Porto Feliz : antiguidade do porto de Araritaguaba
“Posto
que date de 1.720 a ereção da Capela de Nossa Senhora da Penha, à margem
esquerda do rio Tietê, no local denominado Araritaguaba, capela erguida pela
piedade e devoção de Antonio Aranha Sardinha e Antonio Cardoso Pimentel, antes
dessa data era já, o porto de Araritaguaba, conhecido e aproveitado pelos
valorosos sertanistas paulistas em suas viagens pelo sertão brasileiro.
Em
1.628, ao fazer Dom Luiz de Céspedes Xeria, nomeado capitão-general do
Paraguai, a sua viagem do Rio de Janeiro à Ciudad Real de Guairá ( no Paraguai
), foi daí, dessas barrancas de Araritaguaba que ele iniciou a sua viagem
fluvial; e isto afirmamos tendo à vista o seu mapa ou roteiro, o local que nele
coloca o seu ponto de partida no rio Tietê, considerando para tal afirmativa o
ponto em que marca esse porto e os rios e ribeirões assinalados nas proximidades
aquém e além desse local.
Mais
de um mês ficou Dom Céspedes Xeria nesse porto, ao qual dera o nome de Nossa
Senhora de Atocha, levando todo esse tempo em construir canoas e em outros
preparativos necessários para a sua longa viagem...
O
fato de ir Dom Luiz de Céspedes a procura desse porto para a sua viagem ao
Paraguai, nos induz a crer que essa rota era já conhecida e que em São Paulo de
Piratininga lhe fora indicada e isto nos leva a certeza que esse porto além de
conhecido era, também, aproveitado pelas primeiras expedições dos paulistas
que, por via fluvial, se internavam pelo sertão e das quais nos falam os
antigos cronistas...
Pelo
que acabamos de expor, vê-se que muito e muito antes do porto de Araritaguaba
se tornar célebre pelas grandes expedições monçõeiras, que dali partiram para a
conquista do Paraguai e das minas de Cuiabá, era já conhecido e aproveitado
desde o começo da era seiscentista, e, talvez, mesmo antes pelos sertanistas
paulistas. Também o porto de Pirapitingui, de que nos falam as antigas
crônicas, outro não era senão o de Araritaguaba; e se assim não fosse, não
iriam Aranha Sardinha e Cardoso Pimentel, havendo tanta terra nas proximidades
dos povoados, pedir suas sesmarias em lugar tão deserto e desconhecido.
Conta-nos
Moreira Pinto que Araritaguaba fora antiga aldeia de índios guayaná; pode ser,
pois pouco acima, às margens do mesmo rio, nas proximidades do lugar onde hoje
se ergue a cidade de Salto, existiu a aldeia de Paranaytu de índios dessa mesma
nação”. (1)
Caminhos de penetração da capitania de São Paulo
“Também,
em 1.629, o grande sertanista André Fernandes iria conduzir, sob sua guarda,
para o Paraguai, pelo mesmo porto de Araritaguaba, D. Vitória de Sá, senhora
fluminense e esposa de Céspedes Xeria. Também desceram, no século XVII, o rio
Tietê, Francisco Pedroso Xavier (para invadir e assolar, em 1.675 e 1.676,
reduções espanholas), Brás Mendes Pais, que se encontrava em Mato Grosso, em
1.682, com seu irmão Pedro Domingos Pais e Pedro Leme da Silva, o Torto; Manuel
de Frias Taveira, que fez uma incursão contra os índios do Itati, Gaspar de
Godói Colaço que devassou, em 1.698, a região da Vacaria de Mato Grosso, onde
já havia estado anteriormente, em 1.676, com Pedroso Xavier; Amaro Fernandes
Gauto, partícipante da expedição de Godói Colaço, de 1.698, também sobre
Vacaria de Mato Grosso e muitos outros que a história não conseguiu registrar.
Essas viagens do século XVII e das duas primeiras décadas
do século seguinte eram penosas e cheias de riscos e dificuldades. Os paulistas
embarcavam no rio Tietê, nas imediações de Itu ( Porto Feliz ), desciam o
Anhembi ( rio Tiete ) e depois o Paraná até as vizinhanças de Sete Quedas, onde
adentravam uns, rumo ao Sul, galgando a Serra do Maracaju para alcançarem o
Guairá; outros marchavam para Oeste, pelo vale do Apa ou Piraí, em busca do
Itati, ou, então, como terceira alternativa, tomavam direção NO para descerem,
desde suas cabeceiras, o Mbotetéu (ou Miranda).
Pelos
idos de 1.685, o sorocabano Paschoal Moreira Cabral Leme, o futuro descobridor
das “minas de Cuiabá”, instalou-se, com sua comitiva, à margem do Mbotetéu,
depois Miranda, no sul de Mato Grosso, onde os paulistas expandiram os seus
domínios pelos campos da Vacaria, margens do Iguatemy e terras da Serra do
Maracaju. Paschoal Moreira Cabral, numa dessas investidas contra os índios
acabou encontrando, casualmente, em 1.718, nas margens do Coxipó-Mirim, mostras
de ouro. Diante do promissor achado, os bandeirantes fizeram pesquisas
mineradoras, com o auxílio de João Antunes Maciel e outros, até serem atacados
pelos índios. Todavia, quando escasseavam as esperanças e toda a expedição
sofria o risco de extermínio, apareceu, inesperadamente, a bandeira salvadora
de Fernando Dias Falcão. Assim, como escreveu Capistrano de Abreu, ”Sem serem
procuradas apareceram as minas de Cuiabá (...) as notícias (...) levadas ao
povoado, agitaram a população e levianamente se lançou à terrível jornada que
começava no Tietê ( porto de Araritaguaba-Porto Feliz ) e prosseguia pelo
Paraná...”(2)
(1)
Francisco Nardy Filho - O Estado de São Paulo – 25 de outubro de 1.940, pg. 6
(Licença USP-SP em 1995)
(2)
Anais do Museu Paulista, tomo XXXI, 1.982, artigo Caminhos de Penetração da
Capitania de São Paulo, Paulo Pereira dos Reis,
páginas 304 e 306.
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