedições. Por sua localização geográfica, Itu, onde estava localizado o porto
de embarque, propiciou as bases necessárias para a partida das expedições. Este
trabalho analisa a participação de Itu na rota das Monções, quer fornecendo
mantimentos para os viajantes, quer através da construção de canoas, remos e,
ainda, propiciando a mão-de-obra necessária para as expedições. Assim, é
possível perceber o efeito dinamizador das minas de Cuiabá sobre a vila de Itu,
apontando para um panorama além das tradicionais imagens de despovoamento,
estagnação e decadência da capitania paulista durante o século XVIII, ainda que
não se desconsidere a existência de uma efetiva migração de paulistas. Para
realizar este trabalho, recorro a um conjunto de fontes variado, composto por
inventários, post-mortem, testamentos, relatos de viagem, processos judiciais e
ordenanças. Palavras chaves: Monções, mercado interno, alimentos, fronteiras.
Abastecendo as Frotas
A relação da capitania de São Paulo com as minas de ouro
constitui-se assunto
controverso na historiografia. Diversas imagens foram
elaboradas e cristalizadas para a capitania de São Paulo após a descoberta do
ouro – de despovoamento, decadência e abastecedora das regiões mineiras
(1).Para alguns autores, como Paulo Prado, o despovoamento da capitania levou a
uma tal situação de decadência que só seria superada com o advento do café. Em
seus estudos, o autor traça para a história de São Paulo uma linha em que
perpassa três períodos distintos: grandeza, decadência e regeneração. O primeiro
deles, o da grandeza, abrange desde os primórdios da colonização - o período
dos bandeirantes até o advento da mineração no final do século XVII; o segundo
é resultante do despovoamento provocado pelas conquistas territoriais e pela
descoberta das minas empreendidas pelos paulistas; o terceiro momento, o da
regeneração, é o derenascimento econômico com o café (2). Para o historiador
Alfredo Ellis Júnior, a descoberta do ouro nas Minas Gerais ocasionou uma
migração em massa dos paulistas, de efeito catastrófico e maléfico, na medida
em que os que partiam eram os melhores da terra. Arrancados do solo paulista
seus mais eugênicos elementos, o resultado foi a decadência do planalto no
século XVIII. Com a descoberta de jazidas em Mato Grosso e Goiás novamente se repetiu
o fenômeno migratório. Desse modo, na opinião do autor, para São Paulo,
Parnaíba, Itu, Sorocaba, Araritaguaba (Porto Feliz), Jundiaí, Atibaia, Moji das
Cruzes e Guarulhos, o século XVIII representou um século de sono, “o sono
letárgico dos catalépticos”(3). Maria Luiza Marcílio foi uma das primeiras
estudiosas a chamar a atenção para a necessidade de análises que abarcassem o
século XVIII, justamente o período da mineração. A seu ver, “as bases do
sucesso da economia do café dos séculos XIX e XX precisavam ser buscadas no
século XVIII e inícios do XIX” (4). Com a descoberta das minas de ouro na
região Centro-Oeste da colônia e o início da rota das monções, Itu e
Araritaguaba (Porto Feliz) passaram estar diretamente vinculadas ao caminho
fluvial. O comércio das monções perdurou ao longo de quase todo o século XVIII
e inícios da centúria seguinte. Acreditamos que analisar uma região que esteve
atrelada à região das minas se faz importante para enfatizar outros aspectos da
história colonial paulista.Por volta da metade do século XVII, a vila de Itu
tornou-se um ponto estratégico para o apresamento de mão de obra indígena no
sertão. Devido a isto, na virada do século XVII para o XVIII, Itu era uma vila
com certa estrutura produtiva implantada. Um dos indicativos desta estrutura
pode ser constatado na Relação das quantias oferecidas pelos moradores do
bairro de Araritaguaba e demais bairros de Itu, atinente ao ano de 1.728, onde
consta as taxas que os moradores pagavam de impostos, conforme o número de cativos
que possuíam. Infelizmente, a Relação não informa que tipo de cativo, se
indígena ou africano. Mas há indícios que boa parte deles eram indígenas.
A propósito, Joseph Barbosa de Sá, em sua narrativa sobre as
monções do século XVIII, menciona a venda de índios Bororó e Pareci como
escravos por volta de 1.728(5). Pouco tempo depois, em 1.732, o coronel João de
Melo Rego, indagando ao governador da capitania a respeito de um registro em
Araritaguaba, queria saber se “os bugres bororós e todo o gentio das vargens
fora os índios Parecizes”, trazidos nas expedições monçoeiras, deveriam ser
quintados em Araritaguaba (6). Considerando possíveis omissões de escravos na
Relação, uma vez que a sobre eles incidiam impostos, trata-se de números
expressivos. Em 1676, Parnaíba e São Paulo possuíam 3.000 e 15.000 índios,
respectivamente (7). Portanto, quando se tem o início das monções, a vila teve
como desenvolver as potencialidades econômicas que a ocasião ensejava. Evidente
que à descoberta das minas se seguiu uma migração de moradores de Itu para
regiões auríferas. Aos 12 de janeiro de 1.734, o capitão mor da vila de Itu,
João de Mello Rego, informava ao capitão general da capitania que não havia
remetido a nomeação dos capitães mores da vila porque precisava “saber com
certeza os que [pretendiam] ausentar-se [da] vila para as Minas”. Informava
ainda que talvez não houvesse gente suficiente para integrar as Companhias de
Ordenanças “por haverem despejado muita gente” para aquela região (8). Mas se
houve quem migrou em busca de ouro, outros optaram por aproveitar as
oportunidades daquele momento na própria vila, dentre as quais estava o
fornecimento de mantimentos aos que para ela se dirigiam. As viagens até Cuiabá
eram demasiadamente longas,duravam quase cinco meses. Além dos temores de
ataques indígenas, outra grande preocupação era com a alimentação durante o
trajeto. Nos relatos de viajantes coevos, observa-se que os frutos obtidos
mediante caça, pesca e coleta durante o trajeto não eram suficientes para o
abastecimento das expedições. Na realidade o “panem nostrum quotidianum” dos
monçõeiros era composto de feijão, toucinho, farinha de milho e, menos
freqüentemente, de mandioca (9). Ao referir-se aos infortúnios que as
expedições poderiam sofrer no caminho á Cuiabá, Gervásio Rebello relata que a
perda de mantimentos era mais prejudicial que a de escravos, tanto mais se quer
antes perder um negro, sendo estes tão necessários, que um alqueire de
mantimento, feijão ou farinha. Exageros à parte, o fato é que o suprimento alimentar
era primordial para a realização das monções. Por isso agricultores de Itu e
Araritaguaba procuraram abastecer este nicho de mercado. Passados cem anos do
início das primeiras monções, o capitão-mor de Porto Feliz, antiga freguesia
Araritaguaba, referindo-se às expedições informou: “o que era aqui costume
aprontar é feijão, farinha de milho, toucinho, carne de porco, farinha de
mandioca, aguardente da terra” (1). Nas palavras de Saint- Hilaire, partia-se
do Porto de embarque “ levando a quantidade de farinha de milho necessária para
a viagem até [a fazenda] Camapoã ”, localizada no meio do trajeto, quando a
tropa fazia nova aquisição de mantimentos, consertava-se canoas etc.(11). Para
facilitar o sucesso das monções, a Coroa inclusive isentava de imposto os
gêneros básicos consumidos na viagem (feijão, milho, e farinha) (12). Em suma,
para a realização das expedições, era imprescindível o alimento fornecido por
Itu e Araritaguaba. Tal era a importância que o conde de Azambuja, quando
chegou em Araritaguaba, em 24 de maio de 1.751, teve que esperar mais de dois
meses para partir para Cuiabá. Os preparativos para sua viagem, a cargo do Juiz
de Fora da vila, Theotonio de Silva Gusmão, estavam adiantados, mas o conde não
pôde seguir viagem imediatamente, pois foi preciso aguardar que “crescesse o
milho e feijão, e se fizessem as farinhas e toucinhos”. Afinal, era preciso
fornecer mantimentos a 190 homens. Em cinco de agosto de 1.751, quando
finalmente partiu a frota para as Minas do Cuiabá, as 23 canoas da expedição
saíram com “noventa sacos de mantimentos”(13). Uma outra fonte informa que a
comitiva do Conde Azambuja embarcou com nada menos de 1.130 sacos de
mantimentos (14). Dentre os que ficaram em Itu/Araritaguaba, em 1.728, algumas
pessoas como Manuel de Araújo Beltrão, José Correia da Fonseca e Manuel Gomes
da Costa solicitaram sesmarias com o objetivo de atender o mercado das rotas
que iam às minas. Manuel Gomes da Costa requereu uma légua de sesmaria,
alegando que queria “povoar e fazer um sítio no caminho do sertão das minas dos
Goiás, onde pudesse fazer suas plantas para cômodo dos mineiros e aumento dos
dízimos reais”. Neste mesmo ano, El Rei confirmou uma doação de sesmaria ao
ituano Felipe Cardoso, visto que o suplicante “se achava com possibilidade de
povoar terras e tinha feito à sua custa o caminho de Piracicaba até a vila de
Itu, e socorrido gratuitamente com mantimentos aos que se exercitavam no
caminho do Rio Grande”(15). Certamente, a concessão de sesmarias não quer dizer
a ocupação efetiva da terra, mas não cremos que seja o caso de Manuel de Araújo
Beltrão, José Correia da Fonseca, Manuel Gomes da Costa, Felipe Cardoso e João
de Araújo Cabral, pelo menos. Estes homens devem ser os mesmos proprietários de
escravos da Relação das quantias oferecidas pelos moradores do bairro de
Araritaguaba e demais bairros de Itu, atinente ao ano de 1.728 (aliás, o mesmo
ano da concessão das sesmarias), os quais possuíam sete, quatro, seis e
dezesseis escravos, respectivamente (16). É muito pouco provável que Felipe
Cardoso tenha fornecido mantimentos gratuitamente aos que transitavam pela sua
propriedade. Seu argumento indica, antes, uma retórica para obter a sesmaria.
Em 1.727, ao comentar sobre aqueles que tinham roças no trajeto para as minas,
João Antônio Cabral Camello foi enfático: “vendem como querem”(17). Em 1.726,
na Barra do Rio Coxim, em sua viagem rumo ao Cuiabá, o capitão general de São
Paulo, Rodrigo César de Menezes, desembolsou 250 oitavas de ouro para adquirir
mantimentos na roça de propriedade do ituano João de Araújo Cabral, que
estabelecera sítio naquela localidade, justamente com o propósito de prover de
mantimentos aqueles que rumavam para minas. Aliás, a expedição de Rodrigo César
de Menezes, cujo propósito era a fundação da vila de Bom Jesus de Cuiabá, saiu
de Araritaguaba com 308 canoas. Quando atingiu o destino final, Rodrigo Menezes
mencionou que haviam chegado com vida 3.000 pessoas (18). Na ocasião, o capitão
general adquiriu, em Itu e Araritaguaba, feijão, milho, farinha, açúcar, capados,
peixe seco, barris para acondicionar açúcar e grãos, frasqueiras para
aguardente, fumo “para os negros”, encerado para cobrir as canoas e chumbo. Com
a compra de 23 canoas foram desembolsados 1:240$000 e com o pagamento da mão de
obra de pilotos despendeu-se 639$000 (19). Há que se ressaltar que esses gastos
são atinentes apenas à comitiva de Rodrigo César de Menezes. Desse modo, os
exemplos de Manuel de Araújo Beltrão, José Correia da Fonseca, Manuel Gomes da
Costa, Felipe Cardoso, João de Araújo Cabral e outros, conforme os relatos de
Viajantes coevos, demonstram que certas pessoas optaram pelo estabelecimento no
caminho das minas do Cuiabá e Goiás com vistas a abastecer os que a elas se
dirigiam. O movimento em torno do Porto Geral em Araritaguaba, também
denominado Porto dos Cuiabanos, deveria ser intenso em certas épocas do ano.
Aliás, o desenvolvimento de Araritaguaba esteve estritamente relacionado ao seu
porto. Em 1.734, o Provedor-Mor João de Mello Rego, correspondendo-se com o
Conde de Sarzedas, informou que: “(...)
o bairro de Araritaguaba [estava] sem capitão e sem alferes, sendo mui
necessários naquele distrito por ser Porto Geral das Minas do Cuiabá” (20). Em
1.720, em Araritaguaba, “foi erigida uma capela dedicada a Nossa Senhora da
Penha” e em 1.728, a capela foi elevada à freguesia. Em 1.747, a capela era
pequena demais para “reunir os moradores, cujo número aumentava de ano para
ano”. Por isso, erigiu-se uma nova capela, cuja construção terminou em 1.750.
Em 1.797, “atendendo a uma representação
de seus moradores”, a freguesia de Araritaguaba foi elevada à categoria de vila
recebendo o nome de Vila de Porto Feliz. Dentre outros motivos, os moradores
desejavam que a freguesia tivesse o estatuto de vila“(...) não só pelo
fundamento de haver nela três mil e seis pessoas de confissão (...) mas também
por ser um Porto freqüentado de Comerciantes de minas de Cuiabá, e Mato Grosso,
e de diferentes expedições de Sua Majestade para os vastos sertões que decorrem
da mesma freguesia até a fronteira da cidade de Paraguai da América Espanhola,
tendo por isso toda a capacidade, e disposição para vir a ser em poucos anos
uma das vila opulentas desta Capitania” (21). Pelo fato de as expedições
fluviais rumo ao Cuiabá partirem de Araritaguaba, bem como pelo de as
expedições terrestres passarem por Itu/Araritaguaba, estimulou-se a
proliferação de sítios voltados ao abastecimento das expedições. No mapa
elaborado por Theotônio Juzarte e em suas próprias palavras nas proximidades do
Armazém Real e Porto Geral, o rio Tietê “é de um e outro lado acompanhado de
sítios”. Mais precisamente, havia 57 propriedades, ou seja, significa 57 sítios
nas proximidades do porto. Provavelmente, seus moradores estavam ali pelas
possibilidades econômicas que a localidade oferecia. Infelizmente, o cronista
não fornece muitos dados sobre esses moradores, de forma que podemos apenas
fazer algumas conjecturas sobre eles. Dentre os moradores daqueles sítios, sete
atuavam como pilotos na rota das monções: Antônio Cardoso Pimentel, Miguel
Oliveira, João Pinheiro, João Gonçalves, João Gonçalves Vieira, João Pedroso
Oliveira e João Portes de Almeida. Os quatro últimos mencionados conjugavam o
ofício de piloto com as fainas agrícolas, como indica o cruzamento dos nomes
fornecidos por Juzarte com os das listas nominativas. Outra localidade também
estritamente vinculada às monções era o Bairro Potunduva. Em 1.769, Juzarte
referiu-se ao local como “rancho de Potunduva” (22). Por sua vez, Alfredo
Taunay informou que “(...) todos os
moradores viviam do tráfego das monções. Era como se ali existisse algumas
famílias de caboclos cujos homens se empregavam como proeiros, remeiros e
varejistas dos canoões das flotilhas a trafegarem entre Porto Feliz e Cuiabá.
Após alguns dias de penosa navegação a jusante da velha Araritaguaba, vencendo
corredeiras e itaipavas, descansavam as monções, geralmente, um dia em
Potunduva” (23). Não por acaso, Juzarte denominou aquele local de “rancho”.
Chegou lá no dia 20 de abril, depois de sete dias “de penosa navegação” a
partir do Porto Geral de Araritaguaba. Através da documentação é possível
perceber que alguns moradores de Itu e Araritaguaba, além de conexões
comerciais com a região das minas no centro-oeste, eram também plantadores de
mantimentos, e, mais do que isso, perseguindo a trajetória de seus descendentes
alguns vieram a tornar-se grandes senhores de engenho. O alferes Antônio Soares
da Costa, que dizia “viver de negociar em Goiás”, era um desses que aliava
negócios e a atividade agrária. Além de uma tropa composta por 30 bestas e
cavalos, possuía um sítio adquirido através de carta de sesmaria, onde, no ano
de 1.776, colheu com o trabalho de seus 32 escravos, 1.000 alqueires de milho e
100 de feijão. Produzia açúcar e aguardente, mas “pouca”. Fora isso, tinha 20
cabeças de gado, oito bezerros, 20 porcos e 10 leitões, duas moradas de casas,
uma na vila de Itu e outra na freguesia de Araritaguaba. O número de escravos,
a quantidade de porcos que possuía e o volume de sua produção nos levam a crer
que Antônio Soares da Costa negociava mantimentos para Goiás. Além disso, o
fato de possuir uma morada de casas na freguesia de Araritaguaba pode ser
indicativo também de um envolvimento com o comércio monçoeiro, já que era na
freguesia que estava o porto dos cuiabanos. A produção obtida por Antônio
Soares da Costa o colocava como um dos três dos maiores plantadores de milho de
Araritaguaba, juntamente com Domingos da Rocha Abreu e Luis Araújo Coura, que
atuavam na rota das monções. Em ano impreciso, mas certamente na primeira
metade do século XVIII, Domingos da Rocha Abreu se transferiu da povoação de
São Martinho de Outeiro, Arcebispado de Braga, para São Paulo, onde se casou
com Dona Francisca Cardoso de Siqueira, “moça de distinta família”.
Posteriormente, estabeleceu-se na freguesia de Araritaguaba, aonde veio a
falecer no ano de 1.784. Além de ter tido muito respeito junto à comunidade em
que vivia, “homem de conhecida verdade”, como se verifica no testamento do
negociante Manuel Antônio Amorim, de quem, aliás,foi testamenteiro, Domingos
levou uma vida abastada na freguesia. Nas listas nominativas de 1.767,
informa-se que ele vivia de “negócio mercantil” e possuía 6000 cruzados
(2:4000$000) em bens, estando entre os cinco mais abastados da freguesia de
Araritaguaba. De seu consórcio com Dona Francisca nasceram dez filhos. O mais
velho, Manoel Cardoso de Abreu, em 1.765, então com quinze anos, iniciou suas
viagens ao Cuiabá para auxiliar o pai nos negócios, o que fez até o ano de
1.773, tal como relata em sua crônica, redigida dez anos depois. Ainda em
1.776, Manoel fora destacado para a Colônia do Iguatemi (24). Dentre os outros
filhos de Manoel da Rocha Abreu, havia Alexandre, que também adentrou a rota
das monções, pois em 1.767 estava junto com seu irmão Manoel em viagem ao
Cuiabá. A filha Ana Joaquina se casou com José Antônio Peixoto e morou em
Cuiabá. Outras filhas eram Maria Madalena da Rocha, Luiza da Rocha, e,
finalmente, Ana Francisca da Rocha (25).
Talvez os cabedais de Domingos da Rocha Abreu o tivessem possibilitado casar
bem suas filhas. Luiza da Rocha casou-se com o alferes Guilherme da Silva
Claro, que por algum tempo atuou na Colônia do Iguatemi. Maria Madalena uniu-se
em matrimônio a Francisco Simões dos Reis, que em 1.798 estava formando seu
engenho, e produziu 200 arrobas de açúcar, além de possuir 17 escravos. Ana
Francisca, em 1.782, consorciou-se com o senhor de engenho Francisco Correia de
Moraes Leite, que foi capitão-mor da vila de Porto Feliz durante vinte e três
anos, entre 1.797 e 1.820. No ano de 1.798, Francisco Correia de Moraes Leite
exportou 1000 arrobas de açúcar através do Porto de Santos, e em 1.818, com os
seus 46 escravos, produziu 3000 arrobas de açúcar, 600 alqueires de milho, 150
de feijão e 40 de arroz. Essa produção o colocava como o segundo maior produtor
de açúcar da Vila. Em 1.824, Francisco Correia de Moraes Leite de posse de seus
65 escravos produziu 1600 arrobas de açúcar, 1000 alqueires de milho, 150 de
feijão e 40 de arroz. Um dos filhos de Ana e Francisco foi o brigadeiro Joaquim
José de Moraes Abreu, que ocupou os cargos de membro do Conselho da Província,
vereador da Câmara Municipal de São Paulo, deputado provincial e
vice-presidente da Província de São Paulo. Nas listas nominativas de 1.767,
Domingos Rocha Abreu foi descrito como vivendo de negócio mercantil, em 1.769
vendeu pregos, fios de sapateiro, barbantes e agulhas para a costura de
barracas para canoas que iam para a Colônia do Iguatemi . Mas nas listas de
1.776, já viúvo, era tesoureiro e agricultor. Neste ano, havia colhido em seu
sítio 700 alqueires de milho e 60 de feijão. Faziam parte do seu patrimônio
quatro cabeças de gado, 12 bezerros, 16 porcos, oito leitões, dois cavalos, 25
escravos e uma morada de casas. É muito difícil precisar se no decorrer de sua
vida, Domingos Rocha Abreu abandonou a atividade comercial para dedicar-se
somente à agricultura, mas suas ligações com a rota Araritaguaba-Cuiabá e o
caráter familiar de seus empreendimentos mercantis são evidentes. Tinha filhos
nas expedições monçoeiras e uma de suas filhas morava em Cuiabá, o que lhe
possibilitaria conseguir acumular capital, traduzido sem seus vinte e cinco
escravos e nas uniões matrimoniais de suas filhas. Este também foi o caso de
Luís Araújo Coura, que vivia de “negócio para o Cuiabá”, embora nas listas
nominativas de 1.767 possuísse um cabedal muito inferior ao de Domingos da
Rocha Abreu, apenas 600$000. Neste ano, um de seus filhos, Luís, estava ausente
no Cuiabá, onde o pai tinha negócios. Passados sete anos, em 1.774, as listas nominativas
designam Coura como um agricultor, possuindo “um sítio coberto de capim com mil
braças de terras de testada com meia légua de sertão”, no qual com seus 41
escravos, colheu 500 alqueires de milho e 100 de feijão. Tinha três cavalos,
nove cabeças de gado, dois bezerros, e uma morada de casas. Em1.776, no sítio
em que morava, colheu-se 1000 alqueires de milho, 150 de feijão, 40 de arroz,
60 de amendoim, e havia seis cabeças de gado, 12 porcos, dois cavalos e 33
escravos e, por fim,uma morada de casas. Neste ano, seu filho Luís também
estava ausente no Cuiabá. Obviamente, o volume de mantimentos colhidos em sua
propriedade e a quantidade de escravos de que dispunha, ainda que esta tenha
diminuído, demonstra uma produção voltada ao mercado. Luiz Araújo Coura vivia
de negócio para o Cuiabá. É possível que Luiz Araújo Coura negociasse duas
vezes: vendendo em Cuiabá e abastecendo as mesmas expedições que para lá se
dirigiam. Não pudemos detectar o tipo de negócio que Coura efetuava, pois
infelizmente seu inventário não arrola mercadorias, nem faz menção à existência
de “contas de livros”. Com efeito, o montante de dinheiro amoedado e de dívidas
ativas em seu inventário poderia significar que ele seria um comerciante
usurário, isto é, emprestasse dinheiro a juros, mas não apenas isto, já que
apenas três pessoas lhe deviam, todas moradoras nas minas do Cuiabá. Pode ser
que mantivesse negócios no Cuiabá, tal como mencionado na lista nominativa de
1.767.
Ou, ainda, que o é mais provável, que combinasse o empréstimo
a juros, mantivesse negócios no Cuiabá e, como vimos, produzisse gêneros para o
mercado, o que, neste último caso é sugerido pela quantidade de escravos. Em
suma, Coura diversificava seus investimentos, mas pode ser que todos estiveram
ligados à rota das monções, o que, evidentemente, contribuiu para seu
enriquecimento, na medida em que teria 600$000 réis em bens em 1767 e ao
falecer sua fortuna era quase 10 vezes maior (26). Certamente, uma forma de
Coura manterem seus bens foi encontrada no comércio das monções. Uma das
dívidas mencionadas no testamento da viúva foi a do Capitão Luís de Araújo
Filgueira, filho do casal formado por Luís Araújo Coura e Luisa Pedrosa, no
valor de 715$940. Trata-se do mesmo filho que estava ausente nas minas do
Cuiabá nos anos de 1.767 e 1.776, pois nas listas nominativas destes anos, e
nos inventários de Coura e de Pedrosa, não há outro filho denominado Luís. Em
1.791, quando da realização do inventário, Luís novamente se encontrava no
Cuiabá. Pouco antes de morrer, Luisa fez seu testamento, no qual
afirmou:“Declaro que não tenho recebido da carregação que levou meu filho Luiz
de Araújo para as minas de Cuiabá no ano de 85 mais do que constar dos recibos
assinados por mim”. Isso demonstra que a família, entre 1.766 e 1.791, realizava
negócios com Cuiabá. Os quase vinte e cinco anos em que a família Coura ficou
envolvida em atividades comerciais lhes assegurou uma situação econômica pelo
menos estável (27). Portanto, semelhantemente ao caso de Domingos da Rocha
Abreu, é possível destacar o caráter familiar do negócios com Cuiabá e a
possibilidade de enriquecimento através deles. Enriquecimento que permitiu que
alguns de seus filhos fizessem casamentos vantajosos, embora se perceba, na
família Coura, um gradual empobrecimento de alguns de seus membros ao longo das
gerações, ainda que alguns tenham se tornado senhores de engenho, conforme os
maços de população. De qualquer forma, o movimento proporcionado por
comerciantes, viandantes e gados que se dirigiam à região mineira do Centro
Oeste, além de dinamizar a economia, às vezes ocasionava alguns transtornos à
vila de Itu. Em 12 de dezembro de 1.747, através de uma missiva ao governador
Dom Luís Mascarenhas, o juiz de fora Theotônio da Silva Gusmão reclamava que as
cavalarias que conduziam cargas para o Cuiabá destruíam pontes e caminhos da
vila, e para reconstruí-las novamente “os donos das cavalarias e cargas” não
ajudavam “em nada”. Tendo em vista os prejuízos causados, o juiz propunha que
“o negócio das cavalarias pagasse algum subsídio para a Câmara, ou para o bem
Comum”, que “empregou as rendas dela” na construção de pontes e caminhos. Além
destes percalços, o juiz relatava a destruição dos matos, provocada pelo
movimento das canoas, que eram arrastadas até chegaram ao porto de Araritaguaba
para embarque. Prosseguia enfatizando que a vila ficava sem tábua por “falta de
paus”, uma vez que toda a madeira existente era utilizada na construção de
canoas (28). A proposta do subsídio gerou revolta por parte de alguns, que não
hesitaram em se queixar diretamente ao governador. Ao saber da queixa, o juiz
de fora argumentou que, embora os “andantes para o Cuiabá” fossem muitos,
“somente cinco os seis mascates armados (...) [foram] os fomentadores [da]
oposição”. A seu favor informou que na vila de Itu vários homens mandavam
“negócio para o Cuiabá”, mas que nenhum deles se queixou da proposta do
subsídio,“ antes alguns foram rogais na postura”. Acreditava o juiz que os
queixosos eram “os estranhos forasteiros”. Para desgosto do juiz, o governador
respondeu que o tributo requerido era “muito prejudicial aos viandantes do
caminho do Cuiabá, que assaz lhes bastam os direitos que pagam”. Informava
também que o imposto era oposto aos desejos d’El Rei em conservar e aumentar
os“moradores daqueles confins”. Em tom autoritário, disse ao juiz: “(...) ponha
as coisas no estado em que estavam e de nenhuma forma convenha [colocar] em
prática o dito novo imposto, pelo prejuízo que do contrário se segue aos
viandantes que para as ditas minas costumam viajar, e a todos os mais que para
elas quiserem ir estabelecer-se, que em vez de se lhes franquear melhor o
caminho, e favorecê-los, como Sua Majestade recomenda, se lhes aumenta por este
modo os direitos e conseqüentemente se lhes dificulta o ingresso que para as
ditas minas intentam fazer, e tanto carecem de gente para as povoar,
evitando-se por esta forma qualquer mal intento, que os castelhanos (com quem
confinamos por aquela parte) queiram intentar, que é o fim a que se dirige, o
mandar sua Majestade franquear o dito caminho, de cuja freqüência tiram estes
moradores suas conveniências, que a não ser isso que seria do pobre povo de
Itu?”. Nas palavras de Gusmão, observa-se ainda que em certas ocasiões, o
fornecimento de mantimentos às monções comprometia os preços dos alimentos
comercializados na vila, já que, como asseverou, em função das expedições que
partiam às minas, a população ficava “exaurida
de mantimentos (...) vindos [os] da terra a comê-los mais
caros” (30). Portanto, verifica-se em Itu e Araritaguaba a ocorrência de um de
processo inflacionário nos preços de mantimentos. Exatamente o mesmo ocorrido
na vila de São Paulo, por ocasião da descoberta de jazidas nas Minas Gerais,
quando a população preferia vender gado e mantimentos para aquelas localidades
onde conseguia um preço maior para os produtos (31). Assim, além dos ituanos
tirarem suas conveniências daquele caminho, Mascarenhas tece comentários sobre
a importância para El Rei do comércio com a região das Minas. Comércio que,
para além da cobrança de impostos, era de primordial importância para o aumento
de moradores da região fronteiriça e, por conseguinte, para a guarda dos
domínios coloniais, ameaçados pelos castelhanos. Os interesses da Coroa nessa
região eram tão zelados que o Conselho Ultramarino foi enfático ao ser
consultado a respeito da criação de uma capitania, abrangendo as minas de
Cuiabá e Mato Grosso:“(...) se procure fazer a Colônia de Mato Grosso tão
poderosa que se contenha os vizinhos em respeito e sirva de ante mural a todo o
interior do Brasil”(32). Neste reordenamento de fronteiras, a vila de Itu
adquiriu uma posição estratégica para a Real Coroa. Quase toda a
correspondência com as autoridades de Cuiabá e Goiás era efetuada através das
expedições monçoeiras. Mesmo os índios e o ouro vindos de Cuiabá eram quintados
na vila, bem como, ao que tudo indica, eram inicialmente registradas as bestas
procedentes de Curitiba (33) e dos campos de São Pedro do Sul (34). Além disso,
todo o envio de armas aquela região era feito através de monção.
Geralmente, as expedições reais ocorriam anualmente e, da
mesma maneira que as expedições comerciais, precisavam de tripulação, canoas,
remos e mantimentos fornecidos por Itu e por Porto Feliz, armazenados não só no
Armazém Real, pois, dependendo do volume de cargas, era preciso alugar algumas
casas para tal fim (35). Em 1722, Manoel Sampaio Pacheco,informava ao capitão
general de São Paulo que já havia providenciado a compra de canoas, bem como
mandara “fazer os remos necessários” 36. Em 1733, as liages, que vieram do
Almoxarifado da vila de Santos, eram insuficientes para ensacar as farinhas e
estreitas para acondicionar o feijão. A solução encontrada foi “procurar fio de
algodão” na própria vila “para se mandarem fazer algumas linhas largas”. O que
significa que, além de mantimentos, a vila possuía lavouras de algodão e
costureiras aptas para fiar os sacos. Nesta ocasião, o capitão-mor de Itu
reclamou que a prata enviada para fazer os pagamentos dos mantimentos e
“miudezas” era insuficiente, daria somente para pagar os “índios carregadores”.
Provavelmente, tratasse de índios que traziam mercadorias nas costas, faltando
assim recursos para os pagamentos dos moradores que forneciam farinhas (37).
Diversas vezes Itu e Araritaguaba foram chamadas para fornecer mantimentos para
a Colônia do Iguatemi. Em 1.766, a vila de Itu foi convocada a fornecer 1.100
alqueires de milho, além de feijão, capados e cachaças (38). Passados quatro
meses, em julho de 1767, novamente era enviada uma ordem à vila de Itu sobre
outra expedição ao Iguatemi. O capitão-mor da vila, Salvador Jorge Velho,
ficava encarregado de aprontar a tripulação que consistiria em “dez pilotos e
vinte proeiros” e, também, de arrecadar mantimentos suficientes para alimentar
“trezentos e vinte homens” durante um período de seis meses (39). Quando da
expedição do Brigadeiro José Custódio de Sá e Faria em 1774, foram solicitados
“canoas com tudo o que lhe compete e gente de sua mareação as que forem
necessário, 200 alqueires de feijão, 200 alqueires de farinha, oito alqueires
de arroz, oito arrobas de açúcar, 80 medidas de aguardente de cana [e] linhagem
para os sacos” (40). Aos 10 de abril de 1804, o sargento-mor de Porto Feliz,
Francisco Correa Manoel Leite,solicitou informações ao sargento mor da freguesia
de Piracicaba a respeito de confecções de canoas e existência de capados para
prover uma monção real (41). Dez meses depois, o mesmo Francisco deu ordens
para que “se matassem porcos e secassem; e se aprontasse, a farinha, feijão e o
mais” para outra expedição (42). Infelizmente, não dispomos das listas de Porto
Feliz para o ano de 1.804, mas na de 1.803 observa-se que Antonio Ferreira e
Antônio Rodrigues Campos vendiam milho, feijão e arroz. Jerônimo Vicente Torres
vivia de “criar e vender porcos”. Além de Jerônimo, outros 12 moradores da vila
venderam capados. Por sua vez, João Viegas Forte e José Rodrigues Monteiro
venderam 150 e 200 alqueires de milho, respectivamente. Além daqueles
moradores, outros 26 moradores venderam parte da produção. Mesmo que se trate
de vendas em poucas quantidades, deviam ter um valor significativo para quem as
vendeu, merecendo inclusive o registro dos recenseadores (43). Em 1806,
Salvador Jorge Cunha,morador na vila de Itu, moveu um processo contra uma certa
Águida, parda forra. Dizia Salvador que Águida lhe devia a quantia de 4$600
réis, “procedidos de fazendas” que lhe forneceu em troca de mantimentos “para
sua viagem” às minas de Cuiabá. Ainda que Águida não tenha cumprido o
compromisso assumido, o fato é que pequenos produtores participavam do
fornecimento de mantimentos para as expedições monçoeiras (44). Tal como as
monções comerciais, as expedições de caráter oficial também contribuíam para
dinamizar a economia da vila. Uma delas, ocorrida em 1804, foi composta por 21
canoas e139 homens. Entre o pagamento das embarcações, tripulação e
mantimentos, a Coroa Real desembolsou 9:575$727 réis (45). Em uma outra
expedição à Camapuam, o custo de mão de obra para o Erário Real foi de
1:353$000, valor referente ao pagamento de “setenta e sete praças da
tripulação” e 1:700$000 para o pagamento de “canoas, mantimentos, e o mais
necessário” que na vila de Porto Feliz se comprava (46). Em 1800, a expedição
de Cândido Xavier de Almeida e Souza partiu de Porto Feliz, levando de mantimentos
174 alqueires de farinha de milho, seis de mandioca, três de arroz, 81 de
feijão, quatro de milho, seis de sal, 81 arrobas de toucinho, seis arrobas de
açúcar, um rez charqueada, 20 entrecosto, 30 galinhas, e 72 medidas de
aguardente de cana. Para o seu transporte foram três canoas grandes, um canoa
pequena de montaria, dois batelões, um novo e um velho, sete esgotadores, oito
remos para os pilotos, seis remos para os contra piloto, seis para os proeiros
e 16 para os remeiros. Embora tivesse sido previsto saírem de Porto Feliz com
31tripulantes, no dia da partida “subiu ao dobro o número dos deixaram a vila”.
Toda a organização da expedição fora feita na vila de Porto Feliz. Segundo
Cândido Xavier, na vila “existiam as embarcações do transporte, víveres,
munições, petrechos, e gente de tripulação que se destinava para a (...)
expedição” (47). Neste mesmo ano de 1818, uma dessas expedições reais estava
atrasada em sua partida e só poderia sair em junho “porque os mantimentos ainda
se [achavam] pelas roças e não [estavam] em tempos de se recolherem” (48). Não
obstante, neste mesmo ano, 12 pessoas da vila, moradoras na freguesia de
Piracicaba, exportaram capados. Além de capados, esses moradores estavam todos
envolvidos com a produção de mantimentos. Félix Antônio produziu 1200 alqueires
de milho, 70 de feijão, 20 arrobas de algodão, além de ter 100 capados. Outros
três fogos produziram entre 200 a 250 alqueires de milho, dois entre 50 a 100
alqueires, e três produziram menos que 40 alqueires. Desses 12 agricultores,
sete moravam no bairro do Rio Acima. Esta denominação indica residência nas
proximidades do Rio Tietê, e fazia parte do trajeto das canoas que rumavam a
Cuiabá. Ainda em 1818, Inácio Frutuoso vivia “de vender muito mantimento”.Essa
afirmativa é corroborada por sua produção, pois, com seus 19 escravos, seu fogo
produziu1200 alqueires de milho, 110 de feijão e 30 de arroz. Inácio Frutuoso e
Águida demonstram que grandes e pequenos e produtores foram estimulados pela
rota das monções. Além de fornecer mantimentos para as expedições, de Itu e
Porto Feliz saíam também os pilotos, proeiros e remeiros que formavam as
tripulações das expedições, bem como os próprios remos e canoas.
Canoas, remos, e seus construtores no rol de exportações da
vila de Porto Feliz, ao lado de açúcar, aguardente, milho, feijão, sempre
figuraram canoas para o Cuiabá. A venda de canoas contribuía para o sustento de
moradores de localidades próximas ou pertencentes a Itu. A freguesia de
Piracicaba, por exemplo, subordinada à Itu e, posteriormente à Porto Feliz, “só
pode sustentar-se nos primeiros anos de seu estabelecimento, depois que os
moradores se dedicaram a fabricar e vender canoas” (49). Entre os moradores
envolvidos com consertos e construção de canoas e remos está o soldado Tomé
Pacheco Gonçalves. As listas nominativas apontam que Tomé Pacheco Gonçalves
vivia de “lavouras e [de] fazer canoas” e possuía em bens três mil cruzados (um
conto e duzentos mil réis), o que fazia dele neste ano um dos nove homens mais
ricos de Araritaguaba (50). Evidente que não estamos dizendo que sua fortuna
adveio somente da construção de canoas e que os que se dedicavam a esse ofício
eram tão bem afortunados. Dentre os 404 chefes de fogos de 1.767, estavam Simão
Correia Estevão, que vivia como “feitor de canoas” e Pedro Vaz Campos, que
vivia de “fazer canoas”. Além do ofício, tinham em comum apenas 100$000 em
bens. Não tinham bens como Tomé, mas pelo menos não se incluíam entre os 174
fogos que não possuíam nada. Em 1766, em Itu, Inácio Oliveira Gil também vivia
de “fazer canoas” e contava apenas15 mil réis em bens. Neste mesmo ano, José
Brito Leme, 56 anos, casado com Quitéria Silva, era outro que vivia de “fazer
canoas” e tinha em bens 25$600 réis. Uma situação que os colocava entre os 82
(3l,8%) fogos de Itu que possuíam renda até 100$000. Em um universo de 258
fogos, isto os isentava dos 116 que não tinham nada.Embora nem todos os que se
dedicassem a construir canoas fossem afortunados, para alguns foi possível um
certo acúmulo que permitiu a aquisição de escravos. Das 23 pessoas listadas nos
maços de população de 1.766 envolvidas com ofícios de construtores, somente
dois não tinham alguma alusão ao trabalho agrícola. A grande maioria aliava o
trabalho de construção com as lides agrárias, como era de se esperar.
Certamente, o produto obtido com a lavoura destinava-se à necessidade do fogo,
mas alguns tinham produções significativas, e possivelmente colocavam parte
dessa produção no mercado.
Em 1.773, Francisco Pinto Rego que vivia de “fazer canoas”,
tinha em seus bens um sítio pequeno e umas terras, além de dois escravos.
Inácio Pinheiro Correia vivia de “fazer canoa” e tinha umas terras de sesmaria
e sete escravos. Ainda em 1773, o soldado Roque Pinheiro além de “fazer
canoas”, vivia de “suas lavouras”, e possuía um sítio com 100 alqueires de
milho e três escravos. Neste mesmo ano, Vicente Dias Falcão vivia de fazer
remos e possuía um sítio pequeno e dois escravos. Em 1803 as listas nominativas
descrevem Vicente Dias Falcão vivendo de “fazer canoas” e plantando
“mantimentos para o seu gasto”, auxiliado por seus dois escravos e por seus
quatro filhos com idades entre 15 a 18 anos. Neste ano, um dos filhos de
Vicente encontrava-se em Cuiabá. Em 1776, Inácio Pinheiro Homem vivia de fazer
canoas. Entre seus bens havia três escravos e um “sítio em que lavra somente
para sustentar-se”. Em 1795, Inácio foi inventariante de sua esposa, Mariana
Cardoso Lima. Entre os bens do casal constava “uma morada de casas de paredes
de mão, cobertas de telhas de dois lanços” e “meia légua de terras”, uma arma
de fogo no valor de 3$200 réis, um touro, quatro cavalos, uma vaca com cria, e
uma junta de bois que juntos valiam 43$800 réis, alguns utensílios e oito
escravos.Outro que pode ter conseguido algum tipo de pecúlio a partir de seu
ofício de fabricar remos foi João Gomes Escobar. Em 1798 vivia de “fazer remos
para Cuiabanos”, cujo ofício lhe rendia 16$000 anualmente; além disso,
“plantava mantimentos para o seu gasto”. Em 1803, João Gomes vivia ainda de
“fazer remos para os navegantes Cuiabá” e era senhor de um escravo. As listas
de 1808 e 1813 mencionam João Gomes apenas ligado a atividades agrárias e não
listam nenhum bem. No entanto, em 1818, já viúvo, foi descrito como lavrador
tendo produzido 200 alqueires de milho, oito de feijão e sete de arroz. Em
1798, as listas nominativas se reportam a Julião Pinto Freitas vivendo de
construir “canoas para vender aos cuiabanos”. Com dois escravos e a mão de obra
de seus cinco filhos com idades entre 11 e 23 anos plantava “mantimentos para
seu gasto”. Em 1808, Julião Pinto Freitas faleceu. No seu inventário, consta
que ele possuía “terras com casa de palha sem porta nem janela”, itens que se
localizavam no Bairro do Quilombo em Porto Feliz, avaliados em 12$800. Dentre
seus outros bens, havia 14$440 em ferramentas e utensílios; quatro vacas, um
novilha, um“boizinho”, um cavalo “velho” e uma égua que somavam 26$280; havia
ainda cinco escravos que valiam 358$200. Apesar de possuir 158$035 em dívidas,
seu inventário apresentou um valor líquido de 254$145. É certo que não se trata
de uma quantia avultada, mas é uma “pequena fortuna (...) bastante grande para
a maioria da população que nem testamento ou inventário fazia por “não ter de quê” (51). Em 1773, José Toledo
Pires, além de “fazer canoas”, lavrava em terras alheias “para seu sustento”.
Possuía quatro vacas com dois crias e cinco escravos. Em 1774 as listas
nominativas mostram José Toledo com uma produção de 50 alqueires de milho, 10
de feijão, além de três cabeças de gado e sete escravos. Outro que vivia em
situação semelhante a José Toledo Pires era João de Souza Prado. As listas
nominativas de Araritaguaba para o ano de 1774 apresentam João Souza do Prado
vivendo de “fazer remos” e plantando em “terras devolutas”. Embora não tivesse
escravos nem filhos que o auxiliassem no trabalho na lavoura, colheu 15
alqueires de milho e quatro de feijão. Possuía ainda um cavalo, 10 cabeças de
porcos e 10 leitões. Se somente ele e a esposa moravam no fogo, a quantidade de
porcos que possuía não se destinava somente ao consumo da casa, certamente uma
parte era colocada no mercado.Talvez este fosse o caso também de José de
Almeida Falcão, bem como o de Sebastião Machado de Lima. Em 1767, José de
Almeida Falcão aparecia nas listas nominativas com bens na ordem de 600$000
réis. Em 1776, vivia de fazer canoas, conjugando essa atividade com a de
lavrador. Colheu 300 alqueires de milho, 30 de feijão, 25 de amendoim. Essa
produção foi conseguida com o trabalho de 13 escravos. Neste mesmo ano de 1776,
em Araritaguaba, Sebastião Machado Lima, de 71 anos, vivia de “fazer canoas”;
possuía 12 escravos entre “velhos e rapazes” e um sítio “com escritura”, onde
colhia 300 alqueires de milho, 60 de feijão, além de possuir 12 cabeças de
gado. O fato de mencionar sítio “com escritura” indica que o acesso à
propriedade pode ter sido conseguido pela compra, dentre outras formas
possíveis. Se foi o caso, no decorrer de sua vida, Sebastião acumulou capital
que o permitiu adquirir aquela propriedade. Assim, perseguindo a trajetória dos
23 listados nos maços de população de diversos anos com ofícios de
construtores, 10 conseguiram algum acúmulo que permitiram a aquisição de
escravos. Os remos e canoas fabricados por essas pessoas eram de extrema
utilidade para guias, pilotos, proeiros e remeiros que navegavam pelos rios
rumo ao Cuiabá.
A tripulação monçoeira: guias, proeiros e remeiros
Ao discorrer sobre os homens que compunham as tripulações
monçoeiras, Antônio da Silva Leite, capitão mor da vila de Porto Feliz, responsável
pela organização de várias expedições reiúnas ao Mato Grosso, afirmou: “com os
vadios deste país é que se formam as tripulações das repetidas expedições que
desta vila partem para o Cuiabá”. Acrescentava, porém, que aquela “gente de
alguma maneira [deveria] ser respeitada por sua habilidade no trabalho do rio”
(52). Em 1784, comerciantes que se dedicavam a rota Araritaguaba-Cuiabá
queixavam-se de “alguns pilotos, proeiros e remeiros de suas canoas (...) [que]
depois de receberem toda a paga ou parte dela costumam fugir nas vésperas da
saída [e] outros deixam de dar cumprimento aos ajustes, causando lhes (...)
notável prejuízo”. Insistentemente, solicitavam ao capitão-mor Vicente da Costa
Taques e Aranha que, sob “pena de prisão”, fizesse os camaradas irem “ao Porto
de Araritaguaba”, obrigando-os a cumprirem os seus ajustes. O capitão mor
acreditava que alguma providência deveria ser tomada por considerar aquele
comércio de utilidade do Real Erário. No entanto, alegava que a providência não
seria apenas como os comerciantes queriam, sob pena de prisão. O que se poderia
fazer era obrigar os que tivessem recebido toda a paga, ou parte dela, a dar
cumprimentos aos ajustes, inclusive os que quisessem devolver a quantia
recebida. Deveria argumentar que os comerciantes não teriam “tempo de procurar
outros camaradas” e que a “a menor demora” no embarque era muito prejudicial
aos negócios (53). Vadios e habilidosos, eis as percepções que muito
provavelmente uma certa parcela da sociedade fazia daqueles que se dedicavam
aos ofícios de pilotos, remeiros, proeiros e guias das monções. Quais seriam as
razões para qualificar aqueles homens de vadios e, ao mesmo tempo, de
habilidosos? No que se fundamentavam aquelas percepções? Quem eram aqueles
homens que viviam das artes de navegar? Pelos relatos, foi possível observar
que para fazer parte da tripulação de uma expedição monçoeira, mais do que se
considerava coragem, eram necessários força física, conhecimento de técnicas de
navegação, do trajeto a ser percorrido, o que, certamente, demandava
aprendizagem e experiência. Pressupunha, enfim, o domínio de um saber
especializado. Por isso, Dom Antônio Rolim, classificou a navegação no caminho
das monções como uma arte, enquanto o capitão-mor Antônio da Silva Leite
enfatizou a habilidade dos homens que dominavam técnicas e saberes. Deste modo,
percebe-se que contemporâneos a monções valorizavam, até certo ponto, o
trabalho de remeiros, proeiros, pilotos, dentre outros que se lançavam rumo ao
Cuiabá. Ainda que houvesse, obviamente outros tipos de tratamento.Todavia, uma
parcela da sociedade setecentista e oitocentista, bem como historiadores de
séculos posteriores, classificava aqueles que se ocuparam dos ofícios
monçoeiros, como vadios, ou “desafeitos
ao trabalho e à ordem – vagabundos e criminosos”, parte de um conjunto“cuja
harmonia só a ameaça de castigos corporais conseguia manter” (54). A partir de
1798, as listas nominativas passam a indicar a cor dos moradores de Itu e
Araritaguaba. Em relação aqueles que faziam parte das tripulações ( guias,
pilotos, remeiros, proeiros, mareantes, navegantes etc.), nota-se que a maior
parte deles era formada por pardos (Tabela 4). Dessa forma, é possível perceber
que 73,9% dos tripulantes monçoeiros eram pardos, 4,3% negros e 18% brancos.
O que significava ser pardo na sociedade colonial?
Mais do que a simples
aparência da tez, segundo Sheila de Castro Faria significava situar-se “a meio
caminho entre a certeza da liberdade e o comprometimento com algum antepassado
escravo”, expressando pois uma condição social, estigmatizada. Pardos, livres e
forros nunca deixavam de ter relembrada a sua origem escrava. Havia adjetivos
pejorativos para aqueles que se situavam entre o “senhores e escravos”, tais
como vadios, como disse o capitão-mor de Porto Feliz, expressando percepções de
grupos dominantes no período escravista a respeito daqueles homens. Segundo
Sheila Faria, historiadores também os classificaram como “marginais”,
“desclassificados”, ou componentes do “mundo da desordem”. Porém, eram “mão de
obra potencial ou adequados e subjugados ao poder de mando dos “homens bons’”
e, quando “livres e autônomos, significavam ameaça à ordem que se queria
impor”. Por isso, a exigência feita ao capitão-mor da vila de Itu, Vicente
Taques, obrigando, sob “pena de prisão”, os camaradas a cumprirem os ajustes
feitos com os comerciantes. Era o que Castro Faria chamou de“aprendizado da
obediência e da sujeição” (55). Mas não apenas o capitão-mor e comerciantes
desqualificaram os tripulantes das monções.
Já se afirmou que eram “criados na ociosidade e inadaptáveis à
disciplina rígida” que o trabalho monçoeiro exigia (56). Isto difere de alguns
casos observados nesta pesquisa. Perseguindo trajetórias de algumas pessoas que
viviam da “navegação do caminho do Cuiabá”, de “mareante do caminho do Cuiabá”,
de “piloto do caminho do Cuiabá”, de “guia do Cuiabá”,de “proeiro” e de
“remeiro”, foi possível perceber a constância delas no exercício de seus
ofícios. Ângelo de Góes, por exemplo viveu da “navegação do caminho do Cuiabá”
de 1798 a 1813. Portanto, permaneceu nas lides do rio pelos menos durante 15
anos. Agostinho Ferraz, durante 20 anos, Antonio Lopes 21 anos, Bento Teixeira
21, João Cardoso 15, Pedro Leme da Silva 20 anos. Outros exemplos poderiam ser
relatados, mas o que importa é enfatizar que esses homens nada tinham de vadios
ou ociosos, eram, sim, trabalhadores, que exerciam ofícios que exigiam o
domínio de técnicas e saberes. Difícil saber quanto era pago à tripulação pelas
viagens à Cuiabá, já que, certamente, no decorrer do período monçoeiro, houve
variações no valor pago, bem como para cada tipo de função.Em 1.826, Hércules
Florence, ao referir-se ao pagamento da tripulação, informou que aqueles
“pobres coitados empenham os seus serviços para tão penoso lidar por 20 francos
mensais, além de alguma roupa grosseira”, já que era somente “o espírito
aventureiro” que os impelia a “contratos dessa natureza” (57). Tempos depois,
em 1830, Leverger informou que os salários da tripulação eram 200 a 240 réis
para os pilotos e proeiros, 160 réis para o contra piloto, e 120 a 140 réis
para os remeiros. Todavia, Leverger não específica se esses valores eram pago
diariamente, semanalmente etc., apenas não entendia porque os tripulantes se
sujeitavam a tão“mesquinha retribuição” (58).
Difícil de acreditar que somente o “espírito aventureiro”
estimulasse esses homens a lançar-se nas monções, como relatou Hércules
Florence, e que se sujeitavam por mesquinha retribuição. Algum ganho material
deveriam ter. Até mesmo porque algumas pessoas viviam do “jornal de seus
escravos no caminho do Cuiabá”, como o soldado de cavalaria Francisco Rodrigues
que, em 1803, colocou seus três escravos nesta função, bem como a viúva
Bernarda de Lara que, neste mesmo ano, vivia do “jornal do seu mulato no
caminho de Cuiabá” (59). Não obstante as dificuldades para saber o quanto
rendiam os ofícios ligados às atividades do rio, é possível, rasteando outras
informações, detectar que, como aos que se dedicavam a construir ou consertar
canoas e remos, aquelas ocupações permitiram o acumulo de algum pecúlio. Entre
161 tripulantes, 32 (19,9%) entraram no seleto mundo dos proprietários de
escravos, cujas escravarias variaram entre um e 7, metade com apenas um
cativo.Em 1767 o piloto Antônio Pinto do Prado, 36 anos, casado com Maria
Antunes, possuía nada. No decorrer de sete anos, seu ofício deve ter
contribuído para o acúmulo de bens, já que em 1774 possuía um sítio com 100
braças de terras de testada e meia légua de sertão, onde colhia 16 alqueires de
milho e quatro de feijão. Contava ainda com trabalho de uma escrava. Conforme
Carlos Bacellar, ao analisar pequenos proprietários de escravos na vila de
Sorocaba, a aquisição de um a cinco escravos e a entrada “no reduzido elenco
dos proprietários de mão de obra escrava” significavam que indivíduos “em um
dado momento de suas vidas, teriam acumulado reservas suficientes para
efetuarem aquilo que, à primeira vista, seria um investimento pesado para suas
restritas condições de vida.” (60). As expedições para o Cuiabá duravam em
média cinco meses para ir e dois na viagem de volta. Se Antônio participasse de
apenas uma expedição por ano, em alguns meses poderia dedicar-se aos trabalhos
da terra, juntamente com sua esposa, sua filha e sua escrava, o que certamente
resultaria numa produção que satisfizesse ao menos suas necessidades de
subsistência. Portanto, os tripulantes que iam para o Cuiabá, muito além do
espírito aventureiro e de se sujeitarem-se a uma mesquinha retribuição,
conseguiram, através de seus ofícios, ganhos materiais. Ademais, devido a
sazonalidade das atividades monçoeiras, diversificavam suas ocupações, aliando
a navegação nos rios com fainas agrícolas. Vinte e quatro tripulantes possuíam
sítio, quatro cultivavam plantavam em “terras devolutas”. No ano de 1774,
Francisco Gonçalves de Brito, piloto de canoas, possuía um “sítio com trezentas
braças de terras de testada com meia légua de sertão” e produziu 25 alqueires
de milho e cinco de feijão. Apesar de contar com um único filho com idade
produtiva, em seu fogo viviam quatro agregados todos em idade produtiva, além
de dois escravos. É bem possível que Francisco ainda atuasse como um pequeno
pecuarista, pois em 1773 contava com 40 cabeças de gado. Em 1767, o piloto
Bonifácio da Rocha não tinha bem algum, mas em 1774 colheu 30 alqueires de
milho, cinco de feijão e era proprietário de quatro escravos. Em 1798 as listas
nominativas apontam Lázaro Campos como proeiro do caminho do Além do ofício de
proeiro, Lázaro, juntamente com sua esposa e a mão de obra de seus três filhos
colheu 50 alqueires de milho, 10 de feijão e 10 arrobas de algodão. Parte dessa
produção venderam “para a terra”. Assim, feito os construtores de remos e
canoas, a alguns dos que trabalhavam como tripulantes das monções também foi
possível conseguir algum pecúlio com seu ofício.
Conclusão
Ainda que o assunto exija a necessidade de maiores
pesquisas, é bem provável que em algumas localidades da capitania paulista não
tenha existido uma ruptura profunda com século XVII, refere ao uso da mão de
obra indígena até meados do século XVIII. Possivelmente em Itu e Araritaguaba,
as famílias redirecionaram suas atividades a partir das possibilidades que a
descoberta do ouro trouxeram, mas ainda com base na mão de obra cativa,
sobretudo indígena,desenvolvendo uma estrutura agrária voltada para a produção
de mantimentos, não mais de trigo como no século XVII, e sim de milho e feijão,
bem como na proliferação de ofícios que deram suporte às expedições monçoeiras.
Os colonos, pois, de posse de seus administrados, plantaram mantimentos, ou
então, trabalharam nos ofícios de construtores de canoas, remadores, pilotos,
proeiros, dentre outras atividades. Assim, no espaço colonial, desenvolveram-se
setores agrários para além da plantation, isto é, uma agricultura não com
vistas ao mar, mas ligadas, fundamentalmente, aos processos de ocupação do
interior da colônia. O desenvolvimento da capitania paulista inseriu-se no
âmbito do projeto metropolitano português, pois, ao mesmo tempo que
comerciantes levavam sua mercadorias para a região das minas de Cuiabá, a
expansão rumo ao Extremo Oeste permitiu o povoamento da região, como era desejo
da Coroa, em meio a sérios conflitos com castelhanos, além do recolhimento de
impostos que o Erário Real obtinha com o comércio e com o ouro. Não obstante,
foi possível a comerciantes e agricultores de Itu e Araritaguaba acumular
cabedal a partir do mercado interno,tal como demonstram os casos de Luis Araújo
Coura e Domingos Rocha Abreu. As atividades de comerciantes e agricultores de
Itu e Araritaguaba do século XVIII em nada demonstram um estado de decadência –
ainda que em inícios e meados do século as localidades não sejam
necessariamente afortunadas, quando comparadas a áreas exportadoras da Bahia e
Rio de Janeiro. De todo modo, Itu e Araritaguaba, como áreas voltadas para o
mercado interno, mediante a rota das monções, tiveram papel importante na
configuração do espaço colonial. Foi desta rota que homens e mulheres, como
disse Luis Mascarenhas, tiravam as suas conveniências, ou seja, tiravam do
comércio monçoeiro os recursos necessários à sua sobrevivência. Alguns
enriqueceram.
Notas:
1 Sobre o assunto cf BLAJ, Ilana. A trama das tensões. O
processo de mercantilização de São Paulo colonial. (1671-1721). São Paulo:
Universidade de São Paulo, 1995, Tese de Doutoramento, pp. 186, 194; GODOY,
Silvana Alves de Godoy. Itu e Araritaguaba na rota das monções
(1718-1838).Campinas: UNICAMP, Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em História Econômica, 2002, capítulo 1.
2 PRADO, Paulo. Paulística. História de São Paulo. Rio de
Janeiro: Ariel Editora Ltda., 1934, pp. 25 a 28. Cf.também, Carlos Davidoff,
que afirma que com a descoberta de ouro os paulistas migram para áreas
mineradoras, despovoando a capitania, cujo estado de decadência “perdurou por
aproximadamente um século e meio, até que o advento do café e as estradas de
ferro trouxessem consigo uma fase de desenvolvimento mais estável”.
DAVIDOFF,Carlos. Bandeirantismo: verso e reverso. São Paulo: Editora Brasiliense,
7a. ed., 1993, pp. 82 e 84.
3 ELLIS JÚNIOR, Alfredo. Os primeiros troncos paulistas. São
Paulo: Editora Nacional; Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1976, pp.118-
120.
4 MARCÍLIO, Maria Luiza. Crescimento demográfico e evolução
agrária paulista: 1700-1836. São Paulo: Hucitec,Edusp, 2000. p.15.
5 BARBOSA DE SÁ, Joseph. “Relação das povoações do Cuiabá e
Mato Grosso de seus princípios até os presentes tempos”. In: Anais da
Biblioteca Nacional, Volume XXIII, p. 21
6 Ordenanças de Itu. AESP. Caixa 55. Pasta 1, Documento 60,
Ordem 292.
7 NIZZA DA SILVA, Maria Beatriz, 1998, História da família
no Brasil Colônia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. p.38.
8 Ordenanças de Itu. AESP. Caixa 55. Pasta 1. Documento 74.
Ordem 292
9 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Monções. São Paulo:
Brasiliense, 1990, p. 105.
10 Ordenanças de Porto Feliz. AESP. Caixa 54, Pasta 1,
Documento 79, Ordem 291.
11
Saint-Hilaire. Auguste. 1976, Viagem à província de São Paulo. Belo
Horizonte: Itataia; São Paulo: EDUSP, p.76.
12 Documentos Interessantes. Volume XX, pp. 170-171.
13 ROLIM, D. Antonio. (Conde de Azambuja). “Relação da
viagem que fez o Conde de Azambuja, D. Antonio Rolim, da cidade de S. Paulo
para a vila de Cuiabá em 1751”. In: Taunay, Afonso de. Relatos Monçoeiros. BeloHorizonte:
Itataia; São Paulo: EDUSP, 1981, pp. 198 e 199
14 “Relação da chegada que teve a gente de Mato Grosso, e
agora se acha em companhia do senhor D. Antônio Rolim desde o Porto de
Araritaguaba, até a esta Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá”. In: Anais da
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Typografia Leuzinger,
Volume XX, 1899, pp. 245-248.
15 Sesmarias. Documentos do Arquivo do Estado de São Paulo.
São Paulo: Typografia Piratininga, 1921, pp. 382,383, 449, 485, 486, 492 e 493.
16 Relação das quantias oferecidas pelos moradores do bairro
de Araritaguaba. Documento 653.(Arquivo Histórico Ultramarino) Microfilme
Biblioteca Nacional.
17 CAMELLO, João Cabral. In TAUNAY, 1981, op. cit., p. 120
18 HOLANDA, Sergio Buarque de. 1990, op. cit., pp.. 290 e
237.
19 Documentos Interessantes para a Historia e Costumes de S.
Paulo, Volume : XIII, pp. 141-146.
20 Ordenanças de Itu. AESP. Caixa 55. Pasta 1. Documento 99.
Ordem 292
21 FERREIRA, Roberto Guedes. Cor e ocupação: Rio de Janeiro
e Porto Feliz (primeira metade do século XIX).Texto mimeo, 2002, p. 4.
22 JUZARTE, Theotônio. In SOUZA, Jonas Soares de &
MAKINO, Miyoko (Orgs.), Diário de Navegação. SãoPaulo: EDUSP, Imprensa Oficial
do Estado, 2000, p. 379.
23 Apud NÓBREGA, Melo, História do Rio Tietê. Belo
Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo, Edusp, 1981, p.148.
24 ABREU, Manoel Cardoso de. 1902, RHIGSP, Volume VI, op.
cit., p. 290.
25 As fontes utilizadas para aferir a trajetória dos membros
da família foram as listas nominativas dos anos 1766,1767, 1776, 1798, além de
ABREU, Manoel Cardoso, 1902, op.cit., e a obra “Nota sobre Manoel Caetano de
Abreu”in RIHGSP. Nota da Revista, 1902, Volume VI (1900-1901), pp. 291-293. Em
itálico estão as expressões tal como mencionadas nas fontes.
26 Museu Republicano
Convenção de Itu. Inventário de Luis Araújo Coura e de Luisa Pedrosa – Fundo do
Arquivo Central, Comarca de Itu.
27 Trinta anos, pelo menos, já que o primeiro dado que temos
acerca do envolvimento dos Coura em atividades comerciais data de 1766 .
28 Ordenanças de Itu. AESP. Caixa 55. Pasta 2. Documento 07.
Ordem 292.
29 Documentos Interessantes, Volume LXVI, p. 209-210.
30 Ordenanças de Itu. AESP. Caixa 55, Pasta 2.Documento 107,
Ordem no. 292
31 BLAJ, Ilana. 1995, op. cit., cf. especialmente capítulo
IV. Maria Yedda Linhares afirma que a capitania paulista foi a “retaguarda
econômica das regiões mineradoras do Centro e do Oeste brasileiros”. Para a
autora, o surgimento de um mercado mais lucrativo leva o lavrador “a retirar o
seu produto do mercado local, transferindo-o para outro em busca de melhores
preços”, exatamente como ocorreu em Itu, Araritaguaba e São Paulo. LINHARES,
Maria Yedda L. História do Abastecimento; uma problemática em questão
(1530-1918). Brasília. Binagri, 1979, pp.64 e 125.
32 Apud.
VOLPATO, Luiza Rios Ricci. A conquista da terra no universo da pobreza.
Formação da fronteira oeste do Brasil. 1719-1819. São Paulo: Editora Hucitec;
Brasília: INL, 1987, pp. 33-36. As penetrações dos bandeirantes sertão a
dentro, bem como a migração de colonos para regiões auríferas no Centro-Oeste,
ocasionaram um novo desenho nos limites fronteiriços, “desgastando
profundamente os limites fixados pelo Tratado de Tordesilhas” e impondo “o
estabelecimento de novas linhas demarcatórias entre os domínios portugueses e
espanhóis na América”.VOLPATO, Luiza R., op. cit. Com objetivo de efetivar o
domínio sobre as novas terras conquistadas, a Coroa portuguesa, além propor as
discussões acerca do Tratado de Madri, criou, por Provisão do Conselho
Ultramarino, de nove de maio de1748, novas capitanias, a de Mato Grosso e a de
Goiás, desmembrando a capitania paulista. Cf.Revista do Instituto Histórico e
Geográfico de São Paulo, 1910, Volume: XV, p. 69.
33 Ordenanças de Itu. AESP. Caixa 55. Pasta dois, Documento
2. Ordem 291.
34 Ordenanças de Itu. AESP. Caixa 55. Pasta 1, Documento 99. Ordem 291. Essa situação
permaneceu pelo menos até 1748. Posteriormente, o registro foi transferido para
a Vila de Sorocaba .
35 Ordenanças de Porto Feliz. AESP. Caixa 54. Pasta 1. Documento
78. Ordem 291
36 Ordenanças de Itu. AESP. Caixa 55. Pasta 1. Documento 11.
Ordem 292
37 Ordenanças de Itu. AESP. Caixa 55. Pasta 1. Documento 85.
Ordem 292
38 Documentos Interessantes para a Historia e Costumes de
S.Paulo. Volume: V, pp. nove a 12. São emitidas ordens desse teor para os anos
de 1768, 1769, 1770, 1771 e 1772. Cf. Documentos interessantes Volumes VI ao
IX.
39 Documentos Interessantes para a história de São Paulo.
Volume V, p. 44.
40 Documentos Interessantes para a Historia e Costumes de
S.Paulo. Volume: VIII, p. 122.
41 Ordenanças de Porto Feliz. AESP. Caixa 54. Pasta 1.
Documento 17. Ordem 291
42 Ordenanças de Porto Feliz. AESP. Caixa 54. Pasta 1.
Documento 43. Ordem 291
43 Lourenço Costa Siqueira informou que vendeu seis
alqueires de arroz e um capado. Escolástica Francisca Xavier vendeu 30
alqueires de farinha de milho, 12 de feijão e três capados. José Rodrigues
Bicudo, 10 alqueires de farinha e de feijão. Francisco Almeida e Calisto Dias
venderam 20 alqueires de farinha, cada um. Carlos Pinheiro Almeida e Antonio
Rodrigues Costa, 30 alqueires de farinha; João Dias, seis de farinha e quatro
de feijão; Ângelo Ortiz de Camargo vendeu sete alqueires de farinha; Manoel
Gonçalves Soares, 13 alqueires de farinha de milho; Manoel Pinheiro Almeida, 10
alqueires de milho; Maria Silva, 15 alqueires; Mariana Siqueira, João Luis,
João Gonçalves Lima, Francisco José, Inácio Vicente venderam 12 alqueires de
milho; Maria Silva 15 alqueires de milho, Mathias João Costa 16 alqueires de
farinha, Miguel Alvares 13 alqueires de milho. Os exemplos se multiplicam.
44 Juramento d’Alma. MRCI. Caixa 77. Documento 27.
45 Documentos Interessantes para a História e costumes de
São Paulo. Volume 94, pp. 137 e 138.
46 Ordenanças de Porto Feliz. AESP. Caixa 54. Pasta 1.
Documento [ilegível] Ordem 291
47 ALMEIDA E SOUZA, Cândido Xavier de. RIHGB. 1951, Volume 202, op. cit., pp. 1-14.
48 Ordenanças de Porto Feliz. AESP. Caixa 54. Pasta 1.
Documento 77. Ordem 291.
49 HOLANDA, Sérgio B. Caminhos e Fronteiras. São Paulo: Companhia
das Letras, 1994, p. 146 e Ordenanças dePorto Feliz. AESP. Caixa 54. Pasta 1.
Documento ilegível Ordem 291.
50 Lista Nominativa de Itu. AESP. 1767.
51 FARIA, Sheila de Castro. A colônia Brasileira. Economia e
Diversidade, São Paulo: Editora Moderna, 1997,, p.62.
52 Ordenanças de Porto Feliz. AESP, Cx. 54. Pasta 2.
Documento 15. Ordem 291
53 Ordenanças de Itu. AESP. Caixa 55. Pasta 1. Documento 35.
Ordem 292.
54 NÓBREGA. Melo, Op. cit., 1981, p.116.
55 FARIA, Sheila de Castro de. A colônia em movimento.
Fortuna e família no cotidiano colonial. Rio de Janeiro:Nova Fronteira, 1998,
op. cit., pp. 103, 108 e 109.
56 HOLANDA, Sérgio Buarque.1990, op. cit., p. 68.
57 FLORENCE, Hercules. Viagem Fluvial do Tietê de 1825 a
1829. São Paulo: Cultrix, Edusp. 1977, p. 33
58 LEVERGER, Augusto. RIHGB. Volume 247, 1960,. p. 365.
59 Lista Nominativa de Porto Feliz, 1803.
60 BACELLAR, Carlos de Almeida Prado. “A escravidão miúda em
São Paulo Colonial” In: Brasil: colonização e escravidão. Org.: Maria Beatriz
Nizza da Silva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000, pp. 241 e 243
Fontes Ordenanças de Itu. AESP. Caixa 55. Pasta 1,
Documentos: 11, 35, 60, 74, 85, 99,. Ordem 292 e Pasta 2, documentos 7e
107.Ordenanças de Porto Feliz. AESP. Caixa 54, Pasta 1, Documentos: 77, 79, 78,
17, 43, Pasta 2:documento 15Juramento d’Alma. MRCI. Caixa 77. Documento
27.Processo Civil. AESP, Caixa 44, Ano 1737, Ordem 3477.Anais da Biblioteca
Nacional, Volumes: XX e XXIII.Sesmarias. Documentos do Arquivo do Estado de São
Paulo. São Paulo: Typografia Piratininga, 1921.Relação das quantias oferecidas
pelos moradores do bairro de Araritaguaba. Documento 653.(Arquivo Histórico
Ultramarino) Microfilme Biblioteca Nacional. Documentos Interessantes para a
Historia e Costumes de S.Paulo. Volume: 5, 8, 13, 20, e 66.Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro. Volumes: 202, 247,. Revista do Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo. Volumes: 6, 15 e 94. Inventários: Julião
Pinto de Freitas – Pasta 226, Doc. 03 – Museu republicano Convenção de Itu
Luisa Pedrosa – Fundo do Arquivo Central, Comarca de Itu – Museu Republicano
Convenção de Itu Bibliografia BACELLAR, Carlos de Almeida Prado. “A escravidão
miúda em São Paulo Colonial” In: Brasil:colonização e escravidão. Org.: Maria Beatriz
Nizza da Silva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,2000.BLAJ, Ilana. A trama das
tensões. O processo de mercantilização de São Paulo colonial. (1671-1721). São
Paulo: Universidade de São Paulo, 1995, Tese de Doutoramento . CAMELLO, João
Cabral. In: Taunay, Afonso
de. Relatos monçoeiros. Belo Horizonte: Itataia; São Paulo: EDUSP,
1981.ELLIS Júnior Alfredo. Os primeiros troncos paulistas. São Paulo: Editora
Nacional; Brasília:Instituto Nacional do Livro, 1976.FARIA, Sheila de Castro
de. A colônia em movimento. Fortuna e família no cotidiano colonial.Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1998. A colônia Brasileira. Economia e Diversidade..
São Paulo: Editora Moderna, 19971FERREIRA, Roberto Guedes. Cor e ocupação: Rio
de Janeiro e Porto Feliz (primeira metade do século XIX). Texto mimeo, 2002.
FLORENCE, Hercules. Viagem Fluvial do Tietê de 1825 a 1829. São Paulo: Cultrix,
Edusp.1977.GODOY, Silvana Alves de Godoy. Itu e Araritaguaba na rota das
Monções (1718-1838).Campinas: Universidade de Campinas, 2002, Dissertação de
Mestrado.HOLANDA, Sérgio Buarque de. Monções. São Paulo: Brasiliense,
1990.______ Caminhos e Fronteiras. São Paulo: Companhia das Letras, 1994
JUZARTE, Theotônio. In SOUZA, Jonas Soares de & MAKINO, Miyoko (Orgs.),
Diário de Navegação. São Paulo: EDUSP, Imprensa Oficial do Estado,
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questão (1530-1918). Brasília. Binagri, 1979.. MARCÍLIO,Maria Luiza.
Crescimento demográfico e evolução agrária paulista: 1700-1836. São Paulo:
Hucitec, Edusp, 2000.NIZZA DA SILVA, Maria Beatriz. História da família no
Brasil Colônia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1998 NÓBREGA, Melo, História do
Rio Tietê. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo, Edusp,1981.PRADO,
Paulo. Paulística. História de São Paulo. Rio de Janeiro: Ariel Editora Ltda.,
1934.DAVIDOFF, Carlos. Bandeirantismo: verso e reverso. São Paulo: Editora
Brasiliense, 7a.ed.,1993.ROLIM, D. Antonio. (Conde de Azambuja). “Relação da
viagem que fez o Conde de Azambuja,D. Antonio Rolim, da cidade de S. Paulo para
a vila de Cuiabá em 1751”. In: Taunay, Afonso de.Relatos monçoeiros. Belo
Horizonte: Itataia; São Paulo: EDUSP, 1981.SAINT-HILAIRE. Auguste., Viagem à
província de São Paulo. Belo Horizonte: Itataia; São Paulo: EDUSP, 1976.TAUNAY,
Afonso E. “Monções, embarcações, tripulações, distâncias” In: Jonas Soares de
Souza (Org.) Araritaguaba. Porto Feliz. São Paulo: Canton, 1979.VOLPATO, Luiza
Rios Ricci. A conquista da terra no universo da pobreza. Formação da fronteira
oeste do Brasil. 1719-1819. São Paulo: Editora Hucitec; Brasília: INL, 1987.
(*) Silvana Alves de Godoy - Mestre em História
Econômica pela UNICAMP
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