Largo da Penha, praça Duque de Caxias em 1960
segunda-feira, 16 de maio de 2016
PORTO FELIZ
HISTÓRICO DA COMARCA
Na margem esquerda do rio Tietê, encontrava-se a aldeia dos índios guaianazes, assentada
sobre os paredões rochosos denominados “Araritaguaba” ( local onde as araras
bicam as pedras ). Nesse sítio, por volta de 1693, Antonio Cardoso Pimentel,
natural da cidade de São Paulo, iniciou uma fazenda e veio residir com seus
familiares. A ele, posteriormente, agregaram-se mais famílias, entre as quais a
de Antonio Aranha Sardinha, natural de Santos. Em 1700, Cardoso Pimentel erigiu
uma capela em homenagem a Nossa Senhora da Penha. O arraial permaneceu
estacionado por vários anos até que ricas minas de ouro, descobertas em Cuiabá,
viessem a dar maior desenvolvimento à povoação. A partir de 1719, tiveram
inicio as monções para Cuiabá, fato que contribuiu para o rápido
desenvolvimento do povoado. Em 1728 o arraial foi elevado à freguesia, sendo
seu primeiro vigário Filipe de Campos. Em 1750, por provisão do Bispo do Rio de
Janeiro, Frei D. João da Cruz, erigiu-se uma nova igreja a de Nossa Senhora Mãe
dos Homens. Para a nova igreja foram transportados todos os pertences da antiga
capela de Nossa Senhora da Penha, inclusive a imagem de Nossa Senhora Mãe dos
Homens.
A partir de 1750, a freguesia passa a denominar-se
“Nossa Senhora Mãe dos Homens de Araritaguaba”. E, em 1797, “Freguesia de Nossa
Senhora Mãe dos Homens de Porto Feliz”.
Atendendo à solicitação dos moradores, o Governador
D. Antonio Manuel de Melo Castro e Mendonça, mandou lavrar a Portaria de 13 de
outubro de 1797 elevando a freguesia à categoria de Vila e denominando-se de
Porto Feliz, tendo sido instalada em 22 de dezembro do mesmo ano. Em 16 de
abril de 1858, pela Lei nº 24, sancionada pelo Presidente da Província,
Conselheiro José Joaquim Fernandes Torres, foi elevada à categoria de cidade.
Inicialmente, Porto Feliz pertenceu à comarca de São
Paulo, depois a de Itu, Piracicaba e
novamente a de Itu. Em 1874 foi criada
a comarca de Capivari e Porto Feliz ficou pertencendo a ela até ser
criada a de Tietê, em 1880, a qual pertenceu por pouco tempo. Finalmente, pela
Lei nº 8, de 7 de fevereiro de 1885, Porto Feliz foi elevada à comarca de igual
nome.
EVOLUÇÃO ADMINISTRATIVA
FUNDAÇÃO: Por volta de 1700, quando foi erigida a
capela de Nossa Senhora da Penha
FREGUESIA: Em 1728, separando-se de Itu, a que
pertencia até aquela data.
VILA: Portaria de 13.10.1797, com a denominação de
Vila de Porto Feliz.
INSTALAÇÃO: 22.12.1797
CIDADE: Decreto nº 24 de 16.4.1858
CRIAÇÃO DA COMARCA
COMARCA: Lei nº 8, de 07.02.1885
ENTRÂNCIAS
1ª - Decreto Federal nº 126, de 9.1.1890
1ª - Lei nº 1.795, de 17.11.1921, art. 12 § 1
1ª - Lei nº 2.186, de 30.12.1926, art. 3 § 1
1ª - Decreto Lei nº 11.058, de 26.4.1940, art. 17 § 1
2ª - Lei nº 5.121, de 31.12.1958
2ª - Lei nº 5.285, de 18.2.1959, art. 25 c
2ª - Decreto lei nº 158, de 28.10.1969, art.5
2ª - Resolução nº 1, de 29.12.1971, art. 6
2ª - Resolução nº 2, de 15.12.1976, art. 31, I
2ª - Lei Estadual nº 3.396, de 16.6.1982
CRIAÇÃO DE VARAS
1ª Vara intalada em 24/01/1890
2ª VARA: Lei Complementar nº 762, art. 6º, XXI, de
30/09/1994
Instalada em
05/05/2000
FORO DISTRITAL DE BOITUVA: Lei nº 6166, de 29.6.1988, art.
1º, IV
INSTALAÇÃO: 5./9/1989
NOME DO FÓRUM: “Dr. Alcebíades Draco de Albuquerque” – Lei
nº 9458, de 5.7.1966. Denominação homologada, conforme Assento Regimental nº
267, de 9.10.1991.
JUIZES TITULARES QUE PASSARAM PELA COMARCA
Dr. Alcebíades Draco de Albuquerque 1892 a 1922
Dr. Clóvis de Moraes Barros 1923
a 1923
Dr. Sylvio Marcondes de Moura 1927
a 1930
Dr. Leandro Duarte de Almeida 1930
a 1935
Dr. Pedro Martha 1935
a 1938
Dr. Cantidiano Garcia de Almeida 1938 a
1939
Dr. Celso Penteado 1939
a 1940
Dr. Wando Henrique Cardim 1940
a 1945
Dr. Lúcio Marcondes do Amaral 1945
a 1948
Dr. Henrique Fagundes Neto 1948
a 1951
Dr. Ramiro Martins Silva 1951
a 1954
Dr. Arthur de Oliveira Costa 1954
a 1956
Dr. José Mauro Bourrol Ribeiro 1956
a 1957
Dr. Dagoberto Salles Cunha Camargo 1957 a 1958
Dr. Luiz Carlos da Costa Mendes 1958
a 1963
Dr. Dácio Rezende de Campos Maia 1963
a 1965
Dr. Nelson de Figueiredo Cerqueira 1966 a
1967
Dr. Luiz Eduardo Correia Dias 1967
a 1967
Dr. Antonio Ernesto Bittencourt Rodrigues 1968
a 1970
Dr. Luiz Nelson Ferreira de Carvalho 1970 a 1972
Dr. Geraldo de Féo Flora 1973
a 1974
Dr. Fernando Magalhães 1974
a 1974
Dr. Roberto Soares Lima 1974
a 1974
Dr. Ronaldo Vaz Comparato 1974
a 1974
Dr. Benedito Silvério Ribeiro 1975
a 1979
Dr. Lamartine Ferraz de Camargo 1979 a
1979
Dr. Gilberto Rodrigues Esgalha 1979
a 1982
Dr. Irineu Antonio Pedrotti 1982
a 1982
Dr. Antonio Rigolin 1982
a 1984
Dr. Carlos Eduardo Cauduro Padim 1983 a
1984
Dr. Danilo Panizza Filho 1984
a 1984
Dr. Morvan Meirelles Costa 1985
a 1986
Dr. Luiz Ronaldo França 1986
a 1987
Dr. Antonio Carlos Morais Pucci 1987
a 1989
Dr. Marcelo Martins Berthe 1989
a 1989
Dr. Sergio Gomes Sampaio 1989
a 1991
Dr. Marcelo Lopes Theodosio 1991 a 1993
Dr. Heitor Donizete de Oliveira 1993
a 1993
Dr. Marcelo França de Siqueira e Silva
(nunca assumiu a Vara) 1993
a 1993
1ª VARA
Dr. Luiz Fernando Nardelli 1993
a 1995
Dr. Luiz Francisco Tromboni 1995
a 1997
Drª Daniela Bortoliero Ventrice 1998
2ª VARA
Dr. Nelson Augusto Bernardes de Souza 1999
domingo, 15 de maio de 2016
Parque das Monções - Geologia - formação
O Parque das Monções está situado na cidade de Porto Feliz, cerca de 100 quilômetros de São Paulo. Trata-se de um espesso pacote de arenitos e arenitos conglomeráticos de granulação heterogênea, formando camadas delgadas a bancos cuja espessura pode alcançar várias dezenas de metros. São maciços ou mostram estratificação plano-paralela, podendo ocorrer também marcas de onda, estratificação cruzada e acamamento gradacional. Segundo a geologia convencional suas características indicariam uma sedimentação do tipo fluvial/deltáica. Os deltas são sedimentos depositados na desembocadura dos rios em um corpo aquoso como lagos ou oceanos.
As rochas do Parque das Monções estão incluídas na Formação tararé, uma unidade litológica da Bacia do Paraná de idade presumidamente carbonífera. Estas rochas apresentam uma complexa associação de fácies, quase todas detríticas, sucedendo vertical e horizontalmente de maneira mais ou menos rápida podendo atingir 1300 metros de espessura. Predominam arenitos de granulação heterogênea, mineralogicamente imaturos, passando a arenitos feldspáticos e mesmo a arcósios. Embora constituída quase inteiramente de sedimentos clásticos (pequenos fragmentos de rocha erodidos de uma fonte externa), localmente podem ocorrer delgadas camadas de carvão e calcário(1) . São encontrados fósseis de braquiópodes, pelecípodes, gastrópodes e crinóides indicando, portanto, um ambiente marinho. Restos vegetais também são muito comuns destacando-se a presença de Glossopteris, uma variedade extinta de plantas do grupo das Pteridospermas. Segundo a interpretação criacionista, as rochas da Formação Itararé estariam relacionadas às fases iniciais do dilúvio num momento de sedimentação clástica bastante ativa quando da invasão do mar sobre os continentes (fase transgressiva).
Estes sedimentos seriam produzidos pela ação de fortes correntes sobre áreas mais elevadas, os quais seriam depositados nas porções mais deprimidas ocupadas pelos mares epicontinentais. A presença de sedimentos imaturos como arenitos feldspáticos e arcósios indicam um transporte rápido em direção à bacia de sedimentação não havendo tempo suficiente para a maturação e classificação da fração terrígena.
A Bacia do Paraná e o Dilúvio: autor Marcos Natal de Souza Costa
..aqui o inicio do texto para compreender o texto acima....e saber sua origem.
A Bacia do Paraná e o Dilúvio: Por Marcos Natal de Souza Costa
Introdução:
A Bacia do Paraná constitui-se numa espessa seqüência sedimentar que, segundo a geologia convencional, teria se estabelecido sobre a Plataforma Sul-Americana a partir do Devoniano Inferior ou mesmo Siluriano. De acordo com a interpretação criacionista, estes sedimentos teriam se acumulado por ocasião do dilúvio bíblico narrado no livro de Gênesis a poucos milhares de anos atrás. Cobre uma extensa área envolvendo os estados brasileiros de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, sul de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás além de porções do Uruguai, Paraguai e Argentina. A constante subsidência da bacia permitiu a acumulação de grande espessura de sedimentos, lavas basálticas e sills de diabásio, atingindo na região mais profunda mais de cinco mil metros.No final do 4o Encontro Nacional de Criacionistas realizado em janeiro de 2002 no Centro Universitário Adventista de São Paulo, Brasil, foi realizada uma excursão geológica na Bacia do Paraná com o objetivo de observar em campo alguns dos conceitos apresentados durante o evento além do reconhecimento de feições geológicas relacionadas ao dilúvio de Noé. Na ocasião, foram visitadas seis localidades com características peculiares de processos que teriam ocorrido durante o dilúvio e que permitiriam hoje sua reconstituição. A seguir, será apresentada uma síntese dos pontos visitados durante a excursão com ênfase numa interpretação geológica baseada em modelos catastrofistas.
Conclusões
A excursão geológica à Bacia do Paraná no Estado de São Paulo permitiu o reconhecimento de feições sedimentares relacionadas a uma grande inundação que, segundo a interpretação criacionista, seria atribuída ao dilúvio bíblico de Noé. De maneira geral, quando se sobe na estratigrafia é possível reconhecer uma fase transgressiva indicativa do avanço do mar sobre os continentes, seguida de uma fase de calmaria e finalmente de uma fase regressiva marcada por sistemas deposicionais característicos de áreas continentais.A presença de depósitos glaciais não é incompatível com um dilúvio universal uma vez que a quantidade de poeira vulcânica emitida para a atmosfera em função da intensa atividade vulcânica criaria as condições para quedas bruscas de temperatura e a formação localizada de grandes blocos de gelo.
A persistência da natureza continental dos sedimentos acumulados sobre a Formação Piramboia indica que esta unidade teria marcado, nesta porção da Bacia do Paraná, o recuo das águas da face da terra e a retomada dos processos sedimentares de natureza continental.
Mesmo considerando que muitas das feições observadas favorecem os modelos catastrofistas para a deposição dos sedimentos da Bacia do Paraná, cabe ressaltar que estas interpretações são de caráter parcial, necessitando-se ainda inúmeros trabalhos nas áreas da estratigrafia e da sedimentologia para a corroboração final destes modelos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
(1) Mapa Geológico do Estado de São Paulo. Programa de Desenvolvimento de Recursos Minerais – Pró-Minério, 1981.
(2) Simpson, J. E. 1982 – Gravity currents in the laboratory atmosphere and ocean. Ann. Rev. Fluid Mech., 14:213-234.
O sertão do medo
A viagem de Juzarte em 1979 começando em Porto Feliz....
Relato tenebroso sobre uma colônia em expansão
JOHN M. MONTEIRO
Em agosto de 1769, na remota praça militar de Nossa Senhora dos Prazeres
do Iguatemi, o militar português Teotônio José Juzarte teve a boa fortuna de
avistar um espetacular cometa, cuja "cauda muito comprida"
atravessava a madrugada e iluminava o céu do sertão. O grande cometa daquele
ano, "descoberto" pelo astrônomo francês Charles Messier e objeto da
observação do capitão James Cook nos longínquos mares do Sul, também foi o
sinal sob o qual nasceu uma das principais figuras da era das revoluções:
Napoleão Bonaparte.
Mas, na fronteira tensa entre as Américas portuguesa e espanhola, esse
evento astronômico foi de impacto menor. Para Juzarte, que o registrou em seu
"Diário da Navegação do Rio Tietê, Rio Grande, Paraná e Rio
Iguatemi", o cometa foi "digno de ponderação" e certamente
serviu para distraí-lo e aos demais habitantes da praça do constante medo
provocado por ameaças mais imediatas.
Leitura cativante, o "Diário da Navegação" narra as peripécias
e sofrimentos dos homens, mulheres e crianças que partiram de Araritaguaba
(atual Porto Feliz) no dia 13 de abril de 1769, na expedição que levava
soldados, povoadores e suprimentos para a recém-fundada praça de Nossa Senhora
dos Prazeres, às margens do rio Iguatemi e na boca de um vasto sertão, tão
hostil quanto desconhecido. Os primeiros dois meses e dois dias, tempo gasto na
viagem fluvial, ganharam um registro diário, documentando o duro cotidiano do
"sertão oculto e habitado por muito gentio". O restante da obra
oferece um breve resumo mensal dos fatos notáveis ocorridos na praça de
Iguatemi ao longo dos quase dois anos em que Juzarte permaneceu naquele
"apavorante presídio", nas palavras do historiador paulista Afonso
Taunay.
Sob encomenda
Reeditada na coleção uspiana "Brasil 500 Anos", a obra de
Juzarte não é um diário no sentido estrito do termo. O "Diário da
Navegação" foi escrito sob encomenda, seguindo as recomendações explícitas
do capitão-general de São Paulo, d. Luís Antônio de Souza Botelho e Mourão, o
Morgado de Mateus. Tudo indica que Juzarte escreveu seu "Diário"
depois de regressar a São Paulo, talvez a partir da memória, talvez a partir de
anotações esparsas.
Os indícios aparecem no próprio manuscrito do Museu Paulista, que,
aliás, não é original, pois não está escrito com a letra do autor. Nas primeira
páginas, o texto anuncia a extensão total da viagem e, ademais, menciona-se o
autor enquanto sargento-mor, cargo ao qual Juzarte foi nomeado apenas em 1773,
ou seja, quatro anos após o início do "Diário".
Não é de estranhar esse fato, considerando-se as condições da viagem. As
cachoeiras, a chuva, o bolor e os bichos mostravam-se impiedosos com o papel,
sem falar dos equipamentos e das pessoas. Numa passagem curiosa do
"Diário", Juzarte dá a entender que os viajantes tomavam cuidados
especiais com o papel. A certa altura, num pouso à margem do rio Pardo, a
expedição topou com umas "cartas de uns cuiabanos (...), as quais costumam
deixar dentro em uma cava que se faz de uma grossa árvore (...), de sorte que
outro viandante, que passa, as conduz".
O "Diário" vem salpicado de muitos outros detalhes
fascinantes, permitindo vislumbrar aquilo que Sérgio Buarque de Holanda chamou
de "civilização adventícia", cujo caráter móvel deixava rastros antes
de povoados fixos. Em sua descrição da partida da expedição, Juzarte demarca
claramente a ruptura entre o povoado e o sertão. Consolidada nas representações
iconográficas posteriores de Adrien Taunay, Hercules Florence e Almeida Júnior,
a partida da monção da vila de N.S. Mãe dos Homens de Araritaguaba constituía
um evento solene.
"A este tempo todas as pessoas estão confessadas e sacramentadas,
porque daqui para baixo não há mais igrejas, nem sacramentos", escreve o
sargento-mor. Todos os viajantes e os moradores da vila se ajoelhavam
"sobre o barranco do rio", enquanto se entoava a ladainha de Nossa
Senhora. Já os "homens de mareação" ficavam nas canoas, "cada um
no seu lugar, e os remos alvorados com as pás para o ar". Em seguida, o
pároco benzia cada canoa, davam-se "muitas salvas de espingarda" e a
primeira canoa partia, "levando a sua bandeira larga". Afastando-se a
primeira canoa 150 braças rio abaixo, partia a segunda e assim por diante as
demais 34 embarcações, carregadas de quase 800 pessoas, que "a pouca
distância se acham em um sertão onde não há mais que a Divina
Providência".
Medo e morte
Em contraste com a ordem do ritual da partida, a desordem da viagem
fluvial transparece nos inúmeros desafios e tribulações que enchem as páginas
do "Diário".
Assolados pela fome, acometidos pelas doenças, assediados pelos bichos e
ameaçados pelo índios, os navegantes dos rios Tietê, Paraná e Iguatemi
conviviam intensamente com o medo e a morte. A natureza, nesse relato, longe de
exuberante e admirável, antes se mostra tenebrosa e abominável: são as
cachoeiras que afogam os homens, as nuvens de insetos que deixam as vítimas
"como se tivessem bexigas", os índios que meteram tantas flechas num
menino que "parecia um São Sebastião". Os nomes das corredeiras e
cachoeiras, frequentemente em tupi, denotam a força bruta da natureza ou
encapsulam a memória de vítimas passadas: Avaremanduava é traduzido por Juzarte
como "Onde foi a pique um jesuíta", Ixaxiririca é a "Água que
ferve", Anhangaratá é o "Canal do Inferno", Putunduva é
"Onde a vista se faz escura".
Outras guardavam simplesmente o nome daqueles que também foram a pique:
Dugarcia, Matias Peres e Cachoeira do Cubas vêm com a anotação de que se
"perdeu este homem nela".
O autor faz uma pequena digressão sobre a cachoeira de Avaremanduava,
reveladora dos laços que os paulistas e os índios da expedição mantinham com o
passado, em que a relação com o sertão mesclava história e misticismo. Segundo
contaram a Juzarte, o jesuíta acidentado teria sido "um religioso de
virtude chamado o p. José de Anchieta, o qual andava catequizando aos
índios". Achando que o Abaré havia se afogado, despacharam um mergulhador
índio para resgatar o corpo. Chegando ao fundo, achou o padre "vivo
sentado numa pedra rezando no seu breviário, e por isso ficou o nome a esta
cachoeira de Abaramanduaba".
Para além das cachoeiras, a morte rondava a expedição de maneira
constante. No dia 15 de abril, por exemplo, segundo o sargento-mor,
"amanhecemos como quem passou uma noite tão tenebrosa e perigosa, e
achamos uma criança morta à qual se deu sepultura no mato, amanhecendo uns com
fome e todos molhados de chuva". Mais adiante, já às margens do Iguatemi,
a narrativa de Juzarte ganha dramaticidade ao relatar o terrível ciclo de
doenças, fome e pragas de bichos que agravava a situação.
Em agosto de 1769, o precário acampamento foi atacado por uma sequência
de seis "imundícias": primeiro "uma quantidade de ratos",
depois pulgas, terceiro "uns bichos grandes felpudos, nojentos e muito
moles", quarto uma "imensidade de baratas", quinto grilos que
"roeram e despedaçaram com grande estrago toda a roupa de todos os
povoadores" e, finalmente, nuvens de gafanhotos que "escureciam o
sol", à semelhança de "coisas sobrenaturais". Nessa conjuntura,
a fome chegou a um ponto crítico: "a ração não excedia a um prato de
feijão para dez dias para cada pessoa, e outro de milho, e nada mais".
Nessas condições, seis meses após partir de Araritaguaba, haviam morrido 37
pessoas e mais de 60 encontravam-se gravemente doentes.
Outra ameaça que rondava a expedição era o permanente espectro de um
ataque indígena. Mas, se Juzarte evoca com habilidade o pavor que se tinha dos
índios, a descrição dos povos nativos em si é decepcionante, muito inferior a
outros relatos coevos. O "Diário" faz menção casual da presença de
índios Cauã (caiová) e Cavaleiros (guaicuru) nas imediações de Iguatemi, porém
quando descreve em maiores detalhes os aspectos dos índios inimigos, parece
tratar-se de grupos "coroados" (kaingang, ofaié ou caiapó do sul),
pois "têm na cabeça uma coroa à semelhança de Frade Bento". Ao que
parece, Juzarte só conhecia os índios da expedição, em sua maioria bororos,
grupo que havia se juntado aos paulistas desde a década de 1730 para combater
os caiapós; muito provavelmente, era do ponto de vista desses bororos que vinha
a imagem dos bárbaros inimigos. De qualquer modo, o contato com vestígios de
roupas "com as roturas das flechas e também untadas de sangue" foi
próximo o suficiente para o sargento-mor.
Emocionante aventura
Ao cabo dessa "viagem tão impertinente, tão perigosa e tão
dilatada", o leitor se sente recompensado por ter acompanhado o
sargento-mor numa emocionante aventura pela acidentada e encachoeirada história
da expansão territorial. Esta nova edição, organizada pelo historiador
portofelicense Jonas Soares de Souza e por Miyoko Makino, do Museu Paulista,
traz ainda uma reprodução integral do manuscrito, complementado pelo antes
inédito "Plano em Borrão de Todos os Rios e Todas as Cachoeiras",
elaborado por Juzarte para acompanhar o seu "Diário". Documento
insólito, o "Plano em Borrão" inclui mais de 50 estampas aquareladas,
esmiuçando o curso dos rios entre Araritaguaba e Iguatemi.
As primeiras estampas são de grande interesse, pois identificam um
número considerável de sítios espalhados ao longo do rio Tietê, demarcando a
marcha do povoamento. Também cabe destacar o valor estético e iconográfico das
últimas duas estampas, onde a cartografia dos rios é enquadrada por uma borda
cuidadosamente estilizada e digna de um estudo à parte.
Esta nova edição do "Diário da Navegação" representa uma
sensível melhora em relação às edições anteriores, inclusive a versão publicada
em 1999 pela Editora da Unicamp, que, apesar de organizada pelo mesmo Jonas
Soares de Souza, foi elaborada de maneira pouco cuidadosa. A transcrição foi
revista, retificando os erros e a falta de consistência ortográfica que maculam
as outras edições, o que torna a leitura mais fácil e agradável. Ainda assim,
persistem algumas imperfeições. Os critérios adotados para a atualização da
ortografia e da gramática (sobretudo na supressão e acréscimo de vírgulas) são
pouco claros.
É estranha, por exemplo, a opção pela grafia "Gatemi" em vez
de "Iguatemi", quando todos os outros nomes no "Diário" são
atualizados e padronizados. Na página 81, a compreensão é prejudicada quando se
lê "erramos só nove pessoas com três tiros", onde no manuscrito
aparece "éramos só nove pessoas com três tiros" (pág. 313). A exemplo
das edições anteriores, esta também ressente-se da falta de mais notas
explicativas (há apenas uma no fim do "Diário"), situando
personagens, lugares, eventos, povos indígenas e outros detalhes.
Finalmente, apesar do capricho na apresentação visual do texto e na
reprodução de imagens, a editora cometeu dois deslizes sérios que atrapalham a
apreciação da obra. Primeiro, deixou de identificar a autoria da
"Apresentação" e do pequeno estudo final sobre "As Imagens de um
Rio - Tietê". Mais grave, enxertou incorretamente as notas do estudo final
bem no meio da transcrição do "Diário da Navegação" (pág. 31), o que
deve confundir o leitor desavisado. De qualquer modo, nesses tempos em que se
retoma a velha e boa tradição de transcrever e editar documentos manuscritos, a
nova edição do relato de Teotônio José Juzarte é "digna de
ponderação", como diria o sargento-mor.
John M. Monteiro é professor no departamento de antropologia da
Universidade Estadual de Campinas e autor de "Negros da Terra"
(Companhia das Letras).
Diário da Navegação
Teotônio José Juzarte -
Edusp/ Imprensa Oficial do Estado
sexta-feira, 13 de maio de 2016
CINE CENTRAL DE PORTO FELIZ
O Cine Central começou a funcionar em 1920, na rua Dr. Draco de Albuquerque, onde hoje existe uma loja de roupas. Foram proprietários, por muitos anos, o Sr. Sarquis Abibe e posteriormente o Sr. Benedito Aranha Júnior. Recordamos, quando na década de 1950, os matines tinham inicio as 14,00 horas nos domingos. Quem chegasse depois da uma e meia não encontrava lugar para sentar e, dessa maneira, tinha que assistir ao filme em pé. Faltando cinco minutos para o início do espetáculo os funcionários João Fumo e Velhinha começavam a fechar as janelas. Sabíamos quando estava na hora da sessão cinematográfica começar, porque a penúltima música que era tocada era a “Canção do Soldado’ e a última, se não nos falha a memória, “Cisne Branco’. Na frente do palco havia uma cortina com propaganda de firmas comerciais, entre as quais nos lembramos da Casa Guarany, Casa Simeira e Café Bandeirantes, telefone 50. Assim que as luzes eram apagadas, começava o jornal.
Tundá, Décio Baus, Laurinho, Walter Lerê e outros marmanjos davam coque na cabeça da criançada.
Quentinho, seu Benito Cortez, Vardo Pipoqueiro, Hermes e Pé andavam pelo cinema vendendo
pipoca, amendoim, churro, pirulito e paçoquinha. Depois do jornal era passado um faroeste tendo
como ator principal, em muitos filmes, Durango Kid. Após o faroeste tinha início o seriado, a maior parte deles com produção de Zam Katzmann e direção de Spencer Bennet, quase todos em 12 capítulos. Quando começava o seriado era aquele "guaiú" ( gritaria). Assim que surgiam as figuras do mocinho e da mocinha a gurizada aplaudia, mas quando apareciam as figuras dos bandidos, estes eram vaiados.
Como porteiro lá estava sempre sorridente e paciencioso, fumando cachimbo, Seu Lourenço Martins.
Na bilheteria trabalhava Dona Francisca Correa Laureano. O gerente era Seu Zeca Aranha. Os
operadores eram Joaquim Coelho de Oliveira e João Martins. Saíam pelas ruas fazendo propagando de alguns filmes: Quentinho, Souza e Piteira, este usando gravata borboleta, anunciando: Hoje no Cine Central, com início às 8 h da noite, o sensacional filme... Piteira costumava falar: Alô, Dona Roberta, a senhora esqueceu a porta aberta. Cuidado com a carteira, Dona Antônia.
Um dos seriados que mais impressionou a molecada foi “Fash Gordon no Planeta Marte”. Este filme foi produzido em 1933 e já apresentava o aparelho de televisão em algumas cenas. Por muito tempo, nas sessões durante a semana, com início às 20 h, quando faltavam mais ou menos 10 minutos para começar o espetáculo, surgia um cachorro de tamanho médio, de pêlos lisos marrons e rabo comprido, que adentrava no cinema e deitava debaixo de uma poltrona e só saía quando terminava o filme. O pessoal apelidou o cachorro de Prefeito. Na sessão de domingo, com início às 19 h, quando o filme era nacional e tinha como protagonista principal Mazaropi, a fila para comprar o ingresso era tão grande que chegava até a entrada do Hotel Monções. Certa vez, durante uma sessão noturna, o operador inverteu a ordem dos rolos do filme, passando o rolo número 3 antes do número 2. Um dos artistas que havia morrido, quando passou o rolo número 3, apareceu vivo novamente, na filmagem do rolo número 2. No dia seguinte, alguns que assistiram ao filme do dia anterior, em tom de chalaça, saíram com esta: Fulano, você assistiu ontem o filme charada?
Transcrevemos aqui de acordo com a grafia da época, a programação do Cine Central publicada no jornal ‘’A Comarca”, no dia 9 de janeiro de 1944.
Cine Central - Empresa Sarquis Abib.
Hoje - colossal matinée, às 2 horas da tarde com o far-west, A Mina Maldita, com Dom Red Barry e continuação do Seriado, Dick Tracy contra o crime, com Ralph Bird;
A noite, às 8,30 horas em ponto - o sensacional filme Honolulúlú com Lupe Velez e Bruce Benet.
3a feira - Querer e Vencer, com Willian Tracy e acompanha vários complementos.
5a feira - continuação do seriado a Caveira, com Don Douglas e mais o filme: Aventura do Sahara, com Paulo Kely.
Sábado - o ótimo filme: Três Homens Maus, com Deniz Morgan filme da Warner.
Domingo dia 16 - o colossal e monumental filme: Romance Noturno, com Fredrich March.
Aguardem para breve: às quinta-feiras, o início do seriado “A Cidade Infernal”, com Willian Boyd; para os matinées, “Guerreiros da Marina”; brevemente, “O Lobo do Mar”, com Errol Flyn.
Professor Claúdio Sampaio Torres
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