segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Engenho D'Água



Engenho D'Água (*)

A sede da Fazenda Engenho D'Água foi construída em 1.858, quando era seu proprietário Antônio Paula Leite de Barros. A denominação da fazenda se deve à existência, naquela altura, de um pequeno engenho tocado à água. O proprietário era um grande plantador de cana-de-açúcar e seu filho, Antônio Paula Leite Filho, foi um dos acionistas da Companhia Açucareira de Porto Feliz, empresa que em 1.878 colocou em funcionamento o Engenho Central de Porto Feliz.
O casarão de grandes dimensões apresenta um pavimento inferior, que acompanha toda a extensão da construção. Esse pavimento inferior, com piso de terra batida, era usado como depósito de mantimentos, ferramentas, utensílios agrícolas e arreios. A parte superior, com assoalho de madeira, era o espaço da moradia isolada. Uma grande sala central de entrada, a chamada "sala da frente"; própria das casas do tempo do açúcar dava acesso aos dormitórios e locais de serviço doméstico, incluindo a cozinha. Uma parcela das atividades de preparação dos alimentos era realizada fora da casa, em um puxado pegado a casa e munido de fogão e forno e aparelhagem para o fabrico de farinha do milho ou da mandioca. Nos locais de serviço doméstico se fazia o queijo e se guardava os gêneros. A cozinha era uma vasta dependência, provida de fogões, grandes mesas, pilões, potes de água, tachos de cobre. No centro da planta, as alcovas. Antigamente denominadas "camarinhas"; as alcovas foram aperfeiçoadas e profusamente adotadas do século 18 em diante, principalmente nas casas urbanas. Mas, verdadeiro contra-senso,  foram adotadas na roça, onde não havia problemas de espaço. A tradição identifica as alcovas como o lugar ideal de dormir, onde o recato e a segurança se aliavam salvaguardando a intimidade. Eram cubículos estanques sem ar e luz diretos, onde as lamparinas dos oratórios e candeias a óleo de algodão se encarregavam de aquecer e viciar a atmosfera enclausurada, como afirmou o arquiteto Carlos Lemos em estudo sobre a arquitetura tradicional paulista.
Olhando do lado externo, o casarão apresenta fachadas simétricas, com todas as janelas e portas alinhadas. A fachada principal apresenta três janelas de um lado e quatro do outro, e uma ornamentação simples, de forma a permitir diferencia-la das demais fachadas. A escada de acesso ao pavimento superior sobe paralela à sua fachada principal, levando a uma porta de entrada no meio da construção.
Com o passar do tempo o casarão sofreu diversas intervenções, que modificaram a distribuição e o uso dos cômodos internos. A senzala, próxima da construção principal, cedeu espaço às pequenas casas de colonos. As "casinhas"; privadas masculina e feminina que não tinham sistema de esgoto, e o primitivo moinho, o "engenho d'água"; desapareceram.
Durante algum tempo a fazenda Engenho  Dágua   forneceu cana ao Engenho Central. Em 1907 foi criada a Société de Sucrèries Bresilienses, com sede em Paris, que adquiriu o antigo Engenho Central e o transformou em moderna usina de açúcar. Em seguida, a S.S.B. começou a comprar as fazendas da região, comprando inclusive a Fazenda Engenho D'Água e construindo a sede da Capoava.  Atualmente, a velha sede da Engenho D’Agua, exemplar típico da arquitetura do açúcar na bacia do rio Tietê, pertence à União São Paulo. Trata-se de construção que merece ser preservada por seu valor arquitetônico (um dos poucos exemplares remanescentes da arquitetura do açúcar em nossa região) e histórico (testemunho arquitetônico de um período da formação social, cultural e econômica de Porto Feliz). Além disso, é um referencial simbólico da cidade do mais alto significado.Quem em Porto Feliz não se vale do Engenho D'Água como ponto de referência (de orientação geográfica, de recordação sentimental, de "estilo de casa" de indicação de local de trabalho etc. ).

(*)Jonas Soares de Souza - - Professor Jonas Soares de Souza é historiador do Museu Paulista da USP.

2 comentários:

  1. EXCELENTE MATERIA,,, ESTAVA FAZENDO UMA PESQUISAS DOS ANTEPASSADOS QUE VIERAM DA ESPANHA, E CONSEGUI A INFORMAÇÃO DE QUE ELES FORAM LEVADOS DO PORTO DE SANTOS A ESTA FAZENDA ,
    OBRIGADO PELAS INFORMACOES

    ResponderExcluir
  2. Meu avô paterno, Lupércio de Paula Leite Sampaio nasceu na fazenda.

    ResponderExcluir