Porto Feliz história - subsídios...
Considerações Iniciais
Iconografia monçoeira: imagens e ideologia
As Monções foram expedições comerciais que se originaram no século
XVIII, como prolongamento das bandeiras paulistas, porém, possuem um caráter
distinto dessas, pois tinham como objetivo principal chegar ás minas de ouro de
Cuiabá e não à caça da mão de obra indígena e utilizavam os rios como via de
acesso.
O ponto de partida das expedições foi a cidade de Porto Feliz que foi
fundada em 1693, por Antônio Carlos Pimentel, com o nome de Araritaguaba. A
cidade obteve papel importante no empreendimento das citadas expedições,
principalmente, por ser o local mais próximo de São Paulo, com o melhor acesso
ao rio Tietê que, para Taunay seria "Tietê, instrumento máximo de penetração do
Brasil Sul Ocidental".
A nomenclatura Monção, seria uma derivação de uma palavra árabe que
significa “ventos propícios para a navegação”, difundido principalmente, entre os
marinheiros lusitanos durante os grandes descobrimentos marítimos no Oriente
(HOLANDA, 1957, 162). No Brasil, servia para designar as épocas propícias para
navegação de acordo com as cheias dos rios, principalmente, nos meses de maio
a junho.
O período das Monções teve início em 1718, com o descobrimento das
minas de ouro de Coxipó-Mirim, pelo sorocabano Pascoal Moreira Cabral, onde foi
encontrado ouro encravado nos barrancos e índios portando várias amostras do
metal. Porém, o principal motivo que teria levado Pascoal Moreira para as terras,
hoje de Mato Grosso, não seria a busca do reluzente metal, conforme difundido
ainda hoje, mas sim, o apresamento indígena. As das minas do Senhor Bom
Jesus do Cuiabá seriam descobertas quatro anos mais tarde, pelo também,
sorocabano Miguel Sutil.
Desta forma, pode-se concluir, que o desenvolvimento de uma rota de
comércio que ligava Porto Feliz às minas de Cuiabá, foi conseqüência do
movimento das bandeiras paulistas, constituindo-se como um prolongamento
dessas. Entretanto, diferenciava-se das demais, tanto por ser uma via fluvial que
se utilizava o rio Tietê, e por ter como principal objetivo, o comércio e a busca do
ouro e não mais o “gentio da terra”. Antes de inaugurada a era das Monções, os
rios eram tomados como obstáculos naturais e de difícil uso, o emprego de canoas
não passava de um recurso subsidiário para o desenvolvimento das viagens.
O percurso empreendido até Cuiabá era de aproximadamente 3.500 km de
difícil navegação e passava pelos rios: Tietê, Paraná, Pardo, Camapuã, Coxim,
Taquari, Paraguai, Porrudos e o Cuiabá. Durante o percurso, ultrapassava-se
cento e treze saltos, entre cachoeiras e corredeiras, sendo o rio Coxim o de mais
difícil navegação. Tais incursões levavam pelo menos cinco meses, partindo nas
épocas certas de março a junho. Além do longo percurso e das dificuldades
geográficas, os monçoeiros enfrentavam a resistência dos índios, epidemias,
insetos dos mais variados tipos, e animais. Um caminho que ficou conhecido como
um dos maiores flagelos que se tem notícia para se chegar até as minas
cuiabanas.
A decadência das Monções, ocorreu durante o século XIX; a última
expedição realizada ocorreu em 1838. Nesse mesmo ano, uma epidemia de febre
tifóide deixaria poucos sobreviventes entre os mareantes e pilotos que ainda
restavam em Porto Feliz.
O porto de Araritaguaba, antiga aldeia guayaná, recebeu o nome de Porto
Feliz, em treze de outubro de 1797, quando a freguesia é elevada à categoria de
vila pelo capitão-general governador Antônio Manuel de Melo Castro e Mendonça.
Em dezesseis de abril de 1858, alcançaria o status de cidade.
As imagens monçoeiras foram produzidas, sobretudo, em 1826, com a
expedição científica russa comanda pelo cônsul barão Georg Heirich von
Langsdorff, feita pelos desenhistas que acompanhavam, Hercules Florence e
Adrian Taunay, realizadas entre 1822 e 1829, ou seja, no declínio do período das
Monções, logo após a proclamação da Independência Brasileira.
A relação entre imagem e ideologia, se apresentará logo após a
proclamação da República em 1889, quando São Paulo alcança status político e
econômico, produzido pela riqueza do café, ocorre um processo de construção
ideológica para justificar esse desenvolvimento perante o restante do país, com
isso uma vasta produção iconográfica vai ser empreendida e utilizada, tendo como
fulcro principal o bandeirantismo paulista.
Uma produção iconográfica latente vai ser construída por parte do poder
público paulista e por historiadores locais, utilizando para isso o valor pedagógico
que a imagem proporciona, abarcando uma construção ufanista impetrada por
estes ideólogos em São Paulo, tanto na capital como no interior do estado. Desse
modo, existiria uma lacuna a ser explorada, que seria analisar como a iconografia
monçoeira se insere nesta propagação ideológica paulista nas primeiras décadas
do século XX.
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Trecho - Introdução(..trecho) da Tese do porto-felicense Rodolfo Jacob Hessel (PUC) Iconografia monçoeira: imagens e ideologia
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