Porto Feliz.... sua economia em 1790
Em 1.797 a antiga freguezia de Nossa Senhora Mãe dos Homens
de Araritaguaba foi elevada à vila, passando então a chamar-se Pôrto Feliz.
Fazendo divisa com Itu, suas terras eram férteis e excelentes para o cultivo da
cana.
O levantamento de 1.798 acusa uma população de 3.337
habitantes divididos, em 3 Companhias de 515 fogos (casas). A escravaria era
numerosa constituindo 1/3 da população: 1241 cativos. Dêstes, 1.040 trabalhavam
na lavoura de cana, computando-se a escravaria dos engenhos e dos partidos.
A produção dêsse ano foi grande: 27.665 arrôbas, superior de
muito à de Campinas e só ultrapassada por Itu. Nota-se em Porto Feliz grande
número de partidos: 43 ao todo, mas, a sua produção sempre foi diminuta comparada
à dos engenhos. Os 43 partidistas produziram 4.473 arrôbas de açúcar, o que
daria em média 104 arrôbas para cada um. A maior produção não foi além de 2.001
arrôbas. A escravaria também era diminuta. Havia mesmo aqueles que lavravam a
terra sem o auxílio de escravos como Gonçalo Nunes Siqueira, solteiro, que
produziu 75 arrôbas somente com agregados.
O censo de 1.798 faz uma distinção curiosa entre os
agricultores de cana. Além dos senhores de engenho e do
"partidistas", relaciona lavradores que faziam quartéis de cana,
vendidos anualmente a um engenho.
Porto Feliz possuía então 51 engenhos movimentado por 806
escravos. Algumas fábricas tinham boa produção, na 1a. Cia., do capitão-môr
Francisco Correa de Moraes Leite, 7 engenhos produziram além de 1.000 arrôbas.
De modo geral, entretanto, a produção por engenho ainda não era apreciável,
regulando em média aproximadamente, 450 arrôbas.
A população do lugar aumentava rapidamente. Em 1.801 havia
5.205 habitantes. Crescera também o número de escravos: de 1.241 cativos que
havia em 1.798, passou a vila a contar com 1.985. Encontramos 62 engenhos, além
de 4 em Piracicaba, sujeita então a Porto Feliz. Enquanto crescia o número de
engenhos, o de partidos diminuía de 40 para 30 e a produção total da área
chegou a 32.871 arrôbas. Ainda nessa época, a cidade estava à frente de
Campinas na produção açucareira.
A grande maioria dos fabricantes era proveniente da própria
região e adjacências: dos 62 engenhos arrolados, 31 eram de agricultores da
própria vila de Porto Feliz e 15 de Itu. Os restantes eram de gente de Cuiabá,
Santos, Goiás, Parnaíba e Sorocaba.
Algumas fábricas funcionavam em sociedade. Vicente da Silva
Bueno, natural de Goiás, comprou uma fábrica em sociedade com Manuel de Sampaio
que a administrava. Cada um tinha seus próprios escravos, além daqueles que
pertenciam à sociedade e que eram em número de vinte e dois. Olavo José da
Silva ganhava 100$000 anualmente para administrar o engenho de Francisco
Barbosa. A produção de açúcar demandava zêlo: João de Oliveira Freire de
Andrade tinha seu engenho desbaratado por andar ausente.
Há um momento em que Porto Feliz, embora continuamente
próspera, tem a sua produção alcançada e superada por Campinas. No ano de
1.815, esta última já produzia 72.000 arrôbas de açúcar, enquanto a antiga
Araritaguaba acusava 32.424. Havia 66 engenhos e mais 15 em Piracicaba, além de
18 partidistas. Em 10 anos, o número de escravos aumentara apreciavelmente de
1.985 para 2.752; destes, 1.630 (sem incluir Piracicaba) eram empregados na
lavoura de cana.
A cultura canavieira era o denominador comum da região: em
372 agricultores, 84 dedicavam-se à cana de açúcar. Porto Feliz apresentava
grandes perspectivas e atraía gente pois o censo de 1.815 relaciona muitos
moradores novos e outros "armando-se para fazer assucar para o anno que
vem", como José de Arruda Leite, que viera de Sorocaba.
Ao findar o período colonial, a antiga freguezia de
Araritaguaba, juntamente com Itu e Campinas, movia os cordéis da produção
açucareira na Capitania. Em 1.822 a sua produção era de 98.253 arrôbas,
emparelhando com Itu e somente ultrapassada por Campinas. Era zona da mais
povoadas, com escravaria apenas ligeiramente inferior à de Campinas e Itu.
Tinha então 7.576 moradores, dos quais 3.227 eram escravos. Sua
lavoura canavieira como a das demais áreas citadas era quase totalmente de
exportação, escoando-se através de Santos. Abrangia 86 engenhos trabalhados por
1.937 escravos. Nessa época, a freguezia de S. S. Trindade de Pirapora,
pertencente à vila, tinha 19 engenhos com 521 cativos que produziam 20.576
arrôbas de açúcar.
Aparecem no censo de 1.822 alguns "negociantes de
negros novos" como Simão de Souza e José Manuel de Arruda, que, além
disso, também eram senhores de engenho.
O rendimento médio por fábrica também crescera:
aproximadamente 870 arrôbas. Já então havia um número razoável de
"engenheiros" que tinham produção significativa: 38 senhores
produziam mais de 1.000 arrôbas e um deles nada menos que 2.700. Contudo,
Campinas detinha a primazia no tocante às grandes produções individuais.
É lícito afirmar que na época da emancipação (1.797), Porto
Feliz estava no vigor de sua expansão canavieira, pois algumas décadas mais
tarde, a região decaíra, tendo apenas 38 engenhos que produziam 46.310 arrôbas.
Contudo, na época que nos interessa era, juntamente com Itu
e Campinas, a zona por excelência do cultivo da cana, fornecendo a base
econômica da Capitania de São Paulo.
(*) Algumas notas sobre a lavoura do açúcar em São Paulo no
período colonial.
Suely Robles Reis de Queiros Anais do Museu Paulista Tomo
XXI págs. 254, 255, 256 e 257
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