domingo, 15 de maio de 2016

Parque das Monções - Geologia - formação


O Parque das Monções está situado na cidade de Porto Feliz, cerca de 100 quilômetros de São Paulo. Trata-se de um espesso pacote de arenitos e arenitos conglomeráticos de granulação heterogênea, formando camadas delgadas a bancos cuja espessura pode alcançar várias dezenas de metros. São maciços ou mostram estratificação plano-paralela, podendo ocorrer também marcas de onda, estratificação cruzada e acamamento gradacional. Segundo a geologia convencional suas características indicariam uma sedimentação do tipo fluvial/deltáica. Os deltas são sedimentos depositados na desembocadura dos rios em um corpo aquoso como lagos ou oceanos.
As rochas do Parque das Monções estão incluídas na Formação tararé, uma unidade litológica da Bacia do Paraná de idade presumidamente carbonífera. Estas rochas apresentam uma complexa associação de fácies, quase todas detríticas, sucedendo vertical e horizontalmente de maneira mais ou menos rápida podendo atingir 1300 metros de espessura. Predominam arenitos de granulação heterogênea, mineralogicamente imaturos, passando a arenitos feldspáticos e mesmo a arcósios. Embora constituída quase inteiramente de sedimentos clásticos (pequenos fragmentos de rocha erodidos de uma fonte externa), localmente podem ocorrer delgadas camadas de carvão e calcário(1) . São encontrados fósseis de braquiópodes, pelecípodes, gastrópodes e crinóides indicando, portanto, um ambiente marinho. Restos vegetais também são muito comuns destacando-se a presença de Glossopteris, uma variedade extinta de plantas do grupo das Pteridospermas. Segundo a interpretação criacionista, as rochas da Formação Itararé estariam relacionadas às fases iniciais do dilúvio num momento de sedimentação clástica bastante ativa quando da invasão do mar sobre os continentes (fase transgressiva).
Estes sedimentos seriam produzidos pela ação de fortes correntes sobre áreas mais elevadas, os quais seriam depositados nas porções mais deprimidas ocupadas pelos mares epicontinentais. A presença de sedimentos imaturos como arenitos feldspáticos e arcósios indicam um transporte rápido em direção à bacia de sedimentação não havendo tempo suficiente para a maturação e classificação da fração terrígena.
 A Bacia do Paraná e o Dilúvio:  autor  Marcos Natal de Souza Costa

..aqui o inicio do texto para compreender o texto acima....e saber sua origem.

 A Bacia do Paraná e o Dilúvio: Por Marcos Natal de Souza Costa

Introdução:

A Bacia do Paraná constitui-se numa espessa seqüência sedimentar que, segundo a geologia convencional, teria se estabelecido sobre a Plataforma Sul-Americana a partir do Devoniano Inferior ou mesmo Siluriano. De acordo com a interpretação criacionista, estes sedimentos teriam se acumulado por ocasião do dilúvio bíblico narrado no livro de Gênesis a poucos milhares de anos atrás. Cobre uma extensa área envolvendo os estados brasileiros de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, sul de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás além de porções do Uruguai, Paraguai e Argentina. A constante subsidência da bacia permitiu a acumulação de grande espessura de sedimentos, lavas basálticas e sills de diabásio, atingindo na região mais profunda mais de cinco mil metros.
No final do 4o Encontro Nacional de Criacionistas realizado em janeiro de 2002 no Centro Universitário Adventista de São Paulo, Brasil, foi realizada uma excursão geológica na Bacia do Paraná com o objetivo de observar em campo alguns dos conceitos apresentados durante o evento além do reconhecimento de feições geológicas relacionadas ao dilúvio de Noé. Na ocasião, foram visitadas seis localidades com características peculiares de processos que teriam ocorrido durante o dilúvio e que permitiriam hoje sua reconstituição. A seguir, será apresentada uma síntese dos pontos visitados durante a excursão com ênfase numa interpretação geológica baseada em modelos catastrofistas.

Conclusões

A excursão geológica à Bacia do Paraná no Estado de São Paulo permitiu o reconhecimento de feições sedimentares relacionadas a uma grande inundação que, segundo a interpretação criacionista, seria atribuída ao dilúvio bíblico de Noé. De maneira geral, quando se sobe na estratigrafia é possível reconhecer uma fase transgressiva indicativa do avanço do mar sobre os continentes, seguida de uma fase de calmaria e finalmente de uma fase regressiva marcada por sistemas deposicionais característicos de áreas continentais.
A presença de depósitos glaciais não é incompatível com um dilúvio universal uma vez que a quantidade de poeira vulcânica emitida para a atmosfera em função da intensa atividade vulcânica criaria as condições para quedas bruscas de temperatura e a formação localizada de grandes blocos de gelo.
A persistência da natureza continental dos sedimentos acumulados sobre a Formação Piramboia indica que esta unidade teria marcado, nesta porção da Bacia do Paraná, o recuo das águas da face da terra e a retomada dos processos sedimentares de natureza continental.
Mesmo considerando que muitas das feições observadas favorecem os modelos catastrofistas para a deposição dos sedimentos da Bacia do Paraná, cabe ressaltar que estas interpretações são de caráter parcial, necessitando-se ainda inúmeros trabalhos nas áreas da estratigrafia e da sedimentologia para a corroboração final destes modelos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
(1) Mapa Geológico do Estado de São Paulo. Programa de Desenvolvimento de Recursos Minerais – Pró-Minério, 1981.
(2) Simpson, J. E. 1982 – Gravity currents in the laboratory atmosphere and ocean. Ann. Rev. Fluid Mech., 14:213-234.
Gruta em 1941



O sertão do medo

A viagem de Juzarte em 1979 começando em Porto Feliz....

Relato tenebroso sobre uma colônia em expansão

JOHN M. MONTEIRO

Em agosto de 1769, na remota praça militar de Nossa Senhora dos Prazeres do Iguatemi, o militar português Teotônio José Juzarte teve a boa fortuna de avistar um espetacular cometa, cuja "cauda muito comprida" atravessava a madrugada e iluminava o céu do sertão. O grande cometa daquele ano, "descoberto" pelo astrônomo francês Charles Messier e objeto da observação do capitão James Cook nos longínquos mares do Sul, também foi o sinal sob o qual nasceu uma das principais figuras da era das revoluções: Napoleão Bonaparte.
Mas, na fronteira tensa entre as Américas portuguesa e espanhola, esse evento astronômico foi de impacto menor. Para Juzarte, que o registrou em seu "Diário da Navegação do Rio Tietê, Rio Grande, Paraná e Rio Iguatemi", o cometa foi "digno de ponderação" e certamente serviu para distraí-lo e aos demais habitantes da praça do constante medo provocado por ameaças mais imediatas.
Leitura cativante, o "Diário da Navegação" narra as peripécias e sofrimentos dos homens, mulheres e crianças que partiram de Araritaguaba (atual Porto Feliz) no dia 13 de abril de 1769, na expedição que levava soldados, povoadores e suprimentos para a recém-fundada praça de Nossa Senhora dos Prazeres, às margens do rio Iguatemi e na boca de um vasto sertão, tão hostil quanto desconhecido. Os primeiros dois meses e dois dias, tempo gasto na viagem fluvial, ganharam um registro diário, documentando o duro cotidiano do "sertão oculto e habitado por muito gentio". O restante da obra oferece um breve resumo mensal dos fatos notáveis ocorridos na praça de Iguatemi ao longo dos quase dois anos em que Juzarte permaneceu naquele "apavorante presídio", nas palavras do historiador paulista Afonso Taunay.

Sob encomenda

Reeditada na coleção uspiana "Brasil 500 Anos", a obra de Juzarte não é um diário no sentido estrito do termo. O "Diário da Navegação" foi escrito sob encomenda, seguindo as recomendações explícitas do capitão-general de São Paulo, d. Luís Antônio de Souza Botelho e Mourão, o Morgado de Mateus. Tudo indica que Juzarte escreveu seu "Diário" depois de regressar a São Paulo, talvez a partir da memória, talvez a partir de anotações esparsas.
Os indícios aparecem no próprio manuscrito do Museu Paulista, que, aliás, não é original, pois não está escrito com a letra do autor. Nas primeira páginas, o texto anuncia a extensão total da viagem e, ademais, menciona-se o autor enquanto sargento-mor, cargo ao qual Juzarte foi nomeado apenas em 1773, ou seja, quatro anos após o início do "Diário".
Não é de estranhar esse fato, considerando-se as condições da viagem. As cachoeiras, a chuva, o bolor e os bichos mostravam-se impiedosos com o papel, sem falar dos equipamentos e das pessoas. Numa passagem curiosa do "Diário", Juzarte dá a entender que os viajantes tomavam cuidados especiais com o papel. A certa altura, num pouso à margem do rio Pardo, a expedição topou com umas "cartas de uns cuiabanos (...), as quais costumam deixar dentro em uma cava que se faz de uma grossa árvore (...), de sorte que outro viandante, que passa, as conduz".
O "Diário" vem salpicado de muitos outros detalhes fascinantes, permitindo vislumbrar aquilo que Sérgio Buarque de Holanda chamou de "civilização adventícia", cujo caráter móvel deixava rastros antes de povoados fixos. Em sua descrição da partida da expedição, Juzarte demarca claramente a ruptura entre o povoado e o sertão. Consolidada nas representações iconográficas posteriores de Adrien Taunay, Hercules Florence e Almeida Júnior, a partida da monção da vila de N.S. Mãe dos Homens de Araritaguaba constituía um evento solene.
"A este tempo todas as pessoas estão confessadas e sacramentadas, porque daqui para baixo não há mais igrejas, nem sacramentos", escreve o sargento-mor. Todos os viajantes e os moradores da vila se ajoelhavam "sobre o barranco do rio", enquanto se entoava a ladainha de Nossa Senhora. Já os "homens de mareação" ficavam nas canoas, "cada um no seu lugar, e os remos alvorados com as pás para o ar". Em seguida, o pároco benzia cada canoa, davam-se "muitas salvas de espingarda" e a primeira canoa partia, "levando a sua bandeira larga". Afastando-se a primeira canoa 150 braças rio abaixo, partia a segunda e assim por diante as demais 34 embarcações, carregadas de quase 800 pessoas, que "a pouca distância se acham em um sertão onde não há mais que a Divina Providência".

Medo e morte
Em contraste com a ordem do ritual da partida, a desordem da viagem fluvial transparece nos inúmeros desafios e tribulações que enchem as páginas do "Diário".
Assolados pela fome, acometidos pelas doenças, assediados pelos bichos e ameaçados pelo índios, os navegantes dos rios Tietê, Paraná e Iguatemi conviviam intensamente com o medo e a morte. A natureza, nesse relato, longe de exuberante e admirável, antes se mostra tenebrosa e abominável: são as cachoeiras que afogam os homens, as nuvens de insetos que deixam as vítimas "como se tivessem bexigas", os índios que meteram tantas flechas num menino que "parecia um São Sebastião". Os nomes das corredeiras e cachoeiras, frequentemente em tupi, denotam a força bruta da natureza ou encapsulam a memória de vítimas passadas: Avaremanduava é traduzido por Juzarte como "Onde foi a pique um jesuíta", Ixaxiririca é a "Água que ferve", Anhangaratá é o "Canal do Inferno", Putunduva é "Onde a vista se faz escura".
Outras guardavam simplesmente o nome daqueles que também foram a pique: Dugarcia, Matias Peres e Cachoeira do Cubas vêm com a anotação de que se "perdeu este homem nela".
O autor faz uma pequena digressão sobre a cachoeira de Avaremanduava, reveladora dos laços que os paulistas e os índios da expedição mantinham com o passado, em que a relação com o sertão mesclava história e misticismo. Segundo contaram a Juzarte, o jesuíta acidentado teria sido "um religioso de virtude chamado o p. José de Anchieta, o qual andava catequizando aos índios". Achando que o Abaré havia se afogado, despacharam um mergulhador índio para resgatar o corpo. Chegando ao fundo, achou o padre "vivo sentado numa pedra rezando no seu breviário, e por isso ficou o nome a esta cachoeira de Abaramanduaba".
Para além das cachoeiras, a morte rondava a expedição de maneira constante. No dia 15 de abril, por exemplo, segundo o sargento-mor, "amanhecemos como quem passou uma noite tão tenebrosa e perigosa, e achamos uma criança morta à qual se deu sepultura no mato, amanhecendo uns com fome e todos molhados de chuva". Mais adiante, já às margens do Iguatemi, a narrativa de Juzarte ganha dramaticidade ao relatar o terrível ciclo de doenças, fome e pragas de bichos que agravava a situação.
Em agosto de 1769, o precário acampamento foi atacado por uma sequência de seis "imundícias": primeiro "uma quantidade de ratos", depois pulgas, terceiro "uns bichos grandes felpudos, nojentos e muito moles", quarto uma "imensidade de baratas", quinto grilos que "roeram e despedaçaram com grande estrago toda a roupa de todos os povoadores" e, finalmente, nuvens de gafanhotos que "escureciam o sol", à semelhança de "coisas sobrenaturais". Nessa conjuntura, a fome chegou a um ponto crítico: "a ração não excedia a um prato de feijão para dez dias para cada pessoa, e outro de milho, e nada mais". Nessas condições, seis meses após partir de Araritaguaba, haviam morrido 37 pessoas e mais de 60 encontravam-se gravemente doentes.
Outra ameaça que rondava a expedição era o permanente espectro de um ataque indígena. Mas, se Juzarte evoca com habilidade o pavor que se tinha dos índios, a descrição dos povos nativos em si é decepcionante, muito inferior a outros relatos coevos. O "Diário" faz menção casual da presença de índios Cauã (caiová) e Cavaleiros (guaicuru) nas imediações de Iguatemi, porém quando descreve em maiores detalhes os aspectos dos índios inimigos, parece tratar-se de grupos "coroados" (kaingang, ofaié ou caiapó do sul), pois "têm na cabeça uma coroa à semelhança de Frade Bento". Ao que parece, Juzarte só conhecia os índios da expedição, em sua maioria bororos, grupo que havia se juntado aos paulistas desde a década de 1730 para combater os caiapós; muito provavelmente, era do ponto de vista desses bororos que vinha a imagem dos bárbaros inimigos. De qualquer modo, o contato com vestígios de roupas "com as roturas das flechas e também untadas de sangue" foi próximo o suficiente para o sargento-mor.

Emocionante aventura

Ao cabo dessa "viagem tão impertinente, tão perigosa e tão dilatada", o leitor se sente recompensado por ter acompanhado o sargento-mor numa emocionante aventura pela acidentada e encachoeirada história da expansão territorial. Esta nova edição, organizada pelo historiador portofelicense Jonas Soares de Souza e por Miyoko Makino, do Museu Paulista, traz ainda uma reprodução integral do manuscrito, complementado pelo antes inédito "Plano em Borrão de Todos os Rios e Todas as Cachoeiras", elaborado por Juzarte para acompanhar o seu "Diário". Documento insólito, o "Plano em Borrão" inclui mais de 50 estampas aquareladas, esmiuçando o curso dos rios entre Araritaguaba e Iguatemi.
As primeiras estampas são de grande interesse, pois identificam um número considerável de sítios espalhados ao longo do rio Tietê, demarcando a marcha do povoamento. Também cabe destacar o valor estético e iconográfico das últimas duas estampas, onde a cartografia dos rios é enquadrada por uma borda cuidadosamente estilizada e digna de um estudo à parte.
Esta nova edição do "Diário da Navegação" representa uma sensível melhora em relação às edições anteriores, inclusive a versão publicada em 1999 pela Editora da Unicamp, que, apesar de organizada pelo mesmo Jonas Soares de Souza, foi elaborada de maneira pouco cuidadosa. A transcrição foi revista, retificando os erros e a falta de consistência ortográfica que maculam as outras edições, o que torna a leitura mais fácil e agradável. Ainda assim, persistem algumas imperfeições. Os critérios adotados para a atualização da ortografia e da gramática (sobretudo na supressão e acréscimo de vírgulas) são pouco claros.
É estranha, por exemplo, a opção pela grafia "Gatemi" em vez de "Iguatemi", quando todos os outros nomes no "Diário" são atualizados e padronizados. Na página 81, a compreensão é prejudicada quando se lê "erramos só nove pessoas com três tiros", onde no manuscrito aparece "éramos só nove pessoas com três tiros" (pág. 313). A exemplo das edições anteriores, esta também ressente-se da falta de mais notas explicativas (há apenas uma no fim do "Diário"), situando personagens, lugares, eventos, povos indígenas e outros detalhes.
Finalmente, apesar do capricho na apresentação visual do texto e na reprodução de imagens, a editora cometeu dois deslizes sérios que atrapalham a apreciação da obra. Primeiro, deixou de identificar a autoria da "Apresentação" e do pequeno estudo final sobre "As Imagens de um Rio - Tietê". Mais grave, enxertou incorretamente as notas do estudo final bem no meio da transcrição do "Diário da Navegação" (pág. 31), o que deve confundir o leitor desavisado. De qualquer modo, nesses tempos em que se retoma a velha e boa tradição de transcrever e editar documentos manuscritos, a nova edição do relato de Teotônio José Juzarte é "digna de ponderação", como diria o sargento-mor.

John M. Monteiro é professor no departamento de antropologia da Universidade Estadual de Campinas e autor de "Negros da Terra" (Companhia das Letras).
Diário da Navegação
Teotônio José Juzarte -
Edusp/ Imprensa Oficial do Estado
Praça Matriz esquina com Jose Bonifacio. O prédio da janela e das meninas foi o Clube Recreatico Familiar e hoje é um prédio comercial

Praça Matriz com rua Andre Rocha....hoje prédio do Santander