Expedição Langsdorff- partiu de Araritaguaba, hoje Porto Feliz.
Bernadete Gorgulho Chaves Vergueiro - São Paulo
Tenho percorrido cada capítulo, escrito por Miguel Flori, com uma sensação de participar também da aventura. Vi e pude estudar em todo o trajeto do cônsul, em cada percalço e em cada desenho do Taunay e do Florence, um Brasil de 200 anos atrás. Senti e imagino toda a expedição em mais de dezesseis mil quilômetros pelo interior do Brasil, entre os anos de 1824 a 1829. Que bom que foram feitos os valiosos registros dos aspectos mais variados da natureza, da cultura e da sociedade daquela época. Sem dúvida é o mais completo inventário do nosso país no século XIX. Pena que pouca coisa está a disposição dos brasileiros, pois o maior acervo está na Academia de Ciências de São Petesburgo. No final da reportagem (Parte 10) [edição 254 - LANGSDORFF ENFRENTA SEUS PRÓPRIOS DEMONÍOS] tão bem elaborada por Miguel Flori, fui invadida por certa tristeza ao saber que a aventura está quase no fim. Aguardo a última escala dessa aventura descrita de maneira tão pitoresca e fiel
Ela me fez acompanhar linha por linha dessa fabulosa trajetória como se fosse um filme. E que filme! Que coragem e audácia desse médico que enfrentou jornadas penosas, passagens emocionantes, situações assustadoras, momentos hilários em um país rico em biodiversidade, mas atrasadíssimo. Era literalmente o fim do mundo. A vida de Langsdorff merece um filme. E que documentário daria!
Merece honras! Merece entrar para a história do nosso País com todas as homenagens que lhe são cabíveis. Parabéns, Miguel Flori, pela pesquisa e pela forma didática de contar esta aventura. Parabéns Folha do Meio Ambiente! Vocês, como o Czar Alexandre I fazem parte do esforço para reavivar nossa história e enriquecer nosso conhecimento das “descobertas científicas, investigações geográficas, estatísticas e o estudo de produtos desconhecidos no comércio” na época do Brasil de D. Pedro II.
domingo, 24 de setembro de 2017
Link para a expedição de Langsdorff
http://www.folhadomeio.com.br/fma_nova/busca.php?q=langsdorff&x=0&y=0
segunda-feira, 11 de setembro de 2017
sábado, 9 de setembro de 2017
Inquisição e presos de Porto Feliz por praticar macumba
Praticantes das religiões africanas foram condenados pela Inquisição
Foram centenas deles; até tocar tambor era motivo para se ser acusado de bruxaria
Felipe Branco Cruz
No século 18, a economia de São Paulo dependia da lavoura e do plantio da cana-de-açúcar. O Brasil ainda era colônia de Portugal e a Inquisição voltava a ganhar força na metrópole europeia. Estima-se que nesse período pouco mais de 9 mil pessoas viviam na cidade. No Norte e no Nordeste do Brasil, os padres a serviço do Tribunal do Santo Ofício reapareceram. Mas na longínqua São Paulo a prática não era comum. Foi somente depois de 1745,quando tornou-se sede de um bispado, separando-se da diocese do Rio de Janeiro, que os inquisidores voltaram seus olhos para a pequena cidade do sudeste do país.
A inquisição em São Paulo, e de maneira geral em todo o Brasil, confundiu sistematicamente os rituais africanos com feitiçaria – e processou centenas, no que podia terminar na fogueira, ou o garrote, depois a fogueira, ou a perda de todos os bens - o que não era opção em se tratando de escravos. As vítimas não eram executadas aqui, pois a colônia não tinha tribunais eclesiásticos específicos, e os condenado seriam enviados para ser julgados e mortos em Portugal. Não existe em São Paulo o resultado final dos processos, então essa parte ainda está a ser desvendada. Sabe-se que dezenas de brasileiros foram queimados vivos, mas esses casos bem-documentados são principalmente de brancos acusados de judaísmo. Escravos não tinham existência jurídica como indivíduos, só propriedade.
+ Brasileiros na fogueira da Inquisição
Nos arquivos brasileiros, descobrimos gente como a escrava Paschoa, que viveu em São Paulo após ter sido vendida no Rio de Janeiro para uma família paulista. O ano era 1749 e Paschoa ficava dentro de casa cuidando da família Leyte Ribeiro,de sete pessoas. Após sua chegada,os senhores começaram a adoecer, e cinco membros da família morreram. Sobre a escrava pesou a acusação de bruxaria, principalmente depois de descobrirem ossos de galinha dentro de uma panela enterrados no quintal e também outros, escondidos dentro da parede e debaixo da cama de um dos filhos da família. Paschoa foi julgada e considerada culpada por bruxaria pela Inquisição. Sua história, por causa disso,ficou registrada em um processo e está há 265 anos arquivada na Cúria Metropolitana da Arquidiocese de São Paulo. Se não fosse assim, dificilmente a sua vida seria conhecida,e Paschoa seria apenas mais uma escrava que viveu e morreu no Brasil do século 18 sem deixar registro.
Ossos de galinha
Bastante castigados, alguns dos processos da Inquisição em São Paulo estão protegidos por uma camada de papel-arroz que conserva os documentos e impede que se desmanchem ao serem manuseados. Todas as 1 550 páginas de processos abertos entre 1739 e 1771 sobre bruxaria foram fotografados e estão sendo transcritas por pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Paschoa foi considerada culpada e provavelmente levada a Portugal, onde pode ter sido executada. Entre as declarações das testemunhas de acusação, boa parte foi composta de “ouvi dizer”, “acho que”, “disseram”... Alguns acusaram a escrava – sem provas – de ter assassinado várias pessoas no Rio de Janeiro, o que levou os juízes a concluir que a “ré usou de magia para matar gente”. O relato de Paschoa para sua senhora dizia o contrário:os ossos de galinha teriam sido colocados lá pela escrava “porque lhe tinham ensinado” e “que prometia que agora logo havia de sarar”.
Arquivados na Cúria, os processos corriam na Justiça Eclesiástica, órgão a serviço da Inquisição, que condenava as pessoas por motivos como heresia (afronta à religião), apostasia (renegar a fé), bruxaria(na época, qualquer ato contrário à fé católica), judaísmo, homossexualismo, sodomia, vida marital sem casamento, entre outras razões.
Bruxaria
Em São Paulo, onde a Inquisição não chegou a marcar presença como no Nordeste, os principais alvos eram os praticantes de ritos vistos como feitiçaria. Não, não era a bruxaria da Idade Média, com caldeirões e velhas assustadoras. De acordo com a equipe da USP, os órgãos da Justiça Eclesiástica consideravam bruxaria as práticas das religiões africanas ou outros ritos que iam contra a fé católica.“Eles não entendiam ou não aceitavam outras religiões que não fosse a católica”, diz Nathalia Reis Fernandes, uma das pesquisadoras.
Embora a maioria dos acusados tenha sido considerada culpada na investigação preliminar que era realizada pela Justiça Eclesiástica, não se sabe o fim dos réus. Ao contrário do que ocorria, por exemplo, na América Espanhola, não havia Tribunal do Santo Ofício no Brasil.“Não sabemos o que ocorreu com os condenados. A maioria dos documentos está guardada no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa” afirma Helena de Oliveira, da USP. No edifício estão registrados 40 mil nomes de pessoas perseguidas, mas sem classificações por local de nascimento, o que dificulta a identificação
Patuás
Outra dificuldade em localizar esses arquivos em Portugal ocorre porque os escravos eram registrados, na maioria das vezes, apenas pelo primeiro nome. “Como eram considerados mercadorias, não possuíam nome de família”, diz Helena.Um dos processos mais completos encontrados pelas pesquisadoras é o do ex-escravo Pascoal José de Moura,de 1765, que vivia em Araritaguaba,atual Porto Feliz, a 100 km de São Paulo. O homem foi condenado porque produzia patuás para proteção.Os objetos eram uma espécie de amuleto com orações usadas para proteger da morte e do perigo quem os carregasse. “Ainda há uma grande névoa sobre como a Inquisição atuou em São Paulo”, diz Nathalia.“O fato é que Pascoal, negro, livre e alfabetizado, era um exemplo atípico na sociedade”, diz ela.
De acordo com as pesquisadoras, algumas testemunhas afirmaram que Pascoal não fazia mal a ninguém e que carregava os objetos para a própria proteção ou para ajudar outras pessoas. Mesmo assim, foi condenado e provavelmente enviado a Portugal, onde o desfecho do processo ainda é desconhecido. Nathalia destaca que uma das partes mais interessantes do processo são as próprias orações transcritas nos autos, que revelam um pouco da crença do período.
“Trata-se de um tipo de mentalidade medieval. Esses patuás vinham no formato de escapulários. É um costume que está aí até hoje. Na Idade Média havia a crença de que a simples presença de determinada imagem ou objeto já era suficiente para que a proteção se efetivasse”, diz Nathalia. O texto encontrado nos patuás de Pascoal é praticamente idêntico à oração para São Jorge, rezada até hoje pelos devotos do santo católico.
Outros casos
Mas não só escravos ou ex-escravos eram processados pela Inquisição. Outro caso analisado pelas pesquisadoras,de 1771, é o de Leonor de Siqueira e sua filha Anna Francisca. As duas foram acusadas de fazer feitiçarias para transformar o marido de Anna, Manoel José Barreto, em “pateta”. “Era como se ela estivesse fazendo ‘feitiços’ para o marido, porém o motivo é desconhecido”, diz Helena. Infelizmente, esse processo é um dos mais deteriorados e poucas informações sobre ele puderam ser recuperadas.
Em outros casos, manifestações típicas das religiões e da cultura africana eram confundidas com feitiçaria como, por exemplo, a do “povo do batuque”. Quatro pessoas foram flagradas por soldados após alguém denunciar ter ouvido em uma casa abandonada “batuques ilícitos”. Quando os soldados chegaram ao local, encontraram um casco de cágado, patas de bode e uma cabra. Além de algumas misturas com ervas que as testemunhas não sabiam para que serviam.
“Hoje em dia, batucada não é estranho. Faz parte da nossa cultura. Porém imagine para um descendente de português católico fervoroso que vê uma pata de bode? Para ele só há uma explicação: é coisa do demônio. Tudo que eles não entendiam era uma coisa ruim”, afirma Nathalia. “É possível fazer um paralelo com a nossa sociedade atual”, diz o professor Marcelo Módolo, que orienta as duas pesquisadoras da USP. “Hoje, quando alguém vê algo que não entende e aponta aquilo, julgando de maneira preconceituosa, dizendo que é macumba,cai no mesmo erro dos portugueses do passado”, diz. “A Igreja ainda se considera a intermediária entre Deus e os homens e não permite concorrência. Se alguém fizesse uma simpatia e ela funcionasse, como ficaria a moral dos católicos?”
Foram centenas deles; até tocar tambor era motivo para se ser acusado de bruxaria
Felipe Branco Cruz
No século 18, a economia de São Paulo dependia da lavoura e do plantio da cana-de-açúcar. O Brasil ainda era colônia de Portugal e a Inquisição voltava a ganhar força na metrópole europeia. Estima-se que nesse período pouco mais de 9 mil pessoas viviam na cidade. No Norte e no Nordeste do Brasil, os padres a serviço do Tribunal do Santo Ofício reapareceram. Mas na longínqua São Paulo a prática não era comum. Foi somente depois de 1745,quando tornou-se sede de um bispado, separando-se da diocese do Rio de Janeiro, que os inquisidores voltaram seus olhos para a pequena cidade do sudeste do país.
A inquisição em São Paulo, e de maneira geral em todo o Brasil, confundiu sistematicamente os rituais africanos com feitiçaria – e processou centenas, no que podia terminar na fogueira, ou o garrote, depois a fogueira, ou a perda de todos os bens - o que não era opção em se tratando de escravos. As vítimas não eram executadas aqui, pois a colônia não tinha tribunais eclesiásticos específicos, e os condenado seriam enviados para ser julgados e mortos em Portugal. Não existe em São Paulo o resultado final dos processos, então essa parte ainda está a ser desvendada. Sabe-se que dezenas de brasileiros foram queimados vivos, mas esses casos bem-documentados são principalmente de brancos acusados de judaísmo. Escravos não tinham existência jurídica como indivíduos, só propriedade.
+ Brasileiros na fogueira da Inquisição
Nos arquivos brasileiros, descobrimos gente como a escrava Paschoa, que viveu em São Paulo após ter sido vendida no Rio de Janeiro para uma família paulista. O ano era 1749 e Paschoa ficava dentro de casa cuidando da família Leyte Ribeiro,de sete pessoas. Após sua chegada,os senhores começaram a adoecer, e cinco membros da família morreram. Sobre a escrava pesou a acusação de bruxaria, principalmente depois de descobrirem ossos de galinha dentro de uma panela enterrados no quintal e também outros, escondidos dentro da parede e debaixo da cama de um dos filhos da família. Paschoa foi julgada e considerada culpada por bruxaria pela Inquisição. Sua história, por causa disso,ficou registrada em um processo e está há 265 anos arquivada na Cúria Metropolitana da Arquidiocese de São Paulo. Se não fosse assim, dificilmente a sua vida seria conhecida,e Paschoa seria apenas mais uma escrava que viveu e morreu no Brasil do século 18 sem deixar registro.
Ossos de galinha
Bastante castigados, alguns dos processos da Inquisição em São Paulo estão protegidos por uma camada de papel-arroz que conserva os documentos e impede que se desmanchem ao serem manuseados. Todas as 1 550 páginas de processos abertos entre 1739 e 1771 sobre bruxaria foram fotografados e estão sendo transcritas por pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Paschoa foi considerada culpada e provavelmente levada a Portugal, onde pode ter sido executada. Entre as declarações das testemunhas de acusação, boa parte foi composta de “ouvi dizer”, “acho que”, “disseram”... Alguns acusaram a escrava – sem provas – de ter assassinado várias pessoas no Rio de Janeiro, o que levou os juízes a concluir que a “ré usou de magia para matar gente”. O relato de Paschoa para sua senhora dizia o contrário:os ossos de galinha teriam sido colocados lá pela escrava “porque lhe tinham ensinado” e “que prometia que agora logo havia de sarar”.
Arquivados na Cúria, os processos corriam na Justiça Eclesiástica, órgão a serviço da Inquisição, que condenava as pessoas por motivos como heresia (afronta à religião), apostasia (renegar a fé), bruxaria(na época, qualquer ato contrário à fé católica), judaísmo, homossexualismo, sodomia, vida marital sem casamento, entre outras razões.
Bruxaria
Em São Paulo, onde a Inquisição não chegou a marcar presença como no Nordeste, os principais alvos eram os praticantes de ritos vistos como feitiçaria. Não, não era a bruxaria da Idade Média, com caldeirões e velhas assustadoras. De acordo com a equipe da USP, os órgãos da Justiça Eclesiástica consideravam bruxaria as práticas das religiões africanas ou outros ritos que iam contra a fé católica.“Eles não entendiam ou não aceitavam outras religiões que não fosse a católica”, diz Nathalia Reis Fernandes, uma das pesquisadoras.
Embora a maioria dos acusados tenha sido considerada culpada na investigação preliminar que era realizada pela Justiça Eclesiástica, não se sabe o fim dos réus. Ao contrário do que ocorria, por exemplo, na América Espanhola, não havia Tribunal do Santo Ofício no Brasil.“Não sabemos o que ocorreu com os condenados. A maioria dos documentos está guardada no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa” afirma Helena de Oliveira, da USP. No edifício estão registrados 40 mil nomes de pessoas perseguidas, mas sem classificações por local de nascimento, o que dificulta a identificação
Patuás
Outra dificuldade em localizar esses arquivos em Portugal ocorre porque os escravos eram registrados, na maioria das vezes, apenas pelo primeiro nome. “Como eram considerados mercadorias, não possuíam nome de família”, diz Helena.Um dos processos mais completos encontrados pelas pesquisadoras é o do ex-escravo Pascoal José de Moura,de 1765, que vivia em Araritaguaba,atual Porto Feliz, a 100 km de São Paulo. O homem foi condenado porque produzia patuás para proteção.Os objetos eram uma espécie de amuleto com orações usadas para proteger da morte e do perigo quem os carregasse. “Ainda há uma grande névoa sobre como a Inquisição atuou em São Paulo”, diz Nathalia.“O fato é que Pascoal, negro, livre e alfabetizado, era um exemplo atípico na sociedade”, diz ela.
De acordo com as pesquisadoras, algumas testemunhas afirmaram que Pascoal não fazia mal a ninguém e que carregava os objetos para a própria proteção ou para ajudar outras pessoas. Mesmo assim, foi condenado e provavelmente enviado a Portugal, onde o desfecho do processo ainda é desconhecido. Nathalia destaca que uma das partes mais interessantes do processo são as próprias orações transcritas nos autos, que revelam um pouco da crença do período.
“Trata-se de um tipo de mentalidade medieval. Esses patuás vinham no formato de escapulários. É um costume que está aí até hoje. Na Idade Média havia a crença de que a simples presença de determinada imagem ou objeto já era suficiente para que a proteção se efetivasse”, diz Nathalia. O texto encontrado nos patuás de Pascoal é praticamente idêntico à oração para São Jorge, rezada até hoje pelos devotos do santo católico.
Outros casos
Mas não só escravos ou ex-escravos eram processados pela Inquisição. Outro caso analisado pelas pesquisadoras,de 1771, é o de Leonor de Siqueira e sua filha Anna Francisca. As duas foram acusadas de fazer feitiçarias para transformar o marido de Anna, Manoel José Barreto, em “pateta”. “Era como se ela estivesse fazendo ‘feitiços’ para o marido, porém o motivo é desconhecido”, diz Helena. Infelizmente, esse processo é um dos mais deteriorados e poucas informações sobre ele puderam ser recuperadas.
Em outros casos, manifestações típicas das religiões e da cultura africana eram confundidas com feitiçaria como, por exemplo, a do “povo do batuque”. Quatro pessoas foram flagradas por soldados após alguém denunciar ter ouvido em uma casa abandonada “batuques ilícitos”. Quando os soldados chegaram ao local, encontraram um casco de cágado, patas de bode e uma cabra. Além de algumas misturas com ervas que as testemunhas não sabiam para que serviam.
“Hoje em dia, batucada não é estranho. Faz parte da nossa cultura. Porém imagine para um descendente de português católico fervoroso que vê uma pata de bode? Para ele só há uma explicação: é coisa do demônio. Tudo que eles não entendiam era uma coisa ruim”, afirma Nathalia. “É possível fazer um paralelo com a nossa sociedade atual”, diz o professor Marcelo Módolo, que orienta as duas pesquisadoras da USP. “Hoje, quando alguém vê algo que não entende e aponta aquilo, julgando de maneira preconceituosa, dizendo que é macumba,cai no mesmo erro dos portugueses do passado”, diz. “A Igreja ainda se considera a intermediária entre Deus e os homens e não permite concorrência. Se alguém fizesse uma simpatia e ela funcionasse, como ficaria a moral dos católicos?”
segunda-feira, 4 de setembro de 2017
ESPORTE CLUBE OPERÁRIO ARARITAGUABA – 100 ANOS DE GLÓRIAS E TRADIÇÕES
ESPORTE CLUBE OPERÁRIO ARARITAGUABA – 100 ANOS DE GLÓRIAS E TRADIÇÕES
O Esporte Clube Operário Araritaguaba foi fundado no dia 08 de outubro de 1916, depois de várias reuniões envolvendo esportistas ligados, principalmente, à classe operária do Município de Porto Feliz. A denominação do clube é um resgate do primitivo nome desta cidade, chamada pelos índios Tupis/Guaranis de Araritaguaba, aludindo o lugar onde as araras bicavam a areia.
É o segundo clube mais antigo desta cidade e, neste ano, insere o seu nome no seleto rol das agremiações esportivas centenárias do futebol brasileiro. São 100 anos gloriosos de garra, luta e tradição.
O clube que se tornaria ao longo de sua existência uma das agremiações mais queridas desta cidade, nasceu, certamente, na região alta de Porto Feliz, nas imediações do atual Bairro do Bambu, onde também surgiu seu primeiro campo de treinamento.
Entre os esportistas que fundaram o tradicional clube preto e branco de Porto Feliz, destacamos Telésforo Leroy, Ataliba Cardoso, Jorge Casseta, José Antonio, Pedro Rodrigues, Pedro Pinto de Azevedo e José Rodrigues de Campos. Telésforo Leroy, patriarca de tradicional família Araritana, foi o primeiro presidente do Esporte Clube Operário Araritaguaba.
Desde as primeiras jornadas esportivas disputadas no primitivo estádio inaugurado em uma travessa da Avenida Getúlio Vargas, o Esporte Clube Operário Araritaguaba mostrou o espírito aguerrido de seus jogadores. Nessas memoráveis pelejas a gloriosa jaqueta alvinegra foi defendida com galhardia por jogadores inesquecíveis como Fernando e Cesário Leroy, Minguito, José das Neves, Dodô, Tancho, Joel Brienza, Tavico e tantos outros.
Mais tarde surgiriam defendendo as cores alvinegras do Araritaguaba, com o mesmo amor e dedicação, jogadores também inesquecíveis como Hermínio Leroy, Calim Sanna, Dedé, Eugênio Tomé e Armando Sanna.
Ao longo de toda sua gloriosa história o Esporte Clube Operário Araritaguaba sempre foi pródigo em formar grandes jogadores, desde suas equipes menores, até o time principal. Seu atual estádio que se ergue majestoso na Rua João Portela Sobrinho, à sombra dos tradicionais e belos bambuais, continua sendo palco de memoráveis jornadas esportivas e de brilhantes atuações do querido clube alvinegro de Porto Feliz.
Esportistas valorosos têm seus nomes ligados eternamente à história do clube. Tentar nominá-los seria praticamente impossível, sem correr o sério risco de esquecer alguns. Sendo assim e para homenagear, indistintamente, a todos que contribuíram e contribuem com o Esporte Clube Operário Araritaguaba, citamos os saudosos Orlando Silvestre - o Mestre Calango - e José Oswaldo Ramos, verdadeiros símbolos de amor e dedicação à causa Araritana.
O Esporte Clube Operário Araritaguaba nasceu para sacramentar, nas cores preto e branco do seu vistoso uniforme, a igualdade de raças e de credos religiosos, bem como para congregar todas as classes sociais. Nasceu o glorioso Esporte Clube Operário Araritaguaba para reunir sob sua honrosa bandeira todos os esportistas que saibam cultuar a isonomia social e a imprescindível lealdade nos campos esportivos.
Por tudo isso, vestir a gloriosa camisa do Esporte Clube Operário Araritaguaba, ainda que por uma só vez, é gravar na própria alma a marca indelével de um histórico e verdadeiro manto sagrado. Uma vez Araritano, eternamente Araritano!
Reinaldo Crocco Júnior
Ainda não completou 100 anos, mas nasceu Araritano e Araritano será, por todos os séculos dos séculos que virão.
O Esporte Clube Operário Araritaguaba foi fundado no dia 08 de outubro de 1916, depois de várias reuniões envolvendo esportistas ligados, principalmente, à classe operária do Município de Porto Feliz. A denominação do clube é um resgate do primitivo nome desta cidade, chamada pelos índios Tupis/Guaranis de Araritaguaba, aludindo o lugar onde as araras bicavam a areia.
É o segundo clube mais antigo desta cidade e, neste ano, insere o seu nome no seleto rol das agremiações esportivas centenárias do futebol brasileiro. São 100 anos gloriosos de garra, luta e tradição.
O clube que se tornaria ao longo de sua existência uma das agremiações mais queridas desta cidade, nasceu, certamente, na região alta de Porto Feliz, nas imediações do atual Bairro do Bambu, onde também surgiu seu primeiro campo de treinamento.
Entre os esportistas que fundaram o tradicional clube preto e branco de Porto Feliz, destacamos Telésforo Leroy, Ataliba Cardoso, Jorge Casseta, José Antonio, Pedro Rodrigues, Pedro Pinto de Azevedo e José Rodrigues de Campos. Telésforo Leroy, patriarca de tradicional família Araritana, foi o primeiro presidente do Esporte Clube Operário Araritaguaba.
Desde as primeiras jornadas esportivas disputadas no primitivo estádio inaugurado em uma travessa da Avenida Getúlio Vargas, o Esporte Clube Operário Araritaguaba mostrou o espírito aguerrido de seus jogadores. Nessas memoráveis pelejas a gloriosa jaqueta alvinegra foi defendida com galhardia por jogadores inesquecíveis como Fernando e Cesário Leroy, Minguito, José das Neves, Dodô, Tancho, Joel Brienza, Tavico e tantos outros.
Mais tarde surgiriam defendendo as cores alvinegras do Araritaguaba, com o mesmo amor e dedicação, jogadores também inesquecíveis como Hermínio Leroy, Calim Sanna, Dedé, Eugênio Tomé e Armando Sanna.
Ao longo de toda sua gloriosa história o Esporte Clube Operário Araritaguaba sempre foi pródigo em formar grandes jogadores, desde suas equipes menores, até o time principal. Seu atual estádio que se ergue majestoso na Rua João Portela Sobrinho, à sombra dos tradicionais e belos bambuais, continua sendo palco de memoráveis jornadas esportivas e de brilhantes atuações do querido clube alvinegro de Porto Feliz.
Esportistas valorosos têm seus nomes ligados eternamente à história do clube. Tentar nominá-los seria praticamente impossível, sem correr o sério risco de esquecer alguns. Sendo assim e para homenagear, indistintamente, a todos que contribuíram e contribuem com o Esporte Clube Operário Araritaguaba, citamos os saudosos Orlando Silvestre - o Mestre Calango - e José Oswaldo Ramos, verdadeiros símbolos de amor e dedicação à causa Araritana.
O Esporte Clube Operário Araritaguaba nasceu para sacramentar, nas cores preto e branco do seu vistoso uniforme, a igualdade de raças e de credos religiosos, bem como para congregar todas as classes sociais. Nasceu o glorioso Esporte Clube Operário Araritaguaba para reunir sob sua honrosa bandeira todos os esportistas que saibam cultuar a isonomia social e a imprescindível lealdade nos campos esportivos.
Por tudo isso, vestir a gloriosa camisa do Esporte Clube Operário Araritaguaba, ainda que por uma só vez, é gravar na própria alma a marca indelével de um histórico e verdadeiro manto sagrado. Uma vez Araritano, eternamente Araritano!
Reinaldo Crocco Júnior
Ainda não completou 100 anos, mas nasceu Araritano e Araritano será, por todos os séculos dos séculos que virão.
Partidas das Monções
Partidas das Monções (*)
O Tietê
recorda necessariamente o bandeirante e as monções, evoca a louca aventura
desses homens hercúleos e destemidos, metidos em grossos gibões de algodão
acolchoado, chuço e trabuco em punho, que varam o continente; revive as frotas
de canões que rodaram por saltos e tucunduras, transpondo lezirias e vargens
onde grassavam as febres malignas e matagais intricados de cipós em que se
atocaiavam pintadas e suçuranas.
A partida das
monções! Na secura das crônicas do tempo, toscas memórias de viagem para uso da
governança portuguesa, em que as maiores tragédias se anunciam estoica e
rudemente, em fria prosa tabelioa, nesses roteiros e diários há sempre algumas
páginas ungidas de emoção para descrever a largada trágica das frotas para a
atemorizante aventura.
1) Conde de Azambuja
É o conde de
Azambuja, a registrar em grosso papel apergaminhado, sob a tolda protetora da
capitânea as primeiras impressões da viagem "Embarquei a 5 de agosto,
havendo antes disso ouvido missa na freguesia e toda a comitiva acabada ela,
salvou a companhia de dragões com três descargas a Nossa Senhora da Penha
invocação da dita igreja. Na primeira canoa me embarquei e só na segunda os
dois missionários na terceira os oficiais da sala com o secretário, na quarta o
capitão com metade da companhia. Entre esta e a do tenente que marchava na
retaguarda com a outra metade, iam no de carga que eram dezesseis, pertences a
El-rei e quatro a mim. Ao desamarrar salvaram outra vez os dragões a Nossa
Senhora com três descargas, e marcharam as canoas na ordem que tenho dito,
levando todas as bandeiras á popa com as armas reais. A que ia na canoa da
missão, as levava só de uma parte, e da outra o padre Anchieta."
2) Teotônio José Juzarte
Dezoito anos
depois, muito mais expressivamente, Teotônio José Juzarte, largando para o
Iguatemi, assim descrevia a partida: " Juntos os povoadores, preparadas as
embarcações, e carregadas com tudo o necessário a embarcar a gente tanto da
marcação como os passageiros; e as embarcações se põem todas em fileiras presas
ao porto da dita Araritaguaba. Estando tudo em ordem e prontos para largar, e
seguir sua viagem; a este tempo todas as pessoas estão confessadas e
sacramentadas, porque daqui para baixo não há mais igrejas, nem sacramentos.
Estando tudo na forma dada se da aviso ao pároco para vir benzer esta
expedição; o qual tomando a sua estola, a sobrepeliz com seu sacristão se põem
sobre o barranco do rio e ajoelhado todos entoam a ladainha de Nossa Senhora. A
este tempo estão os homens da marcação cada um com um remo que lhe toca na mão
e cada um no seu lugar e os remos alvorados com as pás para o ar. Acabada a
ladainha benze o pároco a todas as canoas, e comitiva, e depois implorando a
Divina Clêmencia larga a capitánea dando muitas salvas de espingarda, e levando
a sua bandeira larga; depois da distancia dita de mais de 50 braças larga a
segunda na mesma forma, e assim se seguem as outras, que a pouca distância se
acham em um sertão aonde não há mais que a Divina Providência e logo se
encontra um grande perigo além dos mais que se seguem que são
inumeráveis..."
3) Hércule Florence
Hércule
Florence em 1826 também registrou a cena
"... dirigindo- nos para o porto, onde achamos o
vigário paramentado com suas vestes sacerdotais, a fim de abençoar a viagem
como é costume e rodeado de grande número de pessoas que viera assistir ao
nosso embarque. Os parentes e amigos se abraçavam, despediam-se uns dos
outros... Romperam então da cidade salvas de mosquetaria correspondidas pelos
nossos remadores e , não ao som desse alegre estampido, deixamos as
praias..."
4) Governador Rodrigo César de
Menezes
Os
historiadores procuraram de sua vez reconstruir o quadro magnifico,
inspirando-se nas crônicas do tempo, é Washington Luis dando-nos uma impressão
do que teria sido a largada bulhenta e colorida das 308 canoas da frota
comandada pelo Capitão-general Rodrigo César de Menezes.
"Ao
amanhecer do dia 16 de julho de 1.726, foi ouvida a missa na capela de
Araritaguaba, insuficiente para conter todos os aventureiros, Depois no pátio,
a multidão, imensa e contraida em religioso recolhimento, recebia de um
sacerdote a benção da viagem. Estava prestes a partida. O guia era mestre os
pilotos práticos os remadores e proeiros vigorosos.Na sua canoa protegida por
um toldo, e em cuja popa tremulava levemente a bandeira portuguesa, já Rodrigo
César estava acomodado. Salvas de mosquetes, aclamações da multidão enchiam os
ares.
Desamarra -
gritaram e num impulso vigoroso de remos, ajudado pela correnteza do rio, a
monção deslizou pelas águas do Tiete."
5 – Taunay
Taunay na "História Geral das Bandeiras
Paulistas" assim descreve a largada dos canoões no porto de Araritaguaba
junto ao paredão de grés.
"Já
então estavam todos a bordo, confessados e sacramentados, porque dai para baixo
não existem mais igrejas nem sacramentos. A barranca do rio surgiu o pároco da
freguesia de Nossa Senhora Mãe dos Homens, de estola e sobrepeliz
acompanhado do sacristão.
Ajoelhavam–se todos e irrompia a ladainha de Nossa Senhora, um pouco mais curta
que a de hoje, sem os acréscimos modernos da invocação á Rainha livre da originais
a rainha da paz. Os homens da mareação, cada qual no seu posto,
empunhavam os remos, voltando-lhes as pás para o ar. A fórmula, temo-la
conservada pelo Pe. Angelo de Siqueira, em sua precisa “Botica da Lapa” –
“Propritiare, domine, suplicationious nostris et benedic navem istam
dextra tua sancta et omnes, qui in e a vehentum fiant dionatus es benedicere
arcam Noe ambullantem in dilunio. Porrige eis domine, dexteram tuam sicut
porrexisti beato petro ambulanti supra mare. Qui vivis et regnas in soecula
soecutorum.” Ai aspergia o sacerdote a
canoa com água benta. Acabada a ladainha, benzia o pároco as canoas, suas
equipagens e passageiros. E, depois implorando a Divina Clemencia, largava a
capitanea. Ao se desfraldar a bandeira real, davam-se muitas salvas de
espingardas”...
(*) Historia do rio Tietê, de Mello Nóbrega
A história de Porto Feliz, um capitulo importante da história brasileira
A história de Porto Feliz, um capitulo importante da
história brasileira (*)
Nossa cidade escreveu um dos capítulos mais fascinantes e
importantes da História do Brasil no
século 18. Nosso porto de Araritaguaba, deixou na história brasileira um
verdadeiro marco que ficou conhecido com o nome de Monções.
Monções, palavra de origem árabe, eram ventos alternados,
que propiciavam a navegação à Índia e, na época colonial do Brasil, passou a
referir-se às expedições fluviais do século 18, comerciais e povoadoras, que
partiam do nosso porto de Araritaguaba. “O termo designava a navegação fluvial
para o oeste, realizada pelos paulistas durante o século XVIII. Essa jornada
empregava remos: necessitava de força física e não eólica. No entanto, Sérgio
Buarque de Holanda destacou a existência de traços semelhantes entre as viagens
oceânicas portuguesas a as fluviais dos paulistas: regularidade, periodicidade
e duração. Todos os anos, nos meses de março a abril, as viagens para o Oriente
coincidiam com as jornadas paulistas para Cuiabá, aproveitando as cheias dos
rios e a facilidade de navegação. O trajeto entre Porto Feliz a Cuiabá consumia
cerca de cinco meses, mesmo tempo da rota entre Portugal à Índia. As monções ocupam importante capítulo da
história colonial, marcando a ampliação das fronteiras e a colonização do
interior, constituindo um prolongamento das bandeiras paulistas. As primeiras
monções para Cuiabá empregavam o mesmo contingente humano das bandeiras do
século XVII, mas se iniciaram quando o bandeirantismo entrava em declínio.
Sérgio Buarque destacou que as longas jornadas fluviais modificaram algumas
características das bandeiras, diversificando os meios de locomoção a exigindo
nova postura dos componentes. Se para os bandeirantes os rios eram obstáculos à
marcha, nas monções eram a principal artéria de deslocamento, razão pela qual
as técnicas fluviais alcançaram grande desenvolvimento entre os paulistas. Para
tornar a jornada menos perigosa, formaram-se comboios que substituíram as
unidades isoladas. Nos primeiros anos, muitos morreram nas monções por ataques
indígenas, naufrágios e fome. Para que os navegantes, suprimentos e mercadorias
fossem protegidos contra as intempéries do clima, as embarcações ganharam
toldos de lona, brim ou baeta, sustentados por armação de madeira, e tornou-se
recorrente o use de mosquiteiros. As técnicas de navegação se basearam nas
tradições indígenas, mas eram empregadas toras maciças na construção de canoas,
em vez de cascas de árvores, para torná-las mais resistentes e duradouras.
Possuíam cerca de 13 metros de comprimento, contando com seis remeiros, piloto
e proeiro, sendo as cargas dispostas no centro da embarcação. Com a descoberta
de veios auríferos, intensificou-se o comércio na região. As frotas, então,
reuniam por vezes 300 ou 400 canoas, que transportavam desde sal até artigos de
luxo, como sedas, de modo que as monções se tornaram essenciais para o
abastecimento das minas nos primeiros tempos, rivalizando em importância com o
abastecimento terrestre à base de tropas de mulas e contribuindo para a
formação de circuitos internos na economia colonial”, escreve Ronaldo Vainfas
no Dicionário do Brasil Colonial.
Cesário Mota Júnior, portofelicense foi o primeiro a
escrever a história do Rio Tietê e das Monções, publicando uma série de artigos no jornal de Piracicaba – A Gazeta
. Posteriormente , esses artigos foram reunidos no livro ‘‘Porto Feliz e as
Monções para Cuiabá”. Já no cargo
de Secretário de Estado dos Negócios do
Interior, Cesário Mota sugeriu ao pintor Almeida Júnior a pintura de um quadro
sobre as Monções. Daí, nascendo o famoso quadro “Partida da Monção”.
Muitos livros foram escritos sobre a navegação monçoeira
pelo rio Tiête, os dois livros mais conhecidos são: Relatos Monçõeiros,
organizado por Taunay e “Monções”,
escrito pelo famoso historiador Sérgio Buarque de Hollanda.
Porto Feliz faz parte importante da história de nosso país.
Somos a “ Terra das Monções “ e uma das “Fonte Histórica” desta grande nação...
Isso devemos preservar.
(*) Jonas Soares de Souza – Tribuna das Monções – outubro
2000
A Imprensa em Porto Feliz – Os primeiros jornais
A Imprensa em Porto Feliz
– Os primeiros jornais (*)
Cabe a Paschoalino
Verdi a gloria da fundação do primeiro jornal em Porto Feliz.
Lutando com serias
difficuldades, enfrentando sobranceiro a persitente guerra que lhe era movida
por parte do municipio tributario, conseguiu elle levar a realidade o seu
planejado ideal; e a 18 de Outubro de 1.906, era lançado
aos quatro ventos da publicidade o Araritaguaba, orgam de
interesse popular, com um programa excellente, bastante promissor, e redigido
proficientemente pela penna adamantina do saudoso Josino de Moura, que foi,
incontestavelmente, a gloria do jornalismo porto-felicense.
Esse jornal, no seu
primeiro anno de existencia adquiriu geral sympathia, ja pela sua orientação
adeantada, já pelo seu brilhante sequito de collaboradores, como: João
Vieira de Almeida, Othoniel Motta, Josino da Motta, Fernando Motta, Joaquim de
Paula, etc.
Mais tarde passou a
sua redação aos srs. dr Aquilino do Amaral Filho e Pedro Motta,
que imprimiram no Araritaguaba, um caracter eminentemente político que bastante
contribuiu para a sua completa decadencia e finalmente no seu periodo de
agonia, teve como redactor o rabiscador destas chronicas.
Em Agosto de 1.907 veio a luz o jornal mignon,
O Foguete do qual era redactor o sr dr Aquilino do
Amaral.
Folha critica e de
feição genuinamente política, teve curta duração.
Em Fevereiro de
1.908, começou a ser estampado o Porto Feliz sob a orientação
do sr Djalma de Arruda, e orgam da política situacionista;e nessa
mesma epocha, apparecia outro paladino, A Reação orgam
como aquele de caracter político, de opposição ao partido ainda hoje dominante.
Durante longo
tempo, estes dois periodicos trocaram armas na liça da discussão; e em novembro
daquele anno, finalmente, o Porto Feliz cedeu terreno ao adversário
desapparecendo nas trevas do esquecimento.
Outros jornaes
tambem foram publicados nesta cidade, porem tiveram pouca vida como:
O Demente,
A Mosca, O Brejeiro, A Perola, A Folha, etc.
(*) Almanach de Porto Feliz – 1909 - Paschoalino Verdi e B.
Ferraz Gomide
A primeira Loja Maçônica do Estado de São Paulo
A primeira Loja Maçônica do Estado de São Paulo(*)
A primeira Loja Maçônica do Estado de São Paulo foi fundada
em Porto Feliz, a 19 de agosto de 1.831, quando o país vivia um clima de
transição política gerado pela abdicação do Imperador Pedro I, ocorrida a 7 de
abril do mesmo ano. A história registra que depois da abdicação de D. Pedro I a
maçonaria brasileira intensificou sua luta,
e organizou-se da melhor forma possível, tendo instalado no Rio de
Janeiro o Grande Oriente Nacional Brasileiro, que elegeu como Grão Mestre o
Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva.
Naquela ocasião o Grande Oriente Nacional Brasileiro enviou
emissários para as Províncias, com
poderes de instalar Lojas Maçônicas e, nessa oportunidade vieram a Porto Feliz
os plenipotenciários João Batista Lobo de Oliveira, que era Oficial do
Exército, e Luiz Luciano Pinto, que era negociante. Chegando à velha Araritaguaba aqueles emissários maçônicos iniciaram nos
augustos mistérios o Comerciante João Gaudie Lei, para que pudessem compor o
quadro inicial da Loja, cujos trabalhos seriam desenvolvidos no rito oficial do
Grande Oriente Brasileiro.
O ilustre historiador maçônico Kurt Prober nos conta que no
exercício de 1.832, da era vulgar, o quadro de obreiros da primeira Loja
Maçônica do Estado de São Paulo, fundada em Porto Feliz no dia 19 de agosto de
1.831, era o seguinte:
João Batista Lobo de Oliveira - “Trajano”
Luiz Luciano Pinto - “Bruce”
João Gaudie Lei - “Voltaire”
José Gomes da Silva - “Catão D’Utica”
José Rodrigues Leite - “Jeferson”
José Pinto Miguez - “Pelópidas”
Joaquim Correa Leite - “Franklin”
Manoel Foz Teixeira - “Rousseau”
Mathias Teixeira D’Almeida - “Aristides”
Manoel Inácio de Faria - “Epaminondas”
Luiz Antonio da Fonseca - “Pinho”
José Maria de Nolasco - “Sólon”
José Custódio de Almeida - “Cincinato”
Antonio Vaz de Almeida - “Tito”
Francisco Antonio de Moraes - “Platão”
José de Tolledo Piza - “Warington”
José Maria de Souza - “Ganganelli”
Manoel Alves de Almeida - “Sertório”
Manoel José Mesquita - “Cézar”
Tristão de Abreu Rangel - “Eneas”
José Manoel de Foz - “?”
?????????????????? - “Sipião”
De acordo com os estudos realizados pelo historiador Brasil
Bandecchi, doutor em história pela Universidade de São Paulo, o Padre Diogo
Antonio Feijó (Regente Feijó), foi iniciado na maçonaria, pela Loja
Inteligência de Porto Feliz, no ano de 1.831, quando deixou o Ministério da
Justiça e veio para a Província de São Paulo, onde permaneceu até maio de
1.833.
Como a primeira Loja Maçônica do Estado de São Paulo, a
Inteligência de Araritaguaba prestou relevantes serviços à maçonaria
brasileira.
(*) Texto elaborado pelo advogado Dr. Reinaldo Crocco Júnior
Santa Casa de Misericórdia – A Ata de instalação
Santa Casa de Misericórdia
– A Ata de instalação (*)
Aos doze dias do
mes de Julho do anno de 1.908, ás onze horas da manhã, na sala das sessões da
Santa Casa de Misericordia de Porto Feliz, presentes o sr, José Esmedio de Paes
Almeida, vice-provedor em exercício do provedor e mais os sócios dr Draco de Alburqueque, dr.
Christovão da Gama, José Teixeira da Fonseca, Djalma Honorato de Arruda, Djalma
Pires, professor Roque Plínio de Carvalho, Tristão Pires de Almeida, Padre José
L. Rodrigues, Francisco Mauricio de Oliveira, José Ottoni de Sampaio, Pedro
Motta, Eugenio Motta, José Mauricio de Oliveira, Aquilles Jorge de Oliveira,
Antonio Pimenta Junior, Mathias Fernandes de Camargo, Luiz de Carvalho Filho,
Euchario Mauricio de Oliveira, secretario da associação, pelo mesmo provedor em
exercicio foi dito que tendo sido concluidos os trabalhos de adptação do predio
e se achado o mesmo provido de tudo necessario para o funcionamento da Santa
Casa, bem como satisfeitas as naturaes exigencias para esse fim declarava
installada a Santa Casa de Misericordia de Porto Feliz cuja direcção clínica
ficava a cargo do dr Christovão da Gama que, que sócio fundador, gratuitamente
tomará a esse cargo, sendo que o serviço
fharmaceutico ficaria a cargo do
fharmaceutico Adolpho Brand, estabelecido nesta cidade, havendo ainda
imcumbidos do serviço das enfermarias dois enfermeiros adrede contractados. Disse mais o provedor em
exercicio que, de accordo com o estabelecido nos estatutos devia ser eleita
nova directoria para a Santa Casa de Misericordia, sendo então eleitos para
provedor, José Esmedio Paes de Almeida, vice provedor, Padre José L. Rodrigues,
para mordomos José Teixeira da Fonseca, José Antonio Vieira, Mathias Fernandes
de Camargo, Francisco Mauricio, Tristão Pires, Pedro Motta, Pimenta Junior,
Djalma Pires, Luiz de Carvalho Filho, Levindo Pires, Djalma Arruda, para
thesoureiro Joaquim Agostinho Torres e para secretario Euchario Mauricio de
Oliveira, sendo os dois últimos reeleitos. Pelo socio Dr Draco de Albuquerque
foi proposto e aprovado que se lançasse nesta acta um voto de louvor ao sr José
Esmedio Paes de Almeida pelo modo dedicado com que desempenhou as funções do
que foi imcumbido desde a iniciação dos trabalhos para a fundação da Santa Casa
até a sua installação. Pelo sr José Esmedio Paes de Almeida foi dito que
agradecia este voto de louvor, e propunha identica manifestação ao dr Draco de
Albuquerque, que foi um seguro auxiliar seu no desempenho dessa missão,
dedicando-se igualmente a mesma cauza, sendo tudo approvado. E como mais nada
houvesse a tratar foi encerrada a sessão da qual eu, Euchario Mauricio de
Oliveira, secretario lavro esta acta que vai por todos assignada.
(*) Almanach de Porto Feliz – 1909 - Paschoalino Verdi e B.
Ferraz Gomide
Armazém Real de Araritaguaba
Armazém Real de Araritaguaba - Outra repartição ligada ao "ciclo das monções" (navegação fluvial de São Paulo para Mato Grosso). Araritaguaba era um porto no alto Tietê, de onde partiam, em grandes canoas, as expedições paulistas para Cuiabá, levando mineradores, soldados e comerciantes. Entre 1767 e 1777, pelo menos, o governo colonial ali manteve um Armazém Real para abastecer a isolada colônia militar de Iguatemi, na divisa com o Paraguai. A tomada de Iguatemi pelos espanhóis fez cessar a razão da existência dessa repartição em Araritaguaba. Araritaguaba hoje é a moderna cidade paulista de Porto Feliz. O Armazém Real provavelmente estava sediado no prédio ainda agora denominado "Casa da Alfândega", mas que é usado parte como bar e parte como moradia. (FONTES: RIHGB/AHU/SP, 11:23 e 26 - Guia dos Bens Tombados - São Paulo, 27).
O “quadrilátero do açúcar”
O “quadrilátero do
açúcar”
Entre 1780 e 1850 a região de Porto Feliz e Itu foi um das
maiores produtoras de açúcar em São Paulo. Nessa época, os canaviais cobriram vastas extensões de
terras e o número de engenhos quase chegou à cifra de duas centenas. Do período
restou um conjunto de testemunhos arquitetônicos, além de um acervo de objetos,
documentos textuais e iconográficos
O naturalista alemão Gustavo Beyer, que visitou a região no
verão de 1813, ficou impressionado com a presença marcante da cana de açúcar na
paisagem e no cotidiano da população. Essas impressões ficaram registradas em
seu diário de viagem: “Antes de chegar à cidade de Itu, o terreno é todo
cultivado e todos os campos são ornados com plantações de cana e ao pé de cada
rio encontram-se engenhos e alambiques, que são movidos por água”. E não foi
somente a extensão dos canaviais e o número de engenhos que despertou a atenção
de Beyer, mas também o costume muito comum dos habitantes de comer melado e
mascar gomos de cana-de-açúcar: “Viajando pelos arredores de Itu, é impossível
não notar que toda gente de classe baixa tinha os dentes incisivos perdidos
pelo uso constante da cana de açúcar, que sem cessar chupam e conservam na boca
em pedaços de algumas polegadas. Quer em casa quer fora dela, não a largam e é
possível que esta também seja a causa de haver aqui mais gente gorda do que em
outros lugares. A classe superior gosta igualmente de doce, pelo que recebeu o
alcunha de mel do tanque, isto é, o melhor melado produzido na fabricação do
açúcar. Os próprios bois e os burros também participam da mesma inclinação e
encontram-se eles, tal qual seus condutores, mastigando cana”.
A indústria do açúcar no Brasil, que estava um tanto estagnada, se beneficiou nesse período de uma situação
conjuntural. A ocorrência da
desarticulação da produção açucareira nas Antilhas provocou alta de preços e ampliação nos mercados mundiais do produto,
dando assim oportunidade ao açúcar da
colônia portuguesa. Ao conseqüente renascimento dos engenhos correspondeu
também o soerguimento da economia paulista.
Na área central da Capitania de São Paulo, no chamado
“quadrilátero do açúcar”, uma área formada por Mogi Guaçú, Jundiaí, Porto Feliz e Piracicaba, concentrou-se então
a maior parte da cultura e da indústria açucareira. Entusiasmados com a
expansão da demanda e com a alta de preços os fazendeiros da região investiram
capitais na ampliação das lavouras e fábricas de açúcar, e muitos chegaram
mesmo a se afundar em dívidas para levantar novos engenhos. E os preços
continuaram ajudando, pois se elevaram
progressivamente até 1799.
Entretanto, na virada do século 18 para o 19 os preços do
açúcar começaram a declinar. A flutuação dos preços e a retração do mercado
assustaram os fazendeiros da região.
A “falta de comércio” e a
conseqüente baixa de preços forçaram os
vereadores da Câmara da vila de Porto Feliz, que julgavam-se “obrigados a
salvar a Pátria da ruína que a ameaça”, a apelar ao Príncipe Regente D.
João. Através de ofício datado de 27 de
junho de 1801 suplicaram “humildemente se digne [o Príncipe Regente] conceder
aos fabricantes de açúcar e lavradores de cana
e aos seus partidistas desta capitania o privilégio de não serem
executados nos pertences de suas fábricas e escravos, devendo os credores ser
pagos pelos rendimentos delas, os quais
devem somente ficar obrigados à importância das dívidas, para a segurança”.
A conjuntura
internacional mais uma vez veio em socorro dos fazendeiros de Itu. A série de guerras napoleônicas na
Europa provocou a retomada da cotação elevada do açúcar. Os preços declinaram
um pouco somente a partir de 1830, mas mantiveram-se durante o século 19 em
nível comparado ao do século anterior. Entretanto, a partir de 1850 o café
tornava-se pouco a pouco no principal produto brasileiro de exportação,
deslocando o açúcar para uma segunda posição. Campinas, por exemplo, que antes
fora grande produtora e que em 1839
tivera 93 engenhos e uma produção de
158.477 arrobas, já em 1854 contava com apenas 44 engenhos e uma produção de
62.290 arrobas de açúcar. Enquanto isso, cresciam suas fazendas de café.
Nesse mesmo ano já eram 177 fazendas
produzindo 335.550 arrobas de café.
Em Itu, porém, o café não chegou a ultrapassar o açúcar nesse
período: eram 60 fazendas produzindo
16.702 arrobas de café, contra 164 engenhos produzindo 159.070 arrobas
de açúcar. Como bem demostrou a historiadora Maria Thereza Schorer Petrone, em
Itu estava concentrada as maior parte da indústria açucareira de São Paulo,
pois toda a Província tinha 667 fazendas de açúcar e uma produção total de
866.140 arrobas de açúcar.
J.J. von Tschuddi, nomeado embaixador no Brasil pelo Governo
da Confederação Helvética, visitou Itu
na década de 1860 e deixou a seguinte observação no seu livro de viagens - “no distrito da cidade cultiva-se em várias fazendas a cana de açúcar, sendo
algumas destas fazendas otimamente instaladas, nada ficando a dever aos
melhores engenhos de Pernambuco”.
Por outro lado, os fazendeiros ituanos disseminavam a
cultura da cana nas terras dos municípios ao seu redor. A lavoura de cana de Porto Feliz dever ser
considerada uma expansão da ituana -
“Gente de Itu, à procura de novas terras, levaram o interesse pela
lavoura canavieira à antiga Araritaguaba induzindo, inclusive, os primitivos
moradores a plantar cana”. Ao encerrar o período colonial, a antiga freguesia
de Araritaguaba, juntamente com Itu e Campinas, controlava a produção de açúcar
da Capitania.
Os ituanos foram também
responsáveis pela expansão dos canaviais até Piracicaba. Em 1790 o
governador da Capitania de São Paulo, Bernardo José de Lorena, solicitou ao
capitão-mor de Itu providencias necessárias para o povoamento das terras da
então freguesia de Piracicaba. Tomadas as providências, em pouco tempo a
cultura da cana se desenvolveu e oito anos depois havia um conjunto de três
engenhos produzindo 700 arrobas de açúcar.
De certa forma, a
cultura da cana em Porto Feliz e Piracicaba
era resultado da falta de terras em Itu.
Já em 1784 o capitão-mor de Itu dizia – “não se acham muitos terrenos,
onde possam estabelecer-se” para erigir novos engenhos. Em todo o caso, durante
um bom tempo desse novo “ciclo do açúcar” as terras da antiga povoação de Nossa Senhora da
Candelária formavam a maior área produtora da Capitania e depois Província de
São Paulo.
Enriquecidos, alguns
senhores-de-engenho mandavam construir sólidos e imponentes sobradões na
cidade. Mas eram sobradões que ficavam
desocupados e fechados durante a maior parte do ano. O costume era tão freqüente que chamou a atenção do
naturalista Auguste Saint–Hilaire. Ele anotou em seu livro Viagem à Província
de São Paulo que os proprietários só iam à cidade aos domingos, afim de
ouvir missa, “não se podendo mesmo em rigor computá-los como elementos
constituintes da população”. Os senhores-de-engenho ituanos permaneciam
isolados em suas terras levando uma vida modesta, sem grandes atividades
sociais e culturais. “De maneira geral, pode-se afirmar que não houve em São
Paulo, pelo menos durante o período colonial, uma sociedade do açúcar como
haveria mais tarde a sociedade do café, com suas ricas casas na cidade,
temporadas na Corte...”
Engenhos e sedes de fazendas
Dos engenhos do período restaram poucas evidências. Uma
idéia de como eram as fábricas de açúcar da região nos fins do século 18 e
primeiras décadas do 19 pode ser inferida a partir das construções, apesar de
posteriores, existentes na fazenda Vassoural
(Engenho Vassoural) em Itu.
Em Porto Feliz, das
sedes de fazendas destacam-se a da Fazenda do Moinho e o Engenho D’água. A sede
da Fazenda Engenho D’água foi construída em 1858, quando era seu proprietário
Antônio Paula Leite de Barros. A denominação da fazenda se deve à existência,
naquela altura, de um pequeno engenho tocado à água. O proprietário era um grande plantador de
cana-de-açúcar e foi um dos acionistas
da Companhia Açucareira de Porto Feliz, empresa que em 1878 colocou em funcionamento
o Engenho Central de Porto Feliz.
O casarão de grandes dimensões apresenta uma pavimento inferior, que
acompanha toda a extensão da construção. Esse pavimento inferior, com piso de
terra batida, era usado como depósito de
mantimentos, ferramentas, utensílios
agrícolas, e arreios.
A parte superior, com assoalho de madeira, era o espaço da moradia isolada. Uma grande
sala central de entrada, a chamada “sala da frente”, própria das casas do tempo do açúcar, dava acesso aos dormitórios e locais de
serviço doméstico, incluindo a cozinha. Uma parcela das atividades de preparação
dos alimentos era realizada fora da casa, em um puxado pegado à casa e munido
de fogão e forno e aparelhagem para o fabrico de farinha de milho ou de
mandioca. Nos locais de serviço doméstico se fazia o queijo e se guardava os
gêneros. A cozinha era uma vasta dependência, provida de fogões, grandes mesas,
pilões, potes de água, tachos de cobre.
No centro da planta, as alcovas. Antigamente denominadas
“camarinhas”, as alcovas foram aperfeiçoadas e profusamente adotadas do século
18 em diante, principalmente nas casas urbanas. Mas, verdadeiro contra-senso,
foram adotadas na roça, onde não havia problemas de espaço. A tradição
identifica as alcovas como o lugar ideal
de dormir, onde o recato e a segurança se aliavam salvaguardando a intimidade.
Eram cubículos estanques sem ar e luz diretos, onde as lamparinas dos oratórios
e candeias a óleo de algodão se encarregavam de aquecer e viciar a atmosfera
enclausurada, como afirmou o arquiteto Carlos Lemos em estudo sobre a
arquitetura tradicional paulista.
Olhando do lado externo,
o casarão apresenta fachadas simétricas, com todas as janelas e porta
alinhadas. A fachada principal apresenta três janelas de um lado e quatro do
outro, e uma ornamentação simples, de forma a permitir diferenciá-la das demais
fachadas. A escada de acesso ao
pavimento superior sobe paralela à sua fachada principal, levando a uma porta
de entrada no meio da construção.
Com o passar do tempo o casarão sofreu diversas
intervenções, que modificaram a distribuição e o uso dos cômodos internos. A
senzala, próxima da construção principal, cedeu espaço às pequenas casas de
colonos. As “casinhas”, privadas
masculina e feminina que não tinham sistema de esgoto, e o primitivo moinho, o “engenho d’água”,
desapareceram. Durante algum tempo a fazenda Engenho D’água forneceu cana ao
Engenho Central. Mais adiante suas terras e a sede foram incorporadas à Société
de Sucrèries Bresiliennes, com sede em
Paris, que adquiriu o antigo Engenho Central e o transformou em moderna usina
de açúcar.
Atualmente, a velha sede da Engenho D’água, exemplar típico
da arquitetura do açúcar na bacia do rio Tietê, pertence à União São Paulo.
Trata-se de construção que merece ser preservada por seu valor arquitetônico (um dos poucos
exemplares remanescentes da arquitetura do açúcar em nossa região) e histórico
(testemunho arquitetônico de um período da formação social, cultural e
econômica Porto Feliz). Além disso, é um referencial simbólico da cidade do
mais alto significado. Quem em Porto Feliz não se vale do Engenho D’água como
ponto de referência (de orientação geográfica, de recordação sentimental, de
“estilo de casa”, de indicação de local de trabalho etc.)
O levantamento exaustivo
das arquiteturas do açúcar na região foi realizado pelo arquiteto Júlio
Roberto Katinsky, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo, dentro de um
projeto de identificação dos
remanescentes de engenhos de açúcar da primeira fase da instalação dessa
indústria no planalto paulista. O levantamento identificou os alambiques em
torno de Cabreúva e as fazendas em torno de Itu e Porto Feliz e Salto, nas
margens direita e esquerda do Tietê.
O sistema de engenho-central
Na primeira metade do século 19, um século de tantas
novidades tecnológicas, há de se notar
que a cultura da cana e o fabrico do açúcar na região, bem como no resto do
país, ainda se processavam com base em
técnicas antiquadas. Tanto assim que o uso do arado na fazenda do Marques de
Monte Alegre, nas proximidades de
Capivari, despertou a atenção de J. J.
von Tschuddi. Ao registrar o fato no seu diário de viagem, justificou sua menção “porque este instrumento agrícola
é quase desconhecido em toda a Província, embora a configuração do terreno se preste
muito bem a seu uso”. Apesar dessa
observação, cabe lembrar que o marechal Pedro Daniel Muller faz referência ao
uso do arado nas proximidades das vilas de Porto Feliz, Itu e São Carlos
[Campinas] no Quadro Estatístico da Província de São Paulo , relativo a
1836/1837. Outro viajante da segunda metade do século 19, Augusto Emílio
Zaluar, enxergou um estado de decadência
em Porto Feliz naquele tempo. Segundo ele, existia um conjunto de
circunstâncias favoráveis ao progresso do povoado: clima ameno e sadio e
fertilidade do terreno, bom para o cultivo de café, cana-de-açúcar, chá e fumo.
Zaluar entendeu a decadência do lugar como resultado da falta de trabalhadores
na lavoura e em decorrência do estabelecimento de uma nova rota para as monções
cuiabanas, que no século 18 partiam do antigo porto de Araritaguaba. A
população de Porto Feliz, que na primeira metade do século 19 chegara a 11.000
habitantes, em 1860 estava reduzida a 7.000 habitantes, divididos em 5.000
livres e 2.000 escravos. O comércio nessa mesma época era insignificante, segundo
Zaluar: algumas tabernas e umas poucas lojas de fazendas e armazéns.
Na área do fabrico é interessante ressaltar a iniciativa de João Tibiriçá
Piratininga, que por volta de 1850
encomendou na Europa um moderno equipamento destinado à fábrica de açúcar
da sua fazenda em Indaiatuba. Porém, não se tem notícia dos resultados da sua
experiência, nem mesmo se de fato ela foi efetivada.
Produzido assim com técnicas ultrapassadas, o açúcar
brasileiro não era páreo para o açúcar porto-riquenho, cubano ou filipino no mercado norte-americano e
muito menos para o açúcar de beterraba
nos mercados europeus. Chegou-se a conclusão que era impraticável a
continuidade do velho sistema de engenhos isolados. Surgiu então a proposta
renovadora do sistema de engenhos centrais. Nesse sistema, o engenho-central deveria ser uma grande
unidade de produção, separada da área agrícola e equipada com maquinaria
moderna, e dentro da fábrica deveria ser
proibida a exploração do trabalho escravo. O sistema de engenho-central respondia
a necessidade de adaptação da fabricação do açúcar à passagem do trabalho escravo ao trabalho
livre. O seu aparecimento revolucionou os meios de produção e promoveu o uso de
estradas-de-ferro, com a substituição do transporte animal pelo transporte à
vapor. O primeiro a ser implantado no Brasil foi o Engenho Central de Quiçamã,
no município de Macaé, Rio de Janeiro. Por sua vez, o primeiro da então
província de São Paulo foi o Engenho Central de Porto Feliz, que foi inaugurado
a 28 de outubro de 1878.
O projeto e a construção do Engenho Central de Porto Feliz
coube à Companhia Açucareira de Porto Feliz, uma sociedade organizada por
Joaquim Carlos Travassos, Bernardo Avelino Gavião Peixoto, Augusto Fomm, José
Manuel de Arruda Alvim, Luís Antônio de Carvalho, Delfino Antônio de Carvalho e
Antônio de Paula Leite de Barros. O
grande edifício do novo engenho tinha a forma de cruz, sendo cada asa
apropriada a uma fase da produção do açúcar, como às moendas e às casas de
caldeira, purgar e destilar. Essa planta em cruz teve uma certa aceitação em
várias regiões açucareiras. Ruy Gama, estudioso da arquitetura e tecnologia do
açúcar, alertou para o fato de a planta adotada ser uma planta
internacionalizada, como o são as máquinas e aparelhos do engenho. Mas parece
ser a última das plantas propostas para o engenho, “permitindo que o
proprietário, postado na intersecção dos braços da cruz, vigiasse pessoalmente
todos os trabalhos”, como grifou Ruy Gama,
inspirado em Michel Foucault , de Vigiar e punir.
O Engenho Central de Porto Feliz foi absorvido em 1907 e
totalmente remodelado pela Société de Sucrèries Bresiliennes. A nova usina
resultante dessa intervenção produziu açúcar e álcool até 1991, ano no qual foram encerradas suas
atividades mais que centenárias. As
imponentes ruínas que se vêem hoje, às margens do Tietê, pouco tem a ver com a
construção pioneira de 1878.
Jonas Soares de Souza
Museu Paulista - USP
As rodovias paulistas e as monções setecentistas
As rodovias paulistas e as monções setecentistas (*)
Estrada dos Romeiros, Rodovia do Estado, Estrada da Gruta,
Estrada de Cabreúva, e outras tantas foram as denominações dadas popularmente
ao longo do tempo para o trecho Itu - Cabreúva da Rodovia São Paulo - Mato
Grosso, aberta ao público no dia 01 de maio de 1.922. Com essa inauguração
completava-se o setor considerado o mais importante da rodovia de noventa e
sete quilômetros de estrada - tronco que ligava São Paulo a Itu, e era
considerada marco na implantação da malha rodoviária paulista.
A estrada estava incluída em um projeto de quase uma década.
Em 1.913, o governo de São Paulo chefiado pelo conselheiro Francisco de Paula
Rodrigues Alves (quadriênio 1912-1.916) encomendara a elaboração de um
"Plano de Viação" para o Estado. A tarefa seria executada sob
coordenação do engenheiro Clodomiro Pereira da Silva. Na mesma época, o então
deputado estadual Washington Luís Pereira de Sousa, mais tarde famoso como
autor do lema "governar é abrir estradas", em documento dirigido ao
Secretário da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Paulo de Morais Barros,
ressaltava a importância da abertura de novas rodovias e dizia que, em relação
ao automóvel, "sabendo que esse veículo não é um concorrente perigoso da
estrada de ferro, e é antes um auxiliar indireto, devemos concluir que fazer
boas estradas, para todo o ano, que permitam o trânsito de automóveis, é um
dever geral, neste momento de progresso da Viação".
No mesmo ano de 1.913 sancionou-se a Lei 1406, datada de 26
de dezembro, estabelecendo o regime penitenciário no Estado. Em seu artigo 6º
essa Lei permitia que, enquanto não estivesse concluída a Penitenciária do
Carandiru, os condenados trabalhariam de preferência na abertura, construção e
conservação de estradas públicas de rodagem. A mesma Lei, em seu artigo 16,
autorizava o governo a estabelecer o sistema de Viação do Estado em relação a
estradas públicas de rodagem.
Durante o seu mandato como prefeito de São Paulo (1.914)
Washington Luís já tinha traçado um grande programa rodoviário. O programa
preocupava-se basicamente com as saídas do município, visando o futuro
aproveitamento dos cinco troncos estaduais previstos nos Planos de Viação: 1.
São Paulo - Rio de Janeiro, 2. São Paulo - Minas Gerais, 3. São Paulo - Mato
Grosso, 4. São Paulo - Paraná e 5. estradas do litoral sul.
Ao assumir o governo paulista, Altino Arantes Marques
(quadriênio 1.916/1.920) encontrou a questão rodoviária bastante amadurecida, e
em seu mandato deu andamento a diversas obras. Entretanto, somente no governo
de Washington Luís (quadriênio 1.920/1.924) é que o rodoviarismo ganhou notável
incremento. É por isso que ele pode comemorar o primeiro aniversário de seu
governo com a inauguração, a 01 de maio de 1.921, da estrada São Paulo -
Campinas, cuja construção tinha sido iniciada em 1.9l6 sob os auspícios da Lei
1.406. A partir de então, tomaram-se medidas concretas para o estabelecimento
de um plano definitivo de construção e conservação de estradas, criando-se,
através da Lei 1835-C de 26/12/1.921, a Inspetoria de Estradas de Rodagem,
subordinada à Diretoria de Obras Públicas da Secretaria da Agricultura,
Comércio e Obras Públicas, e uma brigada de empreiteiros para o desempenho das
tarefas de construção e conservação.
O caminho das monções
Nessa época retomaram-se os trabalhos de construção da São
Paulo - Mato Grosso, que estavam paralisados. Para Washington Luís, a rodovia
resgatava o caminho das Monções setecentistas, antigamente percorrido nas
"estradas móveis" das águas dos rios Tietê, Paraná, Pardo, Taquari e
Paraguai. O termo monções, na sua origem árabe, significava época ou vento
favorável à navegação. Incorporado ao vocabulário do País, passou a referir-se
às expedições fluviais povoadoras e comerciais que partiam do antigo porto de
Araritaguaba, às margens do Tietê, atualmente Porto Feliz, com destino às minas
de ouro nas cercanias de Cuiabá. Apesar de no século 18 ter sido feita a
abertura de comunicação terrestre com essa região, na realidade, porém,
enquanto perdurarem as grandes monções, ela nunca poderá ser muito mais do que
um complemento do comércio fluvial. Se no movimento monçoeiro os rios foram
imprescindíveis, eles não tiveram uma ação significativa sobre o movimento das
bandeiras, como registrou Alfredo Ellis Júnior em O bandeirismo paulista e o
recuo do meridiano: " O Tietê, o velho Anhembi, que à primeira vista
parece ter sido o grande caudal que determinou o Bandeirismo, foi desconhecido
de grande parte do movimento".
Dois séculos depois da descoberta de ouro junto à barra do
Coxipó - Mirim, em 1.718, por Pascoal Moreira Cabral, a Rodovia São Paulo -
Mato Grosso retomava o antigo itinerário do movimento monçoeiro.
Estrada-monumento
O trecho Cabreúva - Itu da Rodovia São Paulo - Mato Grosso
foi construído entre 1.920 e 1.922. "Uma estrada de rodagem, talvez a mais
bela e bem acabada que existe no Estado de São Paulo, vai ser inaugurada
justamente no dia em que se verifica o segundo aniversário do atual
governo", dizia o jornal República, de Itu, na edição de 30 de abril de
1.922.
O traçado da nova estrada acompanhava, na margem oposta do
Tietê, quase que o mesmo traçado da antiga "Estrada do Imperador".
Nos séculos 18 e 19 através desse caminho era transportado para São Paulo e
Santos, em lombo de burros, a produção ituana de açúcar e café . Isto perdurou
até a construção da Estrada de Ferro Ituana, que seria inaugurada em 1.873. A
abertura do trecho foi um trabalho difícil. A picada na mata surgiu a golpes de
facões e machados. O braço humano escavava à picareta a encosta íngreme e
carregava as carrocinhas basculantes transportadoras de terra. A beleza do
leito acidentado do Tietê acabou sendo revelada durante a construção da nova
estrada, que pouco a pouco ganhava forma. Washington Luís estava tão
interessado nas obras que as inspecionou pessoalmente no dia 18 de fevereiro de
1.922. O tamanho da comitiva que o acompanhou naquele dia dá conta da
importância da obra para o governo. Com o presidente do Estado estava o seu ajudante
de ordens, major Afro Marcondes; o secretário da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas, Heitor Penteado; o deputado federal Carneiro da Cunha; o diretor das
Obras Públicas, Alfredo Braga; o presidente da Associação Permanente de
Estradas de Rodagem, Antônio Prado Júnior e o engenheiro da Diretoria de Obras
Públicas, Cássio Vidigal. No ponto em que marcava o estágio mais avançado das
obras a comitiva presidencial encontrou-se com o engenheiro fiscal da
construção da ponte sobre o Tietê, Paulo Dutra da Silva, e com autoridades do
município de Itu. Finalmente, a 01 de maio de 1.922 Washington Luís inaugurou a
estrada, comemorando com pompa o aniversário do segundo ano de mandato. O
próximo trecho, de Itu a Porto Feliz e Tietê, seria inaugurado no ano seguinte,
em 1.923.
No seu governo Washington Luís desenvolveu um extenso
programa comemorativo do centenário da Independência (1.822/1.922). Estudioso
da História de São Paulo e autor de livros e artigos sobre o assunto, ele tinha
como projeto privilegiado a idéia de realçar o papel dos paulistas na
construção da Nação. Na estrada Vergueiro (São Paulo - Santos), ao longo da
serra, construiu-se uma série de monumentos com tríplice finalidade: celebrar o
centenário da Independência (1.822/1.922); lembrar permanentemente aos
passantes o "esforço hercúleo dos paulistas" desde a época colonial
até aos nossos dias para estabelecer a ligação entre o litoral e o planalto
central; e servir de abrigo para os viajantes. Quatro monumentos principais
foram então projetados pelo arquiteto Victor Dubugras: Cruzeiro Quinhentista;
Marco de Lorena; Rancho da Maioridade e Pouso de Paranapiacaba
Por sua vez, a rodovia São Paulo - Mato Grosso,
especialmente o trecho entre São Paulo e Porto Feliz, poderia também rememorar
a importância dos paulistas na conquista e formação do território nacional. Em
sua última fala pública, em Itu no ano de 1.955, Washington Luís de certa forma
deixou patente esta dimensão da estrada: "E esta de Itu é a celebrada
estrada, que partida de São Paulo, chegava ao antigo porto de Araritaguaba e ia
a Mato Grosso, esse Mato Grosso onde a audácia e a perseverança da gente
paulista foram descobrir as minas de ouro de Cuiabá, que enriqueceram a
metrópole de então, e, sobretudo, alargaram a capitania de São Vicente, fazendo
alongar para oeste imensamente as fronteiras do território brasileiro".
Para o trecho Cabreúva - Itu, que desde a sua inauguração já
era considerado como o "mais belo", Washington Luís idealizou e
mandou construir muradas, mirantes e bancadas. Não eram monumentos como aqueles
construídos pelo arquiteto Victor Dubugras ao longo da serra. Mas eram recursos
que tinham a finalidade de facilitar aos passantes a visão de um monumento
natural muito maior: o Tietê e os portentosos jequitibás das margens do
lendário rio. Nos mirantes o viandante poderia ver o Tietê como a "estada
móvel" que conduzira os paulistas ao coração do país e o jequitibá como o
símbolo da magnitude do PRP - "É verdade que o Partido Republicano
Paulista não proclamou a República; mas amparou, ajudou a constituição e o seu
funcionamento. Desse partido foram membros os maiores dentre os maiores homens
que trabalharam durante o regime republicano no Brasil", afirmaria mais
tarde Washington Luís.
Prosseguindo o caminho, a poucos quilômetros de Itu o
viajante alcançaria Porto Feliz, às margens do Tietê. Nas proximidades do
antigo porto geral da velha Araritaguaba, um vistoso monumento em mármore rosa,
executado em 1.920 pelo escultor Amadeo Zani, o lembraria das fantásticas
expedições fluviais do século 18 e da constante motivação do homem para vencer
distâncias, descobrir o desconhecido e construir o novo.
(*) Jonas Soares de Souza – professor, historiador da USP.
Bandas Portofelicenses – (subsídios)
Bandas Portofelicenses – (subsídios) (*)
"BANDA UNIÃO PORTOFELICENSE"
Esta correcta
corporação musical, foi fundada em 29 de junho de 1.897
pelos srs maestros Manoel José de Calazans e Lourenço Rogado. tendo como
director o sr. cap Evaristo Rodrigues de Arruda e secretario o sr Francisco de
Souza Moraes.
Desde o seu inicio
até hoje (1.909), a banda União, incontestaveis serviços tem prestado a este
municipio, adquirindo a symphatia popular, a que tem incontestavel jús.
Corporação bem
organizada, composta de artistas estudiosos que cultivam com apurado gosto a
divina arte de Mozart, é sempre um elemento de successo em qualquer cidade onde
comparece.
A sua actual
directoria é composta dos srs. Padre José J. Rodrigues, presidente; Frederico
Brand, secretario; Justino Gomide Bueno, fiscalização rigorosa, a banda União
não deprecia o grande renome que tem.
“EUTERPE PORTO FELICENSE”
A banda musical
Euterpe Porto Felicense no seu inicio, em 1.869, da
Guarda Nacional do municipio, sendo o
seu corpo composto de officiaes desta milicia sob a direção do saudoso maestro
Benedito Paes de Almeida.
E uma corporação
correcta, bem organizada, possuindo um fardamento deslumbrante que faz jus ao
meio civilizado em que viremos.
E um gosto ouvi-la
executando qualquer peça, que seja da primeira vista ou não, sempre com a
impeccavel correção, tendo como principal caracteristico, a admiravel harmonia.
Tem sido seus
directores, respectivamente, os srs. Leopoldo Francisco de Paula – 1870 -1872;
Antonio Ribeiro de Oliveira, -1872- 1876; Urbano Pinto dos Santos – 1876 -
1908: e de então para cá o distincto jovem Virgilino de Oliveira Santos, intelligente
e criterioso e conhecedor profundo da arte muzical.
E seu presidente o
sr. José Teixeira da Fonseca.
(*) Almanach de Porto Feliz 1.909 – Paschoalino Verdi
Canoas ou Batelões
Canoas ou Batelões - ( tamanhos,
madeira e construção ) (*)
A mais antiga
referência a essas embarcações é a de Dom Luís Cespedes Xeria que, em 1.628, á
maneira da terra, improvisara sua frota, composta de três batelões, um dos
quais comportava cinquenta remeiros, talhada que fora em gigantesco madeiro,
cuja circunferência media dezessete metros e sessenta centimetros. Nota-se,
todavia, que o sistema de navegar adotado pelo governador do Paraguai não era o
seguido pelos índios e mais tarde corrente nas frotas de penetração de Mato
Grosso. O numero elevado de remadores do governador espanhol seria aproveitado
simultaneamente, ou incluiria as reservas de braços para turnos alternados de
trabalho? Se, realmente cinco dezenas de homens impulsionavam, ao mesmo tempo a
enorme embarcação, teria sido uma inovação de origem européia, pois bem diverso
era o processo então adotado...
Nem todas as
canoas postas a flutuar no Tietê tiveram as dimensões registradas por Dom Luiz
de Céspedes Xeria. O tamanho variava, sendo usual o de doze e treze metros de
comprimento por um e meio de boca, dependendo do porte das árvores existentes
nas matas próximas ás oficinas de construção. Na região amazônica, pela mesma
época das monções paulistas, as embarcações eram, embora feitas como visto pelo
mesmo sistema, bem mais avantajadas proporções. No começo do século XIX,
Martins testemunhou, ali a existência de ubás cuja capacidade de carga atingia
duas a três mil arrobas, além da equipagem de vinte homens - dimensões jamais
atingidas pelas embarcações que trafegavam pelo Tietê, mesmo no auge do
comércio fluvial com as minas cuiabanas, havia a considerar, além do menor
corpo das arvores das matas do Tietê, a necessidade de atender aos empecilhos
da navegação desse rio e o pouco volume de água nos rios que davam acesso á
região aurifera, tais o Sanguessuga e o Camapuã.
1 - Segundo Teotônio Juzarte
Teotônio José
Juzarte em sua linguagem chã de homem acostumado mais á espada que a pena de
pato, minudenciou a descrição da esquadra de 26 canoas, com que rodou, de
Araritaguaba, a 13 de abril de 1.769, em socorro dos miseráveis povoadores do
Iguatemi. Vale transcrever essa página que é sem dúvida o mais fiel relato de
como então se navegava pelo Tietê.
"Chamam-
se estas embarcações vulgarmente canoas, são feitas de um só pau, têm de
comprimento cinquenta até sessenta palmos, e de boca cinco até sete; são agudas
para a proa e popa: são á maneira de uma lançadeira de tecelão. não tem quilha,
nem leme, nem navegação á vela. A grossura do casco não excede na borda, a duas
polegadas. Custam estes cascos, sem mais preparo algum, setenta até oitenta mil
réis, e mais fornece cada uma de oito homens, oito remos, quatro varas, uma
cumieira ( coberta de lona ), pólvora, bala, machados, foices, enxadas e armas
de fogo. A saber, um piloto que piloteia no bico da popa em pé continuamente.
Um proeiro na mesma forma no bico da arma cinco ou seis remo do piloto é maior
que os outros porque com ele governa a canoa. O dos proeiros é menor que os dos
remeiros porque com ele desvia a lança dos perigos que se lhe oferecem pela
proa. Os remos dos remeiros são todos iguais; as varas que tem suas juntas de
ferro servem somente para subir os rios que nesse caso não se usa de remos; a
coberta de lona só serve para cobrir a carga da canoa quando chove. Navegam
estas embarcações sempre a céu descoberto, e a gente ao rigor do tempo.
Carregam de sorte que só lhes fica fora da água pela sua borda um palmo pouco
mais, tem estas embarcações dois espaços vazios nas suas duas extremidades da
popa e da proa, que tem cada um de comprimento dez até doze palmos em os quais
se não mete carga. Porque o espaço da extremidade da proa ocupam os cincos ou
seis remeiros, e o proeiro vai adiante em pé no bico da canoa: o outro espaço
da popa, o do piloto governando sua canoa nesse espaço da popa se costuma armar
uma barraca ( quem pode fazer essa despesa ) que não acomoda mais que duas
pessoas com incômodo, cuja se faz de baeta vermelha forrada de liage, e fica á
imitação de toldo de um escaler; mais isto só serve para algum bom caminho
porque ás mais das vezes se não pode navegar com a da barraca, e tudo mais a
céu descoberto, sentados por cima das cargas que enchem a canoa por todo seu
comprimento, livres as duas extremidades. Nestas duas extremidades livres o
vazio que acomoda a carga, há duas travessas que seguram a borda da canoa, uma
avante e outra á ré; cada uma tem o seu furo no meio, por onde se enfiam
perpendicularmente duas foquilhas que excedem acima dessas travessas dois
palmos; em cima destas forquilhas se atravessa uma vara, a que chamam cumieira
sobre esta cumieira se poem de palmo a palmo, umas varinhas á maneira de pernas
das de um telhado e cujas extremidades botam fora da borda da canoa. Isto feito
o que se executa depressa se cobre com a coberta de lona que vai pronta para
isso, e fica a canoa coberta das chuvas, á maneira de um telhado, ou tumba que
pouca ou nenhuma água lhe cai dentro; e isto se faz durante as tempestades de
chuva, ou quando se passam ondas grandes que, saltando por cima de uma parte
para a outra, escoam as águas pela lona para fora. Exceto os espaços ditos que
não se cobrem e a água que lhes cai dentro se esgota"...
2 - Segundo o viajante sueco Gustavo Beyer
Em 1.813 de passagem por Araritaguaba Gustavo Beyer,
viajante sueco, teve ensejo de ver a frota que se apresentara, por ordem do
Conde de Linhares, abandonada sob um galpão desde a morte do operoso ministro,
acontecimento que frustava a expedição. O escandinavo assim descreveu as embarcações:
"Em cada canoa cabem oitenta homens com armas e tudo necessário, menos
água e todas são feitas da preciosa peroba, de cujo tamanho se pode fazer idéia
sabendo que uma canoa destas é feita de um só tronco”.
3 - Segundo Hércules Florence
Treze anos
depois, segundo o testemunho de Hércules Florence, pouco se haviam alterado o
feitio e as dimensões dessas embarcações:
"Tinham
( as canoas ) 5 pés de largo, sobre 50 de
comprimento e 3 1/2 de profundidade, feitas de um só tronco de árvore e
trabalhado por fora, de fundo chato e com pouca curva. Esse fundo era de 2 1/2
polegadas de espessura, a qual ia diminuindo até a borda, onde não tinha mais
de uma polegada. Uma larga faixa de madeira, pregado solidamente, guarnecia as
duas bordas, e bancos deixados no interior da canoa aumentavam-lhe a solidez,
além de 2 grandes travessas, que concorriam para o mesmo fim. Essas embarcações
assim construídas, são muito pesadas entretanto, ainda que fortes, não podem
comumente resistir ao choque nos baixios, quando impelidas pela rapidez das
águas."
4 - Segundo Aires Casal
Eram estas as
grandes canoas descritas por Aires de Casal em sua "Corografia
Brasílica" (1.817) "de oitenta palmos de comprimento, sete e meio de
largura, e cinco de alto, em que se navega para o Cuiabá, e carregam 400
arrobas, afora o mantimento necessário para 8 homens de tripulação, e ás vezes
passageiros."
5 - Segundo o governador Rodrigo Cesar de Menezes
Dom Rodrigo
César de Menezes, em 1.724, referiu que as embarcações empregadas no transito
para Cuiabá apenas comportavam cinquenta a sessenta arrobas, incluindo-se nesse
limite o peso dos tripulantes; o mesmo viajante, todavia, queixando-se das
perdas sofridas na descida dos rios, afirmou que suas canoas haviam
transportado dez homens, em média para cada uma, o que com a mercadoria,
perfaria peso muito superior ao mencionado.
6 - Segundo Cândido Xavier de Almeida e Souza
Em 1.786,
segundo Cândido Xavier de Almeida e Souza, cada canoão admitia dez homens, além
dos encarregados da navegação, oito ao todo, a saber piloto, contra-piloto,
proeiro e cinco remadores. Antes, em 1.757 na frota do Conde de Azambuja, o
numero de passageiros havia sido de vinte, sem contar a gente de mareação. Tais
divergências se explicam pela falta de
madeiras que permitissem a construção de cascos de tamanho uniforme, sabido que
o interesse das autoridades era o de obter a maior lotação possível, dado que
as dificuldades da navegação não diminuiam sensivelmente com a redução da tara
dos barcos nos maus passos dos rios, tanto os grandes como os pequenos tinham
de ser arrastados pelos varadouros. Poupava-se também o pessoal de mareagem que
não era abundante.
Conclusão
Como visto, as canoas paulistas não diferiam muito das
pirogas: faltavam-lhes carona, leme e velas e eram impelidas, como aquelas por
homens que se conservavam com pé na proa. Já havia, entretanto, maior
acomodação interna, varejões ferrados, cumieiras com toldos de lona
desmontáveis para abrigo da carga, bem como bordas reforçadas e cintas de
resistência para o cavername, até aparelho de ancoragem de feitio alongado e
estreito, com as extremidades agudas, essas embarcações mantinham a proporção
de um para dez, aproximadamente, entre a maior largura e o comprimento total.
Apesar do espaço ocupado pelas obras mortas ( bancos, travessões, forquilhas
para a cumieira ) tinham boa capacidade de lotação, utilizada no limite de
flutuação, para aproveitamento máximo do custo dos cascos e das viagens de
longo percurso. Quatrocentas arrobas de carga, afora o mantimento, eram
acomodadas nessas canoas, sempre que possivel, em fundos cilíndricos, para
ganho de espaço. Admite Buarque de Holanda, entretanto que isso só passou a
verificar-se em fins do século XVIII e começo do seguinte, quando já
escasseavam as árvores de grande porte; antes as dimensões das canoas deveriam
ter sido maiores, facultando bem maior capacidade de transporte.
Havia, na
construção das canoas, preferência por certas madeiras que bem resistiam á
umidade. Nas margens do Tietê, as
essências mais usadas eram a peroba, o ximbó e o tamboril. A devastação
das matas marginais foi, porém acentuando a falta de troncos adequados e
consequentemente, encarecendo a construção. Tempo veio em que as canoas já não
podiam ser construídos á beira-rio: em plena mata eram as árvores abatidas e
ali mesmo desgalhadas, alquejadas e escavadas, havendo que arrastar as
embarcações prontas para a água...
(*) Rio Tietê – Mello Nobrega
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