sábado, 7 de maio de 2016

Monção 

Araritaguaba, Porto Feliz Terra das Monções


Monção é palavra de origem árabe (mauasin, estação do ano em que se dá
determinado fato). Essa designação foi aplicada aos ventos característicos do
sudeste asiático, onde os portugueses, à custa de seu império marítimo, devem tê-la tomado. De vento apropriado a uma navegação, figurativamente acabou por designar a oportunidade da empreitada em si e, no caso brasileiro, a própria
empreitada. A conveniência da palavra provavelmente se ajustava à convicção de que determinado período do ano, entre o final de março e o início de junho, com pequenas discrepâncias de um para outro viajante, era o mais adequado à partida de uma expedição de Araritaguaba, valendo-se do nível das águas ao longo dos rios, que facilitaria a jornada.
Com a abertura das minas em Cuiabá firmou-se a navegação fluvial a partir de
Araritaguaba e abriu-se o período das grandes monções propriamente dito. Por
cerca de um século, ou seja, da década de 1720 à de 1820, zarparam do tosco
atracadouro expedições que, entre si, podiam se diferenciar quanto ao porte: de
meia dúzia de embarcações temerariamente agrupadas até as 100 canoas da
comitiva do ouvidor-geral Dr. José Gonçalves Pereira, em 1735. Ou mais ainda,
como as 308 canoas que conduziram o capitão-general de São Paulo, Rodrigo
César de Menezes e mais 3.000 acompanhantes, em 1726. Expedições que
também se diferenciavam quanto ao objetivo principal que as movia. Algumas eram oficiais, chamadas reiúnas, e se destinavam à condução de autoridades designadas pela Coroa ou ao transporte de tropas de linha e apetrechos de guerra para a nova província mineral, além do escoamento dos impostos reais. Outras, a maioria delas, estabelecia simplesmente a ligação vital entre dois pontos distintos da colônia e se destinavam ao inevitável trânsito de pessoas – mineradores, artesãos, comerciantes, clérigos, mulheres -, de gêneros que as minas não produziam e manufaturados. E outras, ainda, a partir da década de 1760, destinavam-se a suprir de homens e armas a colônia militar do Iguatemi, a mal sucedida fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, estabelecida pelo governador da capitania de São Paulo, o Morgado de Mateus, no sul do Mato Grosso.
Qualquer que fosse a natureza de cada expedição ou o seu tamanho, todas
elas se igualavam num ponto: a rota penosa a ser cumprida, que obedecia à
seqüência dos rios Tietê, Paraná, Pardo, Camapuã, Coxim, Taquari, Paraguai,
Porrudos e Cuiabá. Um total de 531 léguas, ou 3.504 quilômetros, de Porto Feliz a Cuiabá.10 Listam-se aí rios de duas bacias hidrográficas, a do Paraná e a do
Paraguai e a ligação entre estas era feita no único trecho percorrido em terra: os 14 quilômetros do varadouro de Camapuã, onde se fazia necessário arrastar as
embarcações e sua carga, por força de juntas de bois ou de braço humano, até o retorno às novas águas, já rumando para os domínios pantaneiros.

Trecho do Plano Ambiental de Porto Feliz de 2008

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